*Uma Homenagem a meus pais – Gente que descendia
do povo rural, e que sofreu as suas agruras !...
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Naquele mês de Setembro do ano de 1950, as vindimas estavam a terminar, tal como o Arroz eram as últimas colheitas do ano. A chuva de Outono, como sempre já se começava a sentir nos últimos dias. Nos canteiros do Paul de Magos, a ceifa era difícil, os grandes ranchos de homens mulheres, já tinham água que dava pela canela. Como chovia sem parar depressa todo o campo, ali para os lados da borda de água, sentia já o efeito do transbordar do rio Tejo, mostrando aquém dele tirava sustento que vinham aí tempos de agonia e tristeza.
Esta cheia, foi de pouca dura, tal como outras que lhes sucediam, não dando tempo às terras enxugarem. Uma houve que durou várias semanas, chegando mesmo ao Natal, até porque os campos da Charneca, não seguravam as correntes de águas que corriam por várias valas a caminho da vala real, e Ribeira de Magos rebentando com a Ponte da Madeira.
Os valados aqui e ali, mostravam grandes rombos, era uma dor de alma vê-los ; diziam os lavradores que nestas horas de dor também juntavam a sua voz à do povo para quem o sustento da família, era recebem algumas moedas da solidariedade alheia. O mês Janeiro, era igual com a chuva, por vezes tocada a um vento agreste, que trazia frio, lá se viam umas abertas, onde o sol fazia negaças, um pouco envergonhado. Uma ou outra mulher mais afoita, lá vendia na vila, uns ovos das galinhas, para a compra de alguma comida para os filhos, e do milho para alimentar aquelas aves. O Natal estava à porta.
- A fogueira de um cepo de uma velha árvore, convidava alguns grupos de homens, já com o dia bem adiantado até à hora do almoço, e desde a meia tarde, até ao do luz fusco, ali ficarem encostados ao muro dos Freires, em frente à taberna do João Castelão ( era o local da praça da jorna dos homens), na esperança de alguém os vir contratar para uns “biscates” no campo.
O Mês de Março, lá chegou trazendo esperanças àquela gente, as águas da cheia já tinham desaparecido, os seus “nateiros” contribuíam agora para a fertilidade dos solos e riqueza agrícola.
O provérbio popular, que vinha dos avós, aí estava: - Março, marçagão * Manhãs de Inverno, Tardes de Verão. Os terrenos começaram a enxugar, era tempo das reparações dos estragos causadas pelos dias longos de inverno. Os agricultores, depressa tinham escolhido na vila - os afamados valadores de Salvaterra, muito conceituados no Ribatejo, apoiados por ranchos de mulheres. Algumas aos pares com paviolas de terra, e outras como em fila, lá andavam com as gamelas à cabeça, trazendo terras negras – que o povo chama terras de salão, para a reparação dos rombos nos valados.
Os homens, com as pequenas pás de valar, lá reparavam os vários rombos ao longo dos vários valados, grandes e pequenos, que existiam até à ponte da vila, no cais dos barcos.
Uma mulher, era encarregada de tratar da fogueira, e depois já com brasido bem vivo, num ferro em cima de 2 paus segurava o aquecimento das panelas da comida.
O Capataz, olhando para o seu relógio, pendurado numa corrente no bolso do colete, lá gritava - está na hora do almoço. Os homens cortavam ao meio um pão de uma semana de cosedura, e feitos uns pequenos quadrados no miolo com a navalha, usavam-se uma vara de Loureiro/ ou Salgueiro - para suportar o peso da fatia do pão a uma distância apropriada (vergando um pouco), o pão sob vigilância aloirava, depois era untado com um fio de azeite e alho.
Os mais velhos, tinham o hábito de ver se o pão, mesmo aloirado estava bom, encostando-o à orelha, e ouvir o azeite ferver . O toucinho cozido (muitas vezes de vários dias), também servia para untar o pão. Nesta refeição ligeira ainda se usava uma posta - fina, de bacalhau cozida na véspera, que era passada pelo lume brando para aquecer.
O Torricado, era acompanhado de vinho/ ou água-pé, que corria pela garganta “goela abaixo” com o garrafão deitado no braço passando de mão-em-mão.
No decorrer da década de 50 do séc. XX, ali no lado norte do inicio do Dique – estrada para o Escaroupim, num terreno da família Costa Ramalho, foi usado para as boiças ( pequenas parcelas de horta e árvores de fruta), usado pelo população rural.
A terra arenosa solta “recebia” a frescura da bacia do Tejo, a água encontrava-se a pouca profundidade, meu pai, tinha ali também a sua boiça, e muitas vezes, comi Torricado feito por ele, recordando os seus tempos de trabalhador do campo.
*José Gameiro
Fotos: Reconstituição: Rancho Folclórico do Granho -2018
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