Sexta-feira, 28 de Junho de 2019

Crónica do Nosso Tempo - Quando Havia Venda de Porcos, nas ruas de Salvaterra Magos

QUANDO HAVIA VENDA DE PORCOS PELAS RUAS DE SALVATERRA

- Um amigo de longa data; José António Neves Travessa, em jeito de brincadeira, lá fez o reparo!..
Assim está bem! - Isso, é dos tempos antigos!..

Depressa veio-me à lembrança, em dois dedos de conversa. O calendário gregoriano dá-nos o dia 21, com o inicio do Verão, mas o dia 23, trouxe-nos uns chuvisco de “molha tolos” que não me apanhou de surpresa!

 - Fui a uma grande superfície cá da terra, fazer uma compras – mas para ter as mãos livres, depressa coloquei a bengala do chapéu de chuva, no colarinho do casaco.E em dois dedos de conversa, lá lhe disse, os porqueiros, no dobrar do séc. XX, ainda faziam este uso, para terem as mãos livres!

“Manhã cedo, um camioneta com painéis de madeira bem altos, chegou em frente à Igreja Matriz da vila, e depressa quatro/ ou cinco homens ainda jovens recebiam ordens de um mais idoso. A descarga de leitões, foi feita um a um – eram para venda naquele dia em Salvaterra.

. Depressa no largo, só se ouvia “grunhidos”, até porque os jovens tinham colocado uma saca ao ombro (como aquelas que se usavam para semear arroz), e lá entretinham os animais “farejando” os bagos de milho que era atirado para o meio da grande vara de porcos. A maioria tinha a cor preta com manchas brancas, e lá se viam alguns brancos e amarelos torrado.
Todos os membros do grupo colocaram um pau redondo - retirado de alguma árvore, com uma pequena curva apertada na ponta ( tipo gancho - para agarrar a pata traseira) nas costas, ficando seguro no colarinho do casaco/ ou da camisa para terem as mãos livres.

Já era hábito usar-se o chapéu de chuva naquela maneira, especialmente nos rurais, coisa talvez trazida pelos beirões, que andavam por aqui a trabalhar nas terras da Lezíria ribatejana.
Realmente, aquele grupo de homens vinha da zona de Pombal, e o mais velho já era muito conhecido aqui em Salvaterra, pois vinha todos os anos, pela Primavera, fazer aquela venda.

  O Porco ibérico/ ou Alentejano, aqui criado em pocilgas, era o mais desejado, até porque alguns criadores - engordavam dois por ano, e também eram comprados, em leitão, no mercado mensal de Marinhais. Era um animal bem conhecido na Europa, trazido pelos Romanos e talvez cruzado com o Javali, em estado de cativeiro comiam de tudo, desde que fosse cozido, e aí era misturado o milho, muitas vezes comprado, uma ou outra saca, no Grémio da Lavoura da terra, ou do “rabisco” feito no fim das colheiras, das cearas do lavradores e seareiros da terra. No verão o animal comia de toda a fruta, onde entrava o melão, tomate e melancia!

  Em Salvaterra, já não se usava a matança do porco para alimentação familiar, faziam-no para engorda vendendo aos Talhos e Salsicharias da vila, onde muitas destas tinha apenas um pequeno balcão na casa de entrada da habitação. A maioria dos criadores tinha um “arredeio/ ou pocilga” no terreno camarário, por detrás do cemitério, e os animais comiam duas vezes por dia. A venda do animal, servia para aumentar o pecúlio familiar, guardando as suas economias, debaixo do colchão da cama. Quando da venda do animal, já com umas boas arrobas de peso, era feita a encomenda de alguma carne fresca – era a alegria da família, pois muitas vezes era a única que se comia durante o ano. Havia o hábito de se comer carne salgada, como o toucinho!

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Iniciada a marcha dos pequenos animais, a vara, seguia pela rua Direita, até à Capela ali em frente à vala real, subiam pela grande rua com piso de pedra de seixo, até ao Arneiro, lá para os lados da Falcoaria, e desciam pela rua de areia, da Fonte Peteja, passado pelos Bombeiros, voltavam ao largo da Igreja.

Pelo caminho, os homens amiúdas vezes - lançavam mãos de milho, para o meio dos pequenos leitões, e num ápice com os grunhidos à mistura lá procuravam-no no chão  e faziam a caminhada, a toque de algumas assobiadelas!

  Depressa, a noticia correu,” estão a vender porcos na vila”, e todos os interessados já esperavam a sua passagem, e cada vez eram menos, pois pelo percurso a venda ia-se fazendo. Os homens do grupo com grande destreza, para apanharem os pequenos leitões, de 3 semanas de desmamados, lá usavam a vara agarrando o animal por uma das patas traseiras.

