-Eh home…, já vens na mêma! – uma tarde e noite dentro na taberna, chegas a casa a toldar da cabeça, e com o bandulho cheio de vinho, at`eimas sempre nisso!
-Aqui tô eu, moidinha de trabalho, à espera do dinheiro da jorna p`ra ir à loja, comprar comida p`rás crianças, e t`ou a aver que ainda ei-de ser velhinha, e continuar agarrada à saia da minha mãe!..
Era o ralhete, que se ouvia, em casa de alguns jornaleiros rurais, que depois da manhã de trabalho no campo, ao sábado, logo se enfiavam da taberna.
Entre os dois conflitos das guerras mundiais do séc. XX, na década de 30, havia poucas tabernas na terra, que se podiam contar pelos dedos de uma mão.
Era um hábito que vinha de gerações, nos jornaleiros que trabalhavam a terra, no campo de Salvaterra de Magos, e que se notava também no homem dos ofícios, dentro da vila
O João da Pança, a Anunciada, o Zé Luís das Neves, o Vitorino Marreco, e o Artur Xavier, abriam portas aos primeiros sinais da manhã, enquanto o homem rural saia de casa uma ou duas horas antes do sol nascer (o seu relógio era o cantar dos galos), bebiam o café, muitas vezes feito de cevada/ou chícharo torrado e moído, com um naco de pão barrado de toucinho cozido, que tinha sobrado da ceia.
Muitos deles não deixavam de “matar o bicho” naquelas tabernas, bebendo um copo de aguardente, enquanto o homem urbano só pelas 7 horas começava a movimentar-se nas ruas, e bebia a sua ginja ou abafado. No campo, a hora do almoço era aí pelas 10 horas da manhã, e o jantar comia-se por volta das 3 ou 4 horas da tarde. A comida era levada numa pequena caldeira, e aquecida em grupo num brasido de lume. A despega era sempre já depois do sol posto, havendo trabalhadores, cansados na cava da terra com enxada de lamina larga, não deixavam de olhar de esguelha a luz fusco na serra de Sintra!
- Alguns ranchos de mulheres e moças, juntavam-se na estrada da Ponte de Pedra, a pé em passo estugado, entravam em caminhos de terra, do Malagueiro, com os campos dos freires à vista, já perto do Vau. Aqueles que tinha a jorna nas Courelas junto ao Tejo, era na pequena taberna da família de Artur Pinto, que mal dava para meia dúzia de pessoas em pé, para o seu ultimo "mata-bicho", e não deixavam de trocava a saudação de “um Santo Dia” com os Pescadores e Marítimos, que por lá já andavam na faina do cais.
- De regresso a casa, alguns depois da hora da ceia, ainda davam um salto à taberna do João da Pança, (homem mediano de altura, usava além do um cinto uns suspensórios de tiras de cabedal , por cima do colete para segurar as calças, pois tinha a barriga dilatada - talvez daí a alcunha!), arranjavam parceiros e jogavam uma cartada à bisca, para beberem uns copos de vinho.
Alguns esqueciam-se do tempo, e ao entrarem à porta de casa, já com a cabeça a toldar – lá ouviam da mulher um ralhete: - És sempre a mesma coisa!... Já vens com o bandulho cheio, e eu, sem dinheiro para comprar comida prós rapazes comerem.
A Taberna do João da Pança, tinha à porta um assento em cimento, do lado da rua da Azinhaga (rua Porfírio Neves da Silva), mesmo em frente à rua dos Quartos, dava jeito nos dias de verão, para estarem à conversa contando umas anedotas.
A Anunciada, tinha porta da sua taberna aberta a meio da azinhaga estreita do Arneiro, e lá se viam misturados, gente rural com os dos ofícios que, se entretinham a jogar o chinquilho, noite dentro à luz do gasómetro(1). O José das Neves, estabelecido na esquina da Trav. do Martins, com a rua Direita, esteve poucos anos de porta aberta, mas tinha uma clientela especial, servia de tertúlia onde se discutia os toureiros e cavaleiros, em fama nos cartazes das arenas de Portugal e na vizinha Espanha.
Foi ali, que em 1919, saiu a ideia da construção da Praça de toiros de Salvaterra de Magos.
*José Gameiro
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Nota: (1) Esta taberna, foi descrita no Conto o ”Último Dia do Lobo em Salvaterra”, de José Amaro - década de 30, séc. XX
Foto: do Autor @ Casa antiga Taberna do João da Pança
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