OS DIAS QUE SE SEGUIRAM AO TERRAMOTO DE 23 DE ABRIL DE 1909
Decorria o ano de 1909, o país ainda se encontrava de luto chorando a morte da família real, vítima do regícidio, ocorrido em Lisboa, na Praça do Comércio, quando regressava de Vila Viçosa, em viagem de comboio.
D. Manuel, que viria a ser chamado de II, filho do rei D.Carlos e D.Carlota, tinha subido ao trono havia pouco tempo quando Portugal foi alertado para uma nova infausta notícia.
No dia 23 de Abril de 1909, eram 5 horas da tarde a terra tremeu no coração do Ribatejo. As vilas de Samora Correia, Benavente e Salvaterra de Magos, acabavam de sofrer uma catástrofe - Um terramoto.
Em Salvaterra de Magos, àquela hora a maioria da população encontrava-se fora das suas casas, nos trabalhos rurais, daí o cataclismo produzir apenas duas mortes e muitos feridos. As casas da vila e até do concelho, ficaram muito danificadas, segundo o relato dos autarcas que, de imediato reuniram para apuramento dos primeiros danos, segundo consta das actas camarárias que registam que os tremores de terra continuaram nos dias seguintes, mas com menor intensidade. Nos dias imediatos, toda uma onde de solidariedade chegou à população de Salvaterra, o mesmo acontecendo com Benavente e Samora.
A autarquia de Salvaterra, desde logo não parou de receber quer telegramas de apoio, quer ofertas da mais variada ordem. A Cruz Vermelha Portuguesa, instalou "barracas" em vários locais da vila, sendo o núcleo mais significativo no Largo do Mártir S.Sebastão ( local onde mais tarde foram construídas uma fonte e uma escola primária) e, onde passa a Av. José Luiz Brito Seabra.
Toda a população desalojada, nesse mesmo dia, já noite dentro, recebeu o apoio do governo, que fez deslocar para o local, uma Guarnição de Soldados do Regimento de Sapadores. À disposição da câmara municipal, foi colocado um contingente de Cavalaria e Infantaria, afim de ser mantida a ordem.
Através do Ministro das Obras Públicas, foi considerado fazer o estudo no local, para a reconstrução das habitações que oferecessem garantias de recuperação e, a demolição total das outras, mesmo pouco danificadas.
No dia 30 de Abril, em virtude do edificio da câmara municipal não oeferecer segurança, a reunião dos autarcas, foi efectuada num celeiro no Largo do Palácio (largo que viria a ser de 5 de Outubro e dos Combatentes).
Nessa reunião, estiveram presentes por convocatória, grande número de cavalheiros, pessoas respeitadas no concelho, afim de darem a sua opinião sobre a catástrofe.
Entre os convocados, encontrava-se o benemérito Gaspar da Costa Ramalho, que foi ouvido com muita atenção, e as suas propostas foram aceites. Da sua iniciativa foi constituída uma Comissão local, onde integrava além dele, o Conde de Mangualde, Luiz Ferreira Roqurette, Porfirio Neves da Silva e Vergílio Roquette Costa, que se responsabilizaram por contactar os jornais e instituições para a angariação de fundos.
Outras resoluções foram tomadas, foi resolvido mandar fazer 18 lanternas, para serem usadas nas zonas da instalação das "barracas" e "tendas", cada uma custou 1.150 réis, verba que foi paga pelo benemérito Gaspar Ramalho.
Em 17 de Junho, contavam-se já instaladas 180 "barracas" das 325 que foram consideradas necessárias. Fazendo face à desgraça que se abateu sobre as 3 povoações vizinhas, logo o governo disponabilizou alguns fundos, cabendo a Salvaterra, a verba de de "CEM CONTOS DE RÉIS", para as primeiras necessidades.
Nos dias seguintes e nas reuniões que iam decorrendo, a câmara e o administrador do concelho; Luiz Filipe Valente, analizaram propostas de ofertas de créditos, muitas delas vindas do estrangeiro, postos à disposição da população salvaterriana.
