O PONTÃO DA PALHOTA
( ou a passagem da camioneta em cima da barcaça)
Por volta de 1920, nas terras da Leziria, mantinha-se para atravessar o rio Tejo, o uso da passagem de barca (barco de grande porte e tonelagem de carga) entre outras, no Pontão do Cabo, para Vila Franca de Xira, e Palhota do Reguengo, com Salvaterra. Nesta vila e concelho, há registos que a passagem do rio, já era conhecida no Escaroupim e Porto de Muge, em época romana. Em Salvaterra, a caminho do Escaroupim, havia uma pequeno recanto no leite do rio, que tinha o mesmo nome – Palhota. O Pontão pertencente à freguesia do Reguengo, tinha ali a beijá-lo as construções em madeira das habitação dos avieiros vindos de Leiria. Era ali, que as mercadorias e produtos hotícolas, vindas do Cartaxo e Pontével, com destino a Santarém e Lisboa eram carregadas nos barcos/fragateiros de; José Sabino, Redolfo Chaves, José Maria e Francisco Gralha-Gralha, entre outros!.. Os barcos com os nomes de aluentes do Tejo: Nabão,Sorraia e Zezere, por lá andavam com os fiscais, guardas-rios.
Já vinha do tempo do inicio do caminho de ferro em Portugal, que muitas destas passagens fluviais no Tejo, tinham desaparecido, como a do Vale de Santarém. A Ponte D. Amélia, era algumas vezes usada como pedonal, mesmo que fortuitamente. O Pontão de Vila Franca, em 1951, foi substiuído com a construção da ponte. A barca da Palhota, naquele tempo tinha grande movimento, era solicitada para a atravessia, de pessoas e bens. Os lavradores, usavam-na para passagem dos grandes ranchos de homens e mulheres, algum gado, alfaias e material agricola, que trabalhavam maioritariamente nas terras das margens do rio.
Em Salvaterra, com a construção da estrada para o Escaroupim, em 1892, no logradouro da Pallhota, foi feita uma rampa, que passou a dar acesso ao pontão, ali construído em madeira. As duas Palhotas, eram ligadas pela barca ( barcos de madeira, alguns de grande porte e tonelagem de carga) Naquele tempo tinha licença para explorar aquela passagem, José Ferreira, que vivia em Salvaterra, numa casa construída num pequeno botaréu, mesmo à entrada da Trav do Forno de Vidro (1). O arrais Vicente Francisco, conta-nos no seu livro “Memórias do Tejo”, que por volta de 1931, aquele pontão da Palhota de Salvaterra, recebeu obras, em pedra e cimento, ligando este à rampa já existente. Tal construção, foi recessária, para receber alguns barcos fragateiros, que ali aportaram durante alguns meses a carregar/descarregar mercadorias, pois o cais da vala real de Salvaterra, estava em obras. A chamada da barca, quando estava no lado oposto, o passageiro, usava o seu assobio, ou então utilizava uma corneta (feita de um chifre de boi) colocada num poste de madeira.
Algumas histórias, se contavam com o uso desta barca. Uma como: Um dia eram transportados alguns animais – estes aninais, como sempre eram amarrados pelo pescoço, uns aos outros, através de uma corda. Um deles mais nervoso, atirou-se à agua e tanto era o seu medo, que caiu em frente do barco, nadando com tal força e precisão em direção a terra, que acabou por ser aproveitado para rebocar o barco até à outra margem do rio. Uma outra, com um cunha de pitoresco – Rafael Fernandes Roquette (o Rafael Moca), vivia em Salvaterra, com uma exploração de camioneta de aluguer.
O Rafael Moca, entrava sempre nos convívios realizados na terra, como os passeios de barco, através do Tejo, que se realizavam aos domingos e dias santos, em tempo de verão. Éra versátil nas suas brincadeiras, alegrava sempre os convivas. Mas uma situação, acabaria por ficar por muitos anos nas conversas do povo: Um dia teve necessidade de fazer alguns transportes, entre as duas margens – levando a ideia já estudada, apresentou-a ao barqueiro. Juntou-se duas barcas, a camioneta e carga depois de várias tentativas no areal, com a ajuda de algumas pranchas de madeira, lá entrou no transporte da travessia do rio, resolveu assim o Rafael, a necessidade que tinha durante alguns dias de transportar a mercadoria, que lhe fora confiada, de Salvaterra para o Cartaxo.
Na década de 40 dos séc. XX, João Batista Miranda (João Maçarongo), comprou a licença à familia de José Ferreira, e durante alguns anos explorou aquela passagem.
Anos mais tarde, João Miranda, cedeu a exploração daquela passagem fluvial, a três familiares, pescadores no rio; João Tomaz, António Moreira e João Rafael Tomaz.
Estes ainda mantiveram a exploração durante algum tempo, mas as exigências vindas das entidades que vigiavam aqueles transportes fluviais, quanto à segurança oferecida aos passageiros transportados, levou-os a abandonar a actividade, terminando assim a passagem de barco entre as Palhotas, nas márgens do rio Tejo.
Naquele tempo, já aquela zona de Salvaterra, era muito procurada pelo povo, que ali no verão ia passar os domingos, para banhos nas águas limpidas do rio e aproveitando as sombras dos salgueirais. Um velha e grande pinheiroca, ali se tornou famosa como referencia do local.
(1) – Foi dali, naquele Botaréu – segundo nos contou, em 1988, José Luis Caleiro, de 96 anos de idade, que muito povo aplaudiu a chegada do Rei D.Manuel II, quando visitou Salvaterra de Magos, em 1910, pelo do terramoto de 1909 * Foto de 2012 - Antigo Acesso ao Pontão da Palhota/Salvaterra * Foto do Barco Fragateiro de João Batista Miranda
JOSÉ GAMEIRO