Também me disse, que com ele tinha aprendido ofício, José Sabino de Assis, que mais tarde veio a ser um próspero comerciante, estabelecido junto à torre da Igreja Matriz da vila, com loja de ferragens e drogarias, estabelecimento que ainda existe na posse da família. José Amaro, quando aprendiz do tio; Manuel Amaro, foi um protagonista real, na oficina deste, onde também entrou um lobo, que em pequeno tinha sido apanhado pelo Ferreiro, em dia de caça, nos arredores da vila, pois naquele tempo ainda abundavam algumas alcateias, no que ainda restava da Coutada Real e, que estava a ser criado como um cão. Ao acontecimento, descreveu-o muitos anos depois, sob a forma literária, a que deu o título o “Ultimo dia do Lobo em Salvaterra” (*)
(*) – Edição: Editorial Organizações/Lisboa
(**) – JVT Nºs 157 de 17.12.1998 – Nº 158 de 7.1.1999 – Nº 159 de 21.1.1999 - Nº 160 de 4.2.1999 e Nº 161 de 18.2.1999 (incompleto) (***) – incluída no Livro Nº15 da Colecção “Recordar, Também é Reconstruir!!”do Autor
JOSE GAMEIRO
Antes de visitar o museu (em criação), na Igreja Matriz, voltei a reler o meu espólio documental e fotográfico, que venho acumulando já há mais de 50 anos.
A Igreja, é um templo que data da fundação da povoação (1296) e, foi arrolado no inventário da devolução à paróquia de Salvaterra de Magos, através da Portaria 4.978 de 2 de Agosto de 1927, depois de muito tempo em poder do estado, por via da confiscação feita, por força do decreto-lei de 20 de Abril de 1911, quando da implantação da república em Portugal, em Outubro de 1910
Tal devolução foi concretizada em 22 de Janeiro de 1928, depois de várias reuniões entre a Junta de Freguesia de S. Paulo de Salvaterra de Magos e Corporação Fabriqueira Paroquial de S. Paulo, de Salvaterra de Magos
No inventário, das muitas imagens da antiga capela real, está descrito a de Nossa Senhora da Piedade, principal evocação do templo e, um painel (quadro), onde é descrito o milagre da Horta, ocorrido por volta de 1746 e, um outro com o Milagre em Benavente.
O edifício, confronta ao Nascente, com edifício, hoje na posse de João Roberto da Fonseca; ao Poente com edifício, hoje na posse de António Henriques de Sousa Antunes; Norte com rua da Capela e Sul com a antiga horta d`el rei, hoje na posse de António José Ferreira da Silva
Agora nos nossos dias, mesmo com o prestígio que ainda goza no âmbito da arquitectura nacional, aquele templo mostra-nos um espaço vazio sem vida, sendo usado para os serviços municipais, mesmo sendo catalogado, como monumento de interesse público.
Quanto à capela da misericórdia, descrita como prédio urbano, composto de uma nave e oito divisões, com superfície coberta de
Nesta capela, tem guarida a imagem de Nossa Senhora da Conceição, à qual a população ainda lhe venera grande devoção, pois todos os anos promove uma procissão, que percorre algumas ruas da vila, no dia 8 de Dezembro. Neste templo também existe em local apropriado a grande imagem do senhor morto, que em tempos saia, quando das festas que se realizavam pela Páscoa. Os quadros, retábulos, que tapavam o seu tecto, desde 1979, ano da grande cheia e tempestade, que destruiu grande parte do edifício, deixaram de ser vistos, e ao que se sabe, estão a aguardar trabalhos de recuperação devido aos estragos sofridos (1).
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(1) – Jornal Vale do Tejo de 4.2.1999
O edifício principal da vila, a sua igreja matriz; Prédio urbano que se compõe de uma nave e vinte e duas divisões, algumas destas ocupadas pela residência do Pároco.