A 19 de Agosto, foi aceite uma proposta do Oficial que comandava a guarnição que mantinha a lei e a ordem na vila, que a sineta instalada no edificio da câmara, passa-se a dar as horas, em virtude do relógio da torre da Igreja ainda se encontrar avariado.
Assim, o soldado de piquete às instalações municipais, puxava de uma corda, tantas vezes quantos sons horários fossem necessários para completar as horas do dia, prescendido-se de dar as meias horas.
No dia 11 de Novembro, foi autorizado que o entulho da limpeza da Trav. do Martins, fosse colocado nos baldios do antigo moínho de arroz, no valado da vala real. O jornal "O Século" que nas suas páginas tinha aberto uma subscrição pública de donativos, conseguiu que o país se solidariza-se com o sofrimento a que estavam passando as 3 populações vizinhas, dando as verbas reunidas origem à construção de escolas.
Em Salvaterra, a autarquia disponabilizou um terreno que pôs à disposição da Comissão encabeçada por Gaspar Ramalho e lhe entregou o valor de "Cento e sete mil trezentos e noventa e cinco réis", verba que coube à vila.
Em 25 de Dezembro, dia de Natal, houve reunião e foi deliberado mandar reparar o telhado da câmara municipal, bem como enviar para Londres, um telegrama a felicitar , El-Rei D. Manuel II, pela passagem do seu aniversário.
Numa outra reunião da câmara, estiveram presentes os Drs. Augusto de Castro e Annachoreta e Prof. Ginestal Machado, de Santarém que, representando uma comissão daquela cidade vinham trazer o apoio do scalabitanos às vítimas do sísmo.
No início de 1910, D. Manuel veio a Salvaterra, visitar a população e dar-lhes o seu apoio moral, visto que o material, se encarregou o governo. Uma multidão aguardava a chegada do bergantim real, ao cais da vala e, quando desembarcou, uma multidão que o esparava, deu vivas ao rei ..!
O desfile foi feito a pé, a caminho da rua do Calvário, entre alas das entidades oficiais, com o povo atrás, estando muitas mulheres e crianças no botaréu, da rua do Forno de Vidro, aplaudindo o monarca que retribuía com acenos de mão.
Depois de visitar alguns locais onde ainda existiam algumas "barracas e "tendas", houve uma sessão de boas vindas nos paços concelho, sendo-lhe dado conta da situação e como se estava a resolvê-la. Depois de algum descanço na intimidade dos seus mais próximos colaboradores, voltou a Lisboa, pela mesma via, aproveitando a maré cheia.
Nos meses seguintes, a recuperação das casas foi decorrendo e, outras ergueram-se em novas ruas abertas, nos terrenos de currais e celeiros, atrás das ruínas do que foi o paço real de Salvaterra de Magos, até aos grandes barracões das antigas cavalariças.
Naqueles terrenos, foi também aberto um grande hortado para alimentar o povo ( mais tarde murado em volta, e conhecido pela horta do Sopas). Em 7 Outubro, com a implantação do regime republicano em Portugal, é nomeada uma Comissão Administrativa, no concelho constituída por: António Jorge de Carvalho (presidente), José de Vasconcelos, João Ferreira Vasco, Carlos de Novais Rodrigues, Vital Justino (de Muge) e João Pereira Rodrigues (de Marinhais). Para Administrador Interno do concelho, foi nomeado António Marcos da Silva.
Na sua primeira reunião sob o novo regime, os autarcas republicanos, deliberaram aprovar
os requerimentos de "Aforamento", a Luiz Ferreira Roquette, proprietário do "Curral do Concelho" e a António Marcos da Silva, dono de um terreno no "Largo do Cafarro", ambos no terreno de areia em frente ao antigo palácio da falcoaria, onde passava a av. José Luiz Brito Seabra.
Ainda foi aprovado mudar os nomes a algumas ruas da vila; A rua Santo António, passou a Rua Alm. Cândido dos Reis, a a Rua do Pinheiro, para Dr. Miguel Bombarda, a Praça Dr. Oliveira Feijão, para Largo da República, o Largo do Palácio para 5 de Outubro (mais tarde dos Combatentes) e a Rua Porfirio Neves da Silva, para Teófilo Braga, nome que nunca vingou.
