Sábado, 15 de Setembro de 2007

QUANDO HAVIA LOBOS EM SALVATERRA !

 No ano de 1972, estava um dia bonito de Primavera, ao cair da tarde, um bater três vezes na porta de minha casa, levou-me a entreabri-la.   Um senhor, de idade avançada,bem posto de vestuário, apresentou-se e, aí entabulámos um pequeno diálogo acompanhado de um apertar de mãos.    Era o escritor, José Amaro (José Amaro D`Almeida) natural de Almeirim, mas quando criança, depois da idade escolar, veio até Salvaterra, aprender o ofício de Ferreiro, com seu tio Manuel Amaro que, tinha oficina de ferreiro (junto à capela real).   Na visita que me fez, ofereceu-me o livro “Contos do Ribatejo”, com uma dedicatória, pedindo-me a sua divulgação, nos jornais em que eu,na altura colaborava.

 

Também me disse, que com ele tinha aprendido  ofício, José Sabino   de   Assis, que  mais tarde veio a ser um próspero comerciante, estabelecido junto à torre da Igreja Matriz da vila, com loja de ferragens e drogarias, estabelecimento que ainda existe na posse da família. José Amaro, quando aprendiz do tio; Manuel Amaro, foi um protagonista real, na oficina deste, onde também entrou um lobo, que em pequeno tinha sido apanhado pelo Ferreiro, em dia de caça, nos arredores da vila, pois naquele tempo ainda abundavam algumas alcateias, no que ainda restava da Coutada Real e, que estava a ser criado como um cão.  Ao acontecimento, descreveu-o muitos anos depois, sob a forma literária, a que deu o título o “Ultimo dia do Lobo em Salvaterra” (*)

 

 Nota: texto, publicado no jornal “Vida Ribatejana”: Nºs 2738,2739 e 2740 – Dezembro de 1971, pelo autor * Muitos anos depois, fiz uso dele no já desaparecido “Jornal Vale do Tejo”, que tinha sede nesta vila (**), acompanhado de fotos que, obtive dos locais identificados no conto.(***)

 (*) – Edição: Editorial Organizações/Lisboa

 (**) – JVT Nºs 157 de 17.12.1998 – Nº 158 de 7.1.1999 – Nº 159 de 21.1.1999 -  Nº 160 de 4.2.1999  e Nº 161 de 18.2.1999 (incompleto)   (***) – incluída no Livro Nº15  da Colecção “Recordar, Também é Reconstruir!!”do Autor

 

 

JOSE GAMEIRO

publicado por historiadesalvaterra às 16:31
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Segunda-feira, 10 de Setembro de 2007

A ARTE SACRA DA PARÓQUIA DE SALVATERRA DE MAGOS


 

                                         

      Antes de visitar o museu (em criação), na Igreja Matriz, voltei a reler o meu espólio documental e fotográfico, que venho acumulando já há mais de 50 anos.


 

 

  A Igreja, é um templo que data da fundação da povoação (1296) e, foi arrolado no inventário da devolução à paróquia de Salvaterra de Magos, através da Portaria 4.978 de 2 de Agosto de 1927, depois de muito tempo em poder do estado, por via da confiscação feita, por força do decreto-lei de 20 de Abril de 1911, quando da implantação da república em Portugal, em Outubro de 1910

 

  Tal devolução foi concretizada em 22 de Janeiro de 1928, depois de várias reuniões entre a Junta de Freguesia de S. Paulo de Salvaterra de Magos e Corporação Fabriqueira Paroquial de S. Paulo, de Salvaterra de Magos

    No inventário, das muitas imagens da antiga capela real, está descrito a de Nossa Senhora da Piedade, principal evocação do templo e, um painel (quadro), onde é descrito o milagre da Horta, ocorrido por volta de 1746 e, um outro com o Milagre em Benavente.

   A ex-capela real, quando da sua devolução à casa paroquial, foi descrita como: Prédio urbano de uma nave e sete divisões, com uma porção de terreno anexo, murado que, antigamente serviu de cemitério e tendo à frente  do edifício uma faixa de terreno com um gradeamento de ferro. * Superfície coberta: 285 m2, * A faixa de terreno com gradeamento: 91 m2 *  O terreno anexo murado, que serviu de cemitério:  840 m2.