Tem torre com relógio e uma superfície coberta de
Na minha visita à igreja matriz, pode apreciar dentro do templo, a existência de uma pequena capela, onde está depositado a imagem do “senhor morto”, bem como próximo do altar, dois pequenos frontões, que albergam; lado direito: Sagrado Coração de Jesus, lado esquerdo: Imaculado Coração de Maria/ou Nª Sª de Fátima.
O tecto da nave principal, é de uma beleza extraordinária, com uma grande pintura de S.Paulo, rodeado de anjos, esta tendo uma boa sonorização, ali nos últimos anos têm cantado alguns coros, em espectáculos especiais, acompanhados do seu órgão de tubos, do séc. XIV, recentemente recuperado. A sua torre, com azulejos de cor azul, são recentes (1983), substituíram outros da mesma cor, ali colocados no séc. XVII, e do seu primeiro relógio, com numeração árabe, que substituiu um outro de numeração romana, ali instalado, quando do sismo de 1585.
Na casa paroquial de Salvaterra, contactei o padre José Carlos, responsável por uma pequena sala no edifício da igreja matriz, onde aí podem ser apreciados alguns ícones da religião católica apostólica e romana.
No museu (em formação) estão, catalogadas cerca de 100 peças: imagens, quadros, livros e objectos litúrgicos, alguns pertencentes à antiga capela real, como: Imagem de Nossa Senhora da Piedade; Quadro do Milagre da Horta D`el Rei e, um outro do Milagre
Por ser um documento raro, que trata do património da freguesia de Salvaterra de Magos, no campo da arte sacra, aqui o transcrevo:
“ DOIS CRISTOS DE MARFIM DA IGREJA PAROQUIAL
“As duas imagens que se apresentam correspondem às fotografias das fiig.1 e 2, e deste modo passarão a ser designadas por uma questão de facilidade de exposição.
A arte Indo-Potuguesa
Os marfins que aqui nos interessa abordar, identificam-se pelas suas características estitlisticas com a produção Indo-Portuguesa. Isto é, trata-se de peças elaboradas por artistas ou artífices asiáticos, em oficinas da Costa Ocidental Sul da Índia, mais exactamente na Costa do Malabar, zonas de Goa e Cochim.
Naturalmente que toda acção missionária patente nestas vivências, teve inevitáveis repercussões ao nível da produção de imagens e de toda a arte sacra. Nos locais que eram conquistados pelos portugueses criavam-se novas dioceses e Igrejas, motivando o desejo dos padres em dotarem os seus templos com todos os objectos que o culto requeria, numa altura em que as normas tridentinas e o fervor religioso fomentava o culto das imagens.
Esta prática era veiculada pelos desenhos, livros, gravuras, imagens, medalhas ou estampas incluídas em bíblias ou catecismos. Uma das mais curiosas características desta produção, encontra-se na omnipresença quase constante do cunho e valores artísticos locais.
Análise Descritiva
As duas esculturas representam Cristo crucificado morto, cabeça descaída sobre o seu lado direito, olhos fechados e chaga aberta no peito. Estas características diferem de uma outra variante iconográfica, normalmente apelidada de “expirante” (1), em que o crucificado surge invariavelmente com “(….) a cabeça erguida (…..) e olhos levantados ao céu (….)” (2).
O rosto docemente sereno na imagem da fig.1, adquiriu na fig. 2 uma expressão mais dramática e patética. Atente-se na imagem da fig.1,
Na fig.2, Cristo surge representado com o corpo vertical e a cabeça com ligeira flexão para a frente. Nas duas imagens os corpos acusam tratamento muito naturalista, percebendo-se a constituição óssea, a tenção gerada nos músculos, veias e tendões.
Os pés, unidos na mesma massa de marfim e a perna direita cruzada sobre a esquerda. Braços e pernas bem esculpidos e nos dedos os artistas mostraram alguma delicadeza ao diferenciar as unhas e separar os dedos, sem contudo esboçar as falanges. Mãos e pés estão pregados nas cruzes com cravos balaustriformes.
JOSE GAMEIRO
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