A 27 de Outubro de 1910, cerca de 18 meses após o terramoto, começaram os trabalhos de remoção das "barracas" e das "tendas" da CVP, por já não serem necessárias, no Largo 5 de Outubro, Praça da República, Rua do Calvário (Av. Dr. Roberto Ferreira da Fonseca), Rua do Jogo da bola, Canto da Ferrugenta e Largo de S. Sebastião, ficando apenas algumas nas areias do pinhal, atrás do novo cemitério da freguesia.
A grande mancha de pinhal junto à vila, era novo e escasso aqui e ali, indo para sul, passava junto ao "Chaparral do Barão", pelos Foros de Salvaterra a caminho de Coruche.
Tendo sido encontrada roupa nos armazéns da câmara, fruto das ofertas, foi deliberado destribuí-la pela população. Por último, foi tomado conhecimento que, a República do Uruguai, oferecia "duzentas libras" para a construção de uma escola em solidariedade com as povoações que sofreram as terríveis consequências do terramoto.
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Nota: Texto extraído do artigo publicado no JVT, em 27 de Abril de 1995, do autor, e composto segundo os textos das actas a que teve acesso * Fotos: (1) Um grupo de familias desalojadas no Largo do Palácio (2) - Rapazes na sala de aulas, na escola no dia da sua inauguração - 1913
JOSÉ GAMEIRO
Longe vai o tempo do Entrudo Trapalhão, os mais velhos, já aceitam os novos ritmos e danças importadas do Brasil. No entanto, lembram que na sua juventude o Carnaval além de monótono, tinha peripécias adquadas àquele tempo de vivência. Nos anos 50 do séc. passado, era com grande ansiedade que o rapazio esperava a chegada do Domingo Gordo, pois o Entrudo trazia-lhes a liberdade de enfarinhar e, de vestir-se de maneira diferente, porque em tempo diferente seria alvo de censura pública e, não só.... Além da farinha, usava-se corantes desde o vermelho, o azul até o preto e, numa correria constante lá andavam eles atrás das moças , ou vice-versa, para serem enfarinhados. Era usual os pais recomendarem aos filhos que naqueles dias vestissem roupas já em desuso por causa destes "ataques" carnavalescos. O pó de talco e o cré, vendidos em farmácias e drogarias eram os produtos mais usados e, quem não se lembra da loja do Zé Sabino, junto à torre da Igreja, já com pacotes pequenos feitos de papel, a 50 centavos cada, estavam sempre esgotados. O jogo do pote, era uma das brincadeiras que enchiam as ruas de Salvaterra, no entanto os mais desinibidos como " O Timpanas", lá faziam os seus cortejos ou colaboravam nos festivais taurinos, adquados para a época, na praça de toiros,
Uma semana antes, e de noite já muita gente se vestia utilizando disfarces, visitando as casas de familiares e amigos, fazendo vozes e gestos diferentes e, se não fossem descobertos lá pediam/recebiam uma moeda que, depois no final todas juntas dava para beberem uns copos, pois a cerveja era muito cara. Como não eram descobertos, no dia seguinte, as cenas vividas davam azo a comentários de gozo perante os visitados.
As bombas de foguetes, pelo estrondo que faziam já estavam proíbidas de serem vendidas nos estabelecimentos, pois em anos anteriores, por todo o país, muitos eram os jovens que ficavam sem mãos ou dedos, ao tentarem acendê-las.
Se recuarmos no tempo, ouvia-se aos mais velhos, outras brincadeiras, nos anos 20, a torcolência era tal e à falta de melhor, os mais audazes e brincalhões, partiam as tigelas de barro, cheias de fezes e urina humana, que estavam à porta, esperando a passagem do carro da bóia, para a sua recolha.
As terras das ruas, ainda não empedradas nem pavimentadas, ficavam com um cheiro pistolento que durava dias. Brincadeiras deste tipo, era o que se usava naquele tempo à falta de melhor, como agora se usa e, o Carnaval era tempo não desejado por muita gente.