 

 

       O edifício, confronta ao Nascente, com edifício, hoje na posse de João Roberto da Fonseca; ao Poente com edifício, hoje na posse de António Henriques de Sousa Antunes; Norte com rua da Capela e Sul com a antiga horta d`el rei, hoje na posse de António José Ferreira da Silva

    Agora nos nossos dias, mesmo com o prestígio que ainda goza no âmbito da arquitectura nacional, aquele templo mostra-nos um espaço vazio sem vida, sendo usado para os serviços municipais, mesmo sendo catalogado, como monumento de interesse público.

 

   Quanto à capela da misericórdia, descrita como prédio urbano, composto de uma nave e oito divisões, com superfície coberta de 230 m2, confrontando do Norte com a vala, Sul com João Oliveira e Sousa, Nascente com rua de Baixo e Poente com rua Direita.

 

     Nesta capela, tem guarida a imagem de Nossa Senhora da Conceição, à qual a população ainda lhe venera grande devoção, pois todos os anos promove uma procissão, que percorre algumas ruas da vila, no dia 8 de Dezembro.   Neste templo também existe em local apropriado a grande imagem do senhor morto, que em tempos saia, quando das festas que se realizavam pela Páscoa.   Os quadros, retábulos, que tapavam o seu tecto, desde 1979, ano da grande cheia e tempestade, que destruiu grande parte do edifício, deixaram de ser vistos, e ao que se sabe, estão a aguardar trabalhos de recuperação devido aos estragos sofridos (1).


 


 

**********

(1) – Jornal Vale do Tejo de 4.2.1999



 

   O edifício principal da vila, a sua igreja matriz; Prédio urbano que se compõe de uma nave e vinte e duas divisões, algumas destas ocupadas pela residência do Pároco.

   Tem torre com relógio e uma superfície coberta de 823 m2.  Confronta a Norte com o Largo da Igreja, a Sul com a rua Nova de S. Paulo.


  

    Na minha visita à igreja matriz, pode apreciar dentro do templo, a existência de uma pequena capela, onde está depositado a imagem do “senhor morto”, bem como próximo do altar, dois pequenos frontões, que albergam; lado direito: Sagrado Coração de Jesus, lado esquerdo: Imaculado Coração de Maria/ou Nª Sª de Fátima.


 

 O tecto da nave principal, é de uma beleza extraordinária, com uma grande pintura de S.Paulo, rodeado de anjos, esta tendo uma boa sonorização, ali nos últimos anos têm cantado alguns coros, em espectáculos especiais, acompanhados do seu órgão de tubos, do séc. XIV, recentemente recuperado.   A sua torre, com azulejos de cor azul, são recentes (1983), substituíram outros da mesma cor, ali colocados no séc. XVII, e do seu primeiro relógio, com numeração árabe, que substituiu um outro de numeração romana, ali instalado, quando do sismo de 1585.


 

 

  Na casa paroquial de Salvaterra, contactei o padre José Carlos, responsável por uma pequena sala no edifício da igreja matriz, onde aí podem ser apreciados alguns ícones da religião católica apostólica e romana.

 

     No museu (em formação) estão, catalogadas cerca de 100 peças:  imagens, quadros, livros e objectos litúrgicos, alguns pertencentes à antiga capela real, como:  Imagem de Nossa Senhora da Piedade; Quadro do Milagre da Horta D`el Rei e, um outro do Milagre em Benavente.  Também se podem apreciar, duas imagens da Pietá (Nª Sª com o filho nos braços), sendo uma delas considerada únicas em toda a Península Ibérica.   O boletim municipal “ O Foral “, editado pelo município, em 1995, quando da comemoração dos 500 anos da vila e concelho de Salvaterra de Magos, publicou um texto da autoria de Leonel Nunes Garcia(*).
 

    Por ser um documento raro, que trata do património da freguesia de Salvaterra de Magos, no campo da arte sacra, aqui o transcrevo:


“ DOIS CRISTOS DE MARFIM DA IGREJA PAROQUIAL DE SALVATERRA DE MAGOS “

 

    “As duas imagens que se apresentam correspondem às fotografias das fiig.1 e 2, e deste modo passarão a ser designadas por uma questão de facilidade de exposição.

 

                    A arte Indo-Potuguesa

   Os marfins que aqui nos interessa abordar, identificam-se pelas suas características estitlisticas com a produção Indo-Portuguesa. Isto é, trata-se de peças elaboradas por artistas ou artífices asiáticos, em oficinas da Costa Ocidental Sul da Índia, mais exactamente na Costa do Malabar, zonas de Goa e Cochim.   As peças mais antigas desta arte remontam aos finais do séc. XVI, contudo a sua produção maciça desenrola-se sobretudo nos séc.XVII e XVIII com o incremento da missionação.  A aventura portuguesa das Descobertas proporcionou o entrecruzar de dois mundos, logo a inter penetração da arte portuguesa no mundo indiano e vice-versa.