   O Comprador, já prevenido com um cordel, atava as patas traseiras, para melhor manobrá-lo até à pocilga!  No final da viagem, os pequenos animais por onde passaram deixavam as ruas da vila, num estado lastimoso, o cheio das fezes e urina – era uma peste!
*José Gameiro!
Nota: Foto do Facebook

publicado por historiadesalvaterra às 11:18
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Segunda-feira, 24 de Junho de 2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO - Quando havia Fornos de Cal em Salvaterra de Magos - Séc. XX

O FORNO DA CAL DO MANUEL GONÇALVES,

O ano de 1955 estava a meio, os dias já eram solarengos, anunciando que o Verão não estava longe. A população da vila já estava habituada a ouvir o barulho de explosões não muito fortes, lá para os lados do cemitério da vila.  Era quando as pedras de calcário se partiam na cozedura, no forno da cal.

 Manuel José Gonçalves, num seu terreno explorava um forno de cal, e fabricava alguns derivados, como  liquida virgem  e em pó. O seu filho; Júlio Gonçalves, além das vendas, também tinha contactos com os fornecedores nas pedreiras lá para os lados de Rio Maior.

O Forno era uma construção artesanal em pedra – já limpa do calcário ( de cor negra, e  acinzentada), até uns 3,4 metros de altura, após o nível do solo. Terminando a sua forma abobadada com um grande buraco para respirador dos Gazes.

 Coberto com terra onde crescia a erva. As pedras calcárias usadas na cozedura, desfaziam-se na temperatura entre 800 a 1100º C. O fogueiro, Aníbal Silva, homem já de idade respeitável, era conhecido pela alcunha “Aníbal Pedregulho”, talvez por ser baixo, e de ter barriga deselegante, era pessoa experimentada na sua faina e tinha alguns ajudantes.

 Por vezes de tarde, quando eu, dava de comer aos 2 porcos que meus pais tinham de engorda numa pocilga, entre muitas existentes, lá os ouvia gritar ao rapazio das barracas:  - não se aproximarem daquele perigo !

As muitas barracas que já por ali existiam, com as primeiras aparecidas no inicio na década de 40 do séc. XX, sendo autorizadas pela câmara, às famílias de origem rural com dificuldades  em alugar casa na vila. 

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Um dia, quando levava diariamente um balde de comida aos porcos, que meus pais por ali tinham, numa pocilga, atrás do cemitério, ao ouvir algumas explosões, lá me afoitei, e estive por perto a ver.

 – Homens com paviolas de madeira, atirando pedras para o lume. Ali também existia um armazém, com pequenas pedras já em cal, e bidons com cal liquida e em pó. Um outro guardava a lenha, para ser queimada. A Cal era vendida à Arroba (15 quilos) a 3 escudos e 50 centavos. A pedra queimada estava em vários montes, para venda - era usada nos cabocos das construções.

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Os derivados da cal (pedra e massa), também eram vendidos na vila, pelo taberneiro; António Ramalho -  o António Maceira. Quando se pretendia dar outras cores à cal, usavam-se óxidos, corantes que se vendiam nas Lojas de Drogarias e Ferragens.

Era tradicional aqui em Salvaterra, especialmente as Casas Agrícolas,  o uso da cor azul nas barras das Casas de Habitação, Palheiros e Adegas. Os agricultores também usavam a cal em pó para “temperar” as terras.

Em Abril de 1957, quando  entrei no mundo do trabalho, na Central das carreiras, vi os meninos e meninas da escola com suas batas brancas, em cima de um grande morro, a um canto do muro da antiga Horta do Sopas – frente à EN 118 e Praça de toiros, acenavam com pequenas bandeiras portuguesas e inglesas, a rainha Isabel II, estava de visita oficial a Portugal!

Una anos depois, já colaborador do jornal “Aurora do Ribatejo”, fiz uma procura sobre a existência de Fornos de Cal na vila. Além daquele da família Gonçalves, já apresentando alguma ruína (não trabalhava), vim a saber através dos mais antigos, e era voz corrente, que debaixo do morro, da Horta do Sopas, existiu um Forno de cal, que vinha dos tempos, em que Salvaterra teve um Forno de Vidro, conhecido entre os séc. XV e XVI.  António Santos (António Béu), lembrava-se que por volta de 1930, só existia aquela elevação de terra.Na década de 80, os anexos do antigo Forno de cal, serviam para Júlio Gonçalves, explorar uma vacaria que produzia leite.
*José Gameiro

Nota: Foto 1do autor (Forno de Cal - Inactivo em 1970) * Foto 2 Publicidade de 1936

publicado por historiadesalvaterra às 11:53
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Quinta-feira, 20 de Junho de 2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO *QUANDO HAVIA A REMONTA DO EXERCITO em Salvaterra de Magos.