Como é bonito, agora ver carros alegóricos, muita música e, danças frenética do samba, muitos aproveitam para criticar, o que bem entendem, especialmente os políticos mais premiáveis a este tipo de brincadeiras carnavalesca.
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Nota: Extraído do artigo publicado no JVT Nº 138 de 26.02.1998
JOSE GAMEIRO
Ainda menino de escola, fui com os meus pais viver para o Botaréu, junto à Capela da Misericórdia e, depressa o convívio com as gentes que, viviam do rio Tejo, se estabeleceu. Nos seus barcos e nas suas casas, comi das suas ementas, como também na rua e no cais da vala real, brinquei com os seus filhos.
Aquele convívio, foi para mim uma oportunidade de ouvir aos Fragateiros e Varinos/ Cagaréus, histórias das suas comunidades.
Há muitos séculos, que o rio Tejo as conhecem, os pescadores Cagaréus, desceram lá muito de cima, do norte e em Lisboa, até existe junto à ribeira, um dos seus bairros - A Mouraria, que estava povoado desta gente quando do terramoto de 1577.
Aqueles que vieram viver para Salvaterra de Magos, eram dos mesmos sítios; Aveiro. Ovar, Estarreja e Murtosa. Há muitas gerações que andavam rio abaixo, rio acima, na faina do peixe, especialmente no inverno, para depois o enviarem, em cestos de verga, para muitos lados, inclusivé o Porto.
Primeiramente era em carros puxados a animais, até que o advento do caminho-de-ferro, em Portugal, lhes facilitou mais a vida, através da estação de Muge.
Antes deles, já os Fragateiros eram "donos" do cais da vala, pois movimentavam nas suas Faluas e Fragatas, embarcações à vela, as mercadorias, com destino a Lisboa, e outros portos, rio acima, quando este era então navegável, lá para os lados de Abrantes.
Quanto aos Avieiros, uma outra comunidade, de pescadores vindos de Vieira de Leiria, cujos registos no Tejo, se notou mais tarde e, o Escaroupim, foi um sítio de aporto, como muitos outros ao longo do rio.
O Pinhal do Escaroupim, existe do tempo de D. Dinis, o comércio e a indústria, especialmente a naval, requeriam muita madeira e, Lisboa ficava a meia centena de km de Salvaterra e, com o curso das marés do rio Tejo, faziam deslizar nas águas grandes quantidades de toros.
A história da vala real de Salvaterra de Magos, encontra-se registada em muita documentação. Iniciou-se como Sangria, pois foi aberta, por causa das águas que se acumulavam em terrenos pantanosos nos baixios de Magos e, das nascentes da bacia da Ameixoeira, um pouco mais acima, corriam para Juzante até se juntarem ao Tejo na Boca da Goiva. As marés do rio, traziam e levavam peixes, como o barbo e fataça que, eram abundantes nas águas da vala, ainda no dobrar do século passado.
As histórias vivas, deste pequeno curso de água, que passa no sítio da ponte da madeira, são aquelas guardadas na memória por quem lá trabalhou, ou por quem com eles conviveu.
Muitas e variadas "historietas" são aventadas todos os dias, mesmo para a sua ponte de pedra, por quem visita por uns momentos aquele local, tudo sabem ou imaginam, sobre o seu passado mesmo recente. É de ouvi-los !!!!
Vivi a escassos metros do barracão onde via o mestre calafate, António Joaquim Henrique Miranda, conhecido pelo "Perguiça", construía as bateiras. Uma história dele se contava, um dia, construíu uma tão grande, quando pronta não saíu à porta, porque bebia bem, dizia-se: Talvez visse duas pequenas !
Eu, que corri corda, e vi fazê-la, tenho dificuldade em informar que isso aconteceu!
* Um casal, de Benavente, com dois filhos ainda pequenos, vinha algumas vezes durante o ano, até junto dos fragateiros venderem corda nova para ser usada, nos barcos.
Depois do negócio feito, para a quantidade de metros necessários, era iniciada a sua "feitura". Umas peças de madeira com pequenos ferros, eram colocadas junto ao muro grande, vedação da propriedade do conde, ao pé do celeiro, desde a estrada até à borda da vala, onde agora existem umas construções em madeira, com espaços calculados para suportarem o peso.
