Sexta-feira, 3 de Janeiro de 2014

3 - CRÓNICAS DO MEU TEMPO - AS AMOREIRAS DA VALA!....

Corria o ano de 1952, o rapazio que morava ali perto da Capela,  aproveitava todo aquela zona da vala real, para o seu entretém, depois das horas da escola.  Quando o cais não tinha cargas, era ali que disputavam os seus jogos da bola, mesmo descalços.  Outros dias, guardavam as cabras do “Ernesto Cigano”, que passava o tempo jogando cartas, na taberna do Camilo.

Um antigo pescador, o velho Cadório, aproveitava os serviços daquela gentalha, para “correr corda” nos choupos que eram muitos em tràs de Monturos, mesmo ali ao pé da vala pequena. Os mais afoitos, faziam correr à mão, os bidons de ferro, com petroleo, pelo empedrado da rua de S. Paulo, para a mercearia da Firma Almeida & Hentiques, mesmo no seu inicio, ao pé da torre da Igreja Matriz. O seu dono, Francisco Henriques, homem de idade avançada, éra duro de ouvido (já usava aparelho no ouvido), dava uns tostões, ou alguns rabuçados - e lá dizia:  Querem mais!... Ólha, ólha, recebem estes ou nada feito.  O petróleo, Gasolina e Gasóleo, estavam armazenados nuns depósitos, junto à vala real, traziado de um barco cisterna, desde Lisboa, duas vezes por semana.   O  espaço atrás do Celeiro da Vala, era um terreno sempre com erva  fresca, havia ali uma boa dúzia de velhas amoreiras, eram o local onde familias de ciganos, acampavam com suas tendas de pano semanas a fio.  Foi ali que muito brinquei, com os seus filhos e deles me fiz amigo, especialmente do Navéres e do Edmundo.  Foi em cima daquelas árvores, que fumei o meu primeiro cigarro. Eramos um grupo, e compramos um maço “Kentuchy”,que tinha dez cigarros acabados de entar no mercado, os chamados mata-ratos. A compra foi na taberna do  Camilo Miguéis Matrinez – refugiado da guerra de Espanha. Cada um entrou na conta com um tostão.

 No grupo, ente aqueles que a minha memória já não guarda, estavam o João José Naia, João Cardoso, Vitor  Diogo e o seu primo Manuel Carlos e o João Cabaço Lino.

 

Cada um foi para uma árvore fumar o seu cigarro,  o medo era tanto, até porque por ali andava a Guarda-Fiscal, que fiscalizava a entrada/saída das Fragatas e barcos de pesca    ( estes tinham o Posto junto ao Fontanário de S. Sebastião – ao lado da oficina do Armando Leitão).   Um fiscal, o cobrador dos impostos da câmara municipal, assentava escritório, numa barraca de madeira, mesmo ali à quina do celeiro. Era o senhor Júlio Lino (como o rapazio lhe chamava), pelo respeito que imcutia, era pai do  nosso amigo de brincadeiras – João Lino. No entanto era pessoa muito estimavel entre os fragateiros e pescadores. Muito conhecido,  pelas suas participações como guarda - redes,  nas equipas do Salvaterrense.

 

 

 

Naquele dia, para mim memorável, depois da fumaça fomos todos de “ranchada” até ao pomar, passar com as cascas das laranjas pela boca, para que o cheiro não fosse notado quando do regresso a casa.

 Aliás, a nossa presença naquele grande pomar, era notado todos os dias, por ali brincávamos algumas vezes com a filha do Conde Monte Real.

Este, um dia mandou fazer um Picadeiro, para ela aprender a andar a cavalo.

 

 

O chão daquele recinto, foi coberto de cascas de arroz, que veio das instalações fabris  da Casa Cadaval de Muge. Os dias de treino, eram de grande festa para o rapazio, pois a maioria penduravam-se no muro, apreciando todo aquele aparato e como a Condessa, nos conhecia, algumas vezes, nos convidava para entrar nas traseiras do Palacete, oferendo-nos um pequeno lanche.

 Bons tempos, de meninice!......

   Fotos:  1) Terreno junto à vala real, local onde existiam uma boa boa dúzia de àrvores - Amoreiras de amoras branças * 2) Grupo de rapazes, descalços, na ponte da Vala real ( o autor é o 3º lado esquerdo) *3)  Vala real - os Depósitos, vêm-se lado esq. da foto

 

  Nota:  Ver o Post 29 “ O Correr da Corda” – 16.2.2009  * Post 40 “Os Cabritos do Ernesto Cigado” – 16.6.2009

 

JOSÉ GAMEIRO

publicado por historiadesalvaterra às 10:32
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