QUANDO HAVIA  DEIRA DE REMONTA DO EXERCITO,

em Salvaterra de Magos

A Remonta de Solípedes e Cavalos tinha na primeira metade do séc. XX dois períodos do ano que decorriam no país, para o suprimento dos  efectivos. do exército português.

No norte do pais, recrutava-se mais o cavalo Garrano para o uso no transporte.  No Ribatejo, em Salvaterra de Magos, verificava-se no início da Primavera, e final do Verão, e a vila nesses dias tinha movimento desusado. 

Por volta do mês de Março, os Lavradores e outros detentores de animais vendiam  os que não usavam para o inicio das sementeiras. Em Setembro, pelo S. Miguel, quando as colheiras do ano estavam no fim, e o gado era preparado para deixar as terras do campo, para passarem o Inverno na charneca.

Os cavalos asilvestrados da raça Sorraia em maior numeram, que o Lusitano, que viviam desde poldros nos mochões do Tejo, sem nunca terem levado corda, eram recolhidos, para estarem a salvo no Inverno das cheias daquele rio.

Aqueles destinados à sela, também chamado “cavalo de monta” ou “cavalo andador” – eram sujeitos a um intenso trabalhado de desbaste e ensino, primeiro por Campinos já muito experientes, e no final por mestres cavaleiros, que alguns lavradores tinham a orientar as suas cocheiras.

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O mesmo se passava com os solípedes, até se tornarem animais mansos de carroça.

 Os Lavradores de Salvaterra, tinham na vila espaços chamados locais da Cobrição – onde faziam a mistura de cavalo com égua, ou a “hibridação” de cavalo/ou égua, com burro/ou burra, dando origem à mula ou macho.

Era uma produção para equilibrarem as finanças das suas Casas Agrícolas, e todos os anos destinavam os excedentes, ou já marcados à nascença para a Remonta do exército.

- A Câmara Municipal, intermediava a realização do Mercado, emitindo por sua vez  um edital, que dava a conhecer em todo o concelho, do dia e hora da Remonta. No texto do documento era informado também os preços a pagar para cada espécie.

O Mercado da Remonta, normalmente realizava-se ali junto à Fonte de S. António da vila. Manhã cedo, muitas vezes até na véspera, já chegavam animais para a Inspecção e compra.

 – A remonta, era um trabalho feito por equipas militares que incluíam oficiais do ramo de cavalaria, e veterinários. Todos usavam bengalas métricas, e numa primeira fase lá selecionavam os animais nobres, seguindo-se depois as bestas de carga.

 Em reunião de um júri eram apartados “como comprados”, seguia-se o carregamento. O pagamento vinha uns meses depois através das das Finanças.

Muitos destes oficiais militares, ficavam alojados durante alguns dias, nas habitações dos Lavradores da terra, onde usufruíam de alimentação e cama. Os soldados com e sem divisas, tinham aposentadoria, nas Abegoarias.

Vinha de séculos esta prática mesmo com os civis quando vinham administrar o Paço e sua Coutada, enquanto não tinham aposentos próprios, encontravam guarida nas casa realengas da terra. O mesmo aconteceu com militares de patente, que integraram o Regimento Cavalaria 10, criado por decreto de D. Miguel em 1833, e instalado em Salvaterra e que guarnecia o seu Paço Real.

 No final do séc. XIX, registaram-se a chegada a Salvaterra de um tal Menezes e um outro de nome Vinagre, e ficaram nestas condições.

 No terramoto de 1909, a guarnição militar do ramo de engenharia, que aqui se instalou para a recuperação dos estragos na urbanização na vila, estava o militar, Engº João Oliveira e Sousa.  Encontrando guarida no seio da família do agricultor, Porfírio Neves da Silva, veio a enamora-se de uma das filhas, com quem casou.

Veio a ser um próspero lavrador, em Salvaterra, tendo desenvolvido e apurado o cavalo Lusitano, raça de animal que ainda hoje é preservada pelos seus netos.    

No dobrar do séc. XX,  no Largo daquela Fonte, junto à câmara municipal, houve um Mercado de Remonta.

*José Gameiro

Nota: Fotos 1 e 2 ) Internet * 3) Alex. Cunha

publicado por historiadesalvaterra às 22:09
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