A mulher, passava o dia, movimentando uma manivela de ferro, fazendo girar uns carretos (sentido dos ponteiros de relógio), o homem e os filhos, iam metendo, o cordel de sisal, de muitos novelos. Depois de bem enrolados, davam azo a muitos metros de um novo cabo, alguns muito grossos, ao fim de alguns dias de trabalho.
De seguida, o velho Cadório, antigo pescador, "arregimentava" um grupo de rapazes (onde eu, me incluía), para passar a corda, a troca de alguns tostões para os rabuçados que depois compravamos na taberna do Camilo.
Os vários metros (bem pesados), dos novos cabos eram cozidos, num panelão, ao lume durante várias horas, com água de tinta de carrasca de pinho, feita previamente.
Depois da "cosedura", sempre ao cair da tarde (para passar a noite ao relento), os metros do cabo, eram "corridos" pelos rapazes entrelaçados entre os muitos choupos pequenos, que existiam, no terreno de trás-de-monturos (no local onde agora se faz a feira anual e algumas festividades da terra) e, ali ficavam estendidos (apertados), até secarem. ......
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Nota: Extraído do Livro Nº 11 "Cagaréus,Fragateiros e Avieiros - Gente que veio do mar" da
Colecção Recordar, Também é Reconstruir! * Foto, ao fundo o muro em direcção ao cais da vala
* Ver a colecção Vídeos: Patrimonio Monumental cultural de Salvaterra de Magos
JOSE GAMEIRO
Nem só os aficionados tauromáquicos, têm curiosidade em saber quem foram os irmãos Roberto (s). Qualquer enciclopédia faz referência a António Roberto da Fonseca e seus irmãos; Antão José da Fonseca e Luís Roberto da Fonseca, como iniciadores desta conhecida linhagem artística. Quem visita Salvaterra de Magos, encontra no largo da Igreja Matriz, um grande edificio, todo ele forrado a azulejo, de cor verde, forma de decoração muito usada no final do séc.XIX, início do séc.XX. Os lavradores locais, também receberam a influência da arquitectura motivada pelos novos-ricos, vindos de África e Brasil.
Sobre os Roberto(s), especialmente os irmãos; Vicente Roberto da Fonseca, João da Fonseca e Roberto da Fonseca, já quase tudo se escreveu. Não pretendi neste pequeno apontamento, fazer a história desta dinastia artística, porque tal encheria muitas páginas de um trabalho mais responsavel.
Com a sua arte de bandarilheiros, nas arenas de Portugal e Espanha, tiveram sorte e glória, honraram o nome da família e Salvaterra de Magos, sua terra-natal.
Por mim, tive a sorte de través de D. Elvira Roberto e seu esposo Arq. Luiz Vasconcellos, ter acesso a informações e documentos, que amavelmente também me facultaram especialmente do testamento de Roberto da Fonseca, que não se esqueceu para além dos seus descendentes, dos fiéis trabalhadores e de algumas misericórdias, especialmente a da terra onde nasceu. Num edificio, na antiga rua Direita, onde vive descendência da familia, existe uma grande sala, onde vários móveis guardam coroas de flores, prémios recebidos do público aficionado, no nosso país e do país vizinho.
Na fachada da habitação de D.Elvira Roberto, existe desde 1950, uma placa de homenagem, levada a cabo pela Casa do Ribatejo, que na época tinha sede em Lisboa e, no seu interior , numa parede, um grande painel, que regista a árvore genealógica da família.
No cemitério da vila, uma alegoaria simbólica da casa agricola Roberto, com as éfinges dos irmãos toureiros, está esculpida na pedra, do jazigo da família, onde se encontram os seus corpos.
Muitos anos já passaram, sobre a morte de Roberto da Fonseca, o último dos afamados toureiros, mas os responsáveis que passaram pela autarquia local esqueceram deles - Nem o nome de uma rua ......!