 

    Naturalmente que toda acção missionária patente nestas vivências, teve inevitáveis repercussões ao nível da produção de imagens e de toda a arte sacra. Nos locais que eram conquistados pelos portugueses criavam-se novas dioceses e Igrejas, motivando o desejo dos padres em dotarem os seus templos com todos os objectos que o culto requeria, numa altura em que as normas tridentinas  e o fervor religioso fomentava o culto das imagens.  Para acudir à necessidade crescente destas peças, as ordens religiosas vergaram-se ao trabalho dos artistas locais, fornecendo-lhes instruções e protótipos europeus, uma vez que  nos deparamos  muitas vezes com peças que acusam essa filiação, por exemplo, pela  posição dos braços e torso; cendal curto e com laçada ao lado, pés unidos por um só cravo e barba bifurcada à espanhola.


 

 

   Esta prática era veiculada pelos desenhos, livros, gravuras, imagens, medalhas ou estampas incluídas em bíblias ou catecismos.   Uma das mais curiosas características desta produção, encontra-se na omnipresença quase constante do cunho e valores artísticos locais. Ou seja, os artistas não conseguiam desligar-se dos valores artísticos que lhes eram intrínsecos, sendo por vezes visível a afinidade por exemplo de algumas imagens de Cristo, com as representações de divindades das religiões locais, com traços de ascetas e homens santos.  As preocupações pós-tridentinas, condicionaram os artistas nas suas fantasias levando-os a criar peças destituídas de grande parte da sua natural ingenuidade e graciosidade, num trabalho em série; o qual, apesar das sujeições que o encomendador impunha, não conseguiam evitar o carácter híbrido deste tipo de produção.

 

                                            Análise Descritiva

   As duas esculturas representam Cristo crucificado morto, cabeça descaída sobre  o seu lado direito, olhos fechados e chaga aberta no peito.   Estas características diferem de uma outra  variante iconográfica, normalmente  apelidada de “expirante” (1), em que o crucificado surge  invariavelmente com “(….) a cabeça erguida (…..) e olhos levantados ao céu (….)” (2).  Nas esculturas de Salvaterra as cabeças estão bem proporcionadas abrindo-se em risco ao meio, contornando o crânio com belas madeixas que pendem sobre os ombros.  Na imagem da fig.1, o cabelo assenta na fronte em ondas algo irregulares caindo sobre os ombros em madeixas diagonais ligeiramente onduladas.  Na imagem da fig.2, caem em elaborado ziguezague simétrico, acusando um maneirismo peculiar de uma oficina ou não conhecida.   Os cabelos espessos estão pintados de castanho-escuro e as barbas bifurcadas à espanhola.

   O rosto docemente sereno na imagem da fig.1, adquiriu na fig. 2 uma expressão mais dramática e patética.  Atente-se na imagem da fig.1, em que Cristo está representado com uma graciosa curvatura, reveladora do modo como a matéria-prima e a curvatura longitudinal da defesa, condicionaram a sua forma e o modo como este foi trabalhado.

 

   Na fig.2, Cristo surge representado com o corpo vertical e a cabeça com ligeira flexão para a frente.  Nas duas imagens os corpos acusam tratamento muito naturalista, percebendo-se a constituição óssea, a tenção gerada nos músculos, veias e tendões.

    As caixas toráxicas foram convenientemente marcadas (sendo mais pronunciada na imagem da fig.2, por a posição dos braços assim condicionar), bem como os ventres salientes em ogiva. Nos braços horientalizados da fig.1, foram esboçadas veias desenhadas caracteristicamente com linhas paralelas, enquanto na fig.2, apresem-se convencionais e bem marcadas.  De notar algumas distorções anatómicas na imagem da fig.2, para além do pescoço e braços curtos, os dedos das mãos dobradas, ajustam-se em mãos demasiado pequenas.


    Mãos e pés estão pregados nas cruzes com cravos balaustriformes.  Os pés, unidos na mesma massa de marfim e a perna direita cruzada sobre a esquerda.  Braços e pernas bem esculpidos e nos dedos os artistas mostraram alguma delicadeza ao diferenciar as unhas e separar os dedos, sem contudo esboçar as falanges.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 JOSE GAMEIRO

 

publicado por historiadesalvaterra às 17:02
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