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Nota: Extraído do Livro Nº 37 "Os Irmãos Roberto(s) - Uma família de Toureiros" da Colecção Recordar, Também é Reconstruir - Do Autor
JOSE GAMEIRO
O Ribatejo tem no seu povo rural as raízes de uma cultura primitiva, cuja etnografia disso nos dá conta os usos e costumes do campino e da camponeza, agora conservados pelos ranchos folclóricos. O rio Tejo, muito contribuiu para a forma de viver desta gente que nas terras de Aluvião tiravam o seu sustento e nos mouchões e alvercas a muita pastagem nascia a esmo para o gado.
Salvaterra de Magos, está situada no coração da Leziria ribatejana, que se estende desde a Chamusca até Azambuja e Vila Franca de Xira.
Nos dias que passam a actual agricultura nada tem a haver com a lavoura que se fazia por volta dos anos 40 do século passado. Quando as terras ficavam livres das águas das cheias do inverno, o trabalho agricola voltava em força às terras que dariam pão, as trolhoadas de animais bovino lavrando numa fila, muitas vezes de dez pares.
Pachorentos e com alguma melancolia, lá iam alguns toiros "cangados" como que lembrando os seus 3/4 anos de idade e, a ferocidade leal que punham nas lides nas arenas das praças. Depois de corridos, alguns eram destinados à reprodução da raça, outros, a maioria, depois de "capados e bruxados" lá iam passar o resto dos seus dias nos trabalhos da lavoura que, durava perto dos 15 anos, com um final no matadouro, terminando assim um ciclo de vida, que ia conforme a idade; mamões,anejos,bezerros,garraios/ou novilhos e toiros.
As terras da charneca, eram um espaço que alternava com as da borda-de-água, quando começavam os dias chuvosos de outono/inverno, e todo o gado tinham de abandoná-las.
Os toiros de lide, não deixavam de serem postos à prova dos campinos, pois tinham de "dar o litro"numa estafa de um dia por semana, com um treino em correria, para estarem musculados e, em condições de serem corridos nas praças de Portugal e Espanha, a partir do domingo de Páscoa.
Quando um curro se deslocava emcabrestado, muitos dias antes para uma praça distante, era um acontecimento de grande relevo social, nas povoações de passagem. No destino, com a chegada às praças, as entradas dos toiros eram quase sempre de madrugada, então aí era o delírio das populações, os jovens mais audazes tentavam tirá-los dos cabrestos/ou chocas, com alguma varada de permeio, pois todo o trabalho de condução pertencia aos campinos.
Muitos encontravam nestas esperas, as suas aptidões para virem a ser moços de forcado e bandarilheiros, tal era a coragem de pegar de cernelha, ou capeando, muitas vezes com o casaco.
No inicio do século passado (1900), a praça de toiros existente em Salvaterra, era de madeira, com lotação de 5 mil lugares e pertencia ao hospital de Portalegre.
Quando era menino, ouvi do meu avô paterno e dos seus irmãos, já velhotes e retirados das lides, maravilhosas histórias da campinagem, do seu tempo, pois chegaram a campinos-mor, trabalhando com ganadarias da terra e da região.
Mesmo assim, o encanto e o divertimento que ainda excita os nervos, arrastando multidões, nas praças de toiros, não me seduziu. Ao longo dos anos, fui guardando documentação que agora não deixa de ser importante para deixar algo escrito "A Propósito de Toiros em Salvaterra!"
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Nota: Extraído do livro Nº 2 da Colecção "Recordar, Também é Reconstruir!"
JOSE GAMEIRO
O tempo passa, o ser humano vive de tudo, até de recordações!
As gerações nascidas depois daquele dia maravilhoso que, foi o 25 de Abril de 1974, vieram encontrar um tempo de liberdade, onde cada um pode exprimir os seus sentimentos sem repressão, desde que os mesmos não colidam com a liberdade dos outros.
Decerto quererão saber quem foram os obreiros dos famosos "Parodiantes de Lisboa", uma equipa radiofónica, que sabia desafiar o regime com o seu humor, fazendo os portugueses "encostarem o ouvido" à rádio portuguesa, durante mais de 50 anos.
Em Salvaterra de Magos, no início do século XX, existiam várias famílias com o nome de Andrade. Numa dessas famílias um ramo genealógico tinha a alcunha dos "Charutos" e nele nasceram três irmãos, sendo um o Fernando Filipe Andrade que, veio a casar com Zulmira Fernandes. Do casal, vieram à luz quatro rapazes e duas raparigas. José Andrade (1920-2002) e Ruy Andrade (1921-2006), eram os mais velhos da prole. O pai Fernando Filipe Andrade, por volta de 1936/37, um dia estabeleceu-se na vila, na rua Machado Santos (antiga rua Direita), com uma pastelaria.
Uns meses depois, o espaço foi dividido e, nele se instalou-se o filho José Andrade que, entretanto já tinha aprendido o ofício de barbeiro. O Ruy Andrade, ainda jovem foi de abalada até Lisboa, onde começou uma vida nos balcões das Lojas do Grandela e, o José tempos depois também foi até á capital e, juntos começaram a fazer teatro amador.
Os Parodiantes de Lisboa, nasceram em 18 de Março de 1947, depois do desaparecimento do periódio "A Bomba". Nos Parodiantes, deram colaboração desde a primeira hora, Eduardo Ferro Rodrigues,Santos Fernando, Mário de Meneses Santos, Mário Ceia, Manuel Puga, José Andrade, Ruy Andrade, entre outros. Mais tarde, na Parada da Paródia, deram voz, Mary, Pouzal Domingues, Diamantino Faria, Pedro Moutinho etc.
Para além da rádio, José e Ruy Andrade, em 1974, transformaram a pastelaria "Sol da Leziria", que foi dos pais e onde estes fabricavam e vendiam um apetitoso pastel.
Nasceu a "Cabana dos Parodiantes", os bolos passaram a ser comercializados com o nome "Barretes" e depressa ficaram famosos.
Um outro descendente da família, Fernando Andrade, continua à frente da Cabana e, os "Barretes", são agora uma especialidade de Salvaterra de Magos.
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Nota: Texto extraído do Livro Nº 38 da Colecção " Recordar, Também é Reconstruir!" * As suas fotos, estão no Flach fotográfico "Algumas Figuras Públicas - Do Autor.
JOSE GAMEIRO
O século XX, estava a meio, quinze anos já tinham passado, mas ainda se falava do assunto, quando vinha à baila qualquer referência à fome que grassava em muitas casas da vila de Salvaterra de Magos. Por volta de 1935, Carlos Torroaes, filho do empresário de transportes públicos de passageiros, da vila, era muito conhecido pela forma pitoresca de contar as suas diabretes Esta é uma delas:
UMA CULTURA QUE SE PERDEU!
A geração que, viveu a sua infância no após a segunda guerra mundial, aquela a pertenço, ainda conheceu muitas formas de brincadeiras e jogos, como: o pião, o arco a cabra cega etc. Eram divertimentos populares.
Os Provérbios, cantigas de bem e mal dizer, a par das benzeduras e superstições, ainda eram usados pelas gerações mais antigas.
A prática dos jogos era na rua, era aí o local de encontro do rapazio da vila.
Os descendentes da população rural, esses já andando no campo, outros jogos aprendiam, como o jogo do Pau e o da burricada.
O jogo do Pote, tinha um tempo próprio, efectuava-se nos dias de Entrudo (Carnaval), sendo praticando pelos adultos.
Com o decorrer dos tempos, foram entrando em desuso e, outros divertimentos como forma de brincar passaram a ocupar o seu lugar, pois cada geração, tem as suas próprias brincadeiras.
Outros por já estarem esquecidos, houve necessidade de os recuperar, junto de quem os praticou um dia e, assim algumas populações do concelho, como: na Glória do Ribatejo e Foros de Salvaterra, ainda hoje praticam o Jogo da Malha.
Quanto aos Provérbios Populares, quando fiz a recolha de alguns, em 1957, junto de pessoas idosas - eram as últimas gerações que os diziam por necessidade - sendo analfabetas, deles faziam uso para seu governo.
Nota: Extraído do Livro Nº 24 da Colecção "Recordar, Também é Reconstruir!
JOSE GAMEIRO
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