Segunda-feira, 15 de Julho de 2013
Ainda se estava a poucos anos, após ter terminado a II guerra mundial, o estado português, comprou à Inglaterra, alguns aviões que este país tinha usado naquele conflito. Dias antes tinha saído uma ordem (edital) da câmara municipal de Salvaterra de Magos, que dava cumprimento, a uma uma determinação do Governo Civil de Santarém, que alertava os munícipes que estivessem no espaço da passagem dos aviões, que na noite, de deteminado dia (que já me esqueci com o passar dos tempos), faziam o habitual percurso, Tancos até Alverca, desta vez de noite, e integrado num exercício da aviação do exército português.
Estávamos, no dobrar do séc. XX, uns dias antes daquele dia marcado, a azafama era grande em todas as lojas de comercio a retalho da vila. Os fregueses, especialmente as mulheres, procuravam jornais antigos e todo o tipo de papel (aqueles e estes serviam de embrulhos) do produto aviado ao balcão, muitas tinham deixado o trabalho, com perca de meio dia de jorna, para cumprirem o então editado pelas entidades oficiais.
Os aviões passariam de noite e era necessário que não fosse visto qualquer nesga de luz nas casas. Naquele tempo usava-se como luz, o candeeiro a petróleo e a vela. Raro era a família, que usa-se o gasômetro, o custo do mesmo era elevado, sendo só serviços municipais a terem-no em uso nas rua da vila. Mesmo assim, nessa noite Salvaterra, tinha de estar às escuras, durante o horário da passagem dos aviões.Os homens jovens, todo aquele que já tinha servido nas fileiras do exército, estava a par do que eram as “Manobras”, pois periódica mente já depois de estarem na situação de “passagem à disponabibilidade”, eram chamados para tais exercícios.Mas esta situação, era uma novidade, o povo andava com medo, e do dia estava próximo.
Realmente naquela noite, e que não me lembro nem do dia e mês, mas julgo que foi em 1950, pelas 22,00 horas, pois vi meu avô materno, tirar o relógio do bolso do colete; um barulho ao longe, primeiro ténue, acuando depois um pouco mais intenso, até que intensamente e durante uns cinco minutos, se faz ouvir no ar mesmo ali próximo da vila, até que se dissipou nos nossos ouvidos.
Realmente, no dia seguinte, os jornais deram a noticia – Aviões militares da força aérea, deslocaram-se de noite, de Tancos até Alverca, em exercício noturno, usando como ponto de referência o leito do rio Tejo.
A PRIMEIRA E ÚNICA VIAGEM DE AVIÃO
Toda aquela lembrança veio a propósito, pois queria aqui lembrar, a primeira vez que andei de avião. Naquela época, cruzavam o espaço aéreo desta vila, pequenos aviões de uma ou duas asas de cada lado, as chamadas avionetas.
Também o Conde de Monte Real (Jorge de Melo e Faro), vinha até Salvaterra, usando além do carro, este pequeno aparelho, que tinha como base de aterragem o terreno da Amieira, estando logo à sua espero o empregado Rui Cordeiro, que o trazia até ao seu Palacete. O rapazio, ao vê-lo voltear pelos ares, logo gritava: “Olha, o avião do Conde!..... “ e numa correria, que durava uns bons minutos, lá se juntava um pequeno grupo vendo aquela novidade. Um dia o Conde, convidou alguns rapazes a dar uma volta com ele. Muitos fugiram com receio, outros a medo esperaram, e o primeiro lá foi. Cá debaixo, era bonito, maravilhoso mesmo, ver a avioneta subir e descer lá para os lados do Tejo.
Quando chegou a minha vez, muito receoso lá entrei e a mando do senhor Conde, sentei-me a seu lado ( o avião tinha dois assentos), ele passou-me um cinto pelos ombros, com algumas palavras,para me acalmar, lá o avião, roncou num barulho ensurdecedor e depois estava no ar.
Que medo o meu, tudo tão pequeno cá em baixo– estava baralhado, e de repente as águas do Tejo num grande lençol que brilhavam, salteando com a luz do sol. De repente, foi-me dito, não tenhas medo, com a descida – ele, o Conde, começou a rir-se, o avião descia endiabradamente, como que a entrar naquela água tão límpida. Segundos depois estava subindo, dando uma volta larga, que terminou naquela improvisada pista da Amieira.
O senhor Conde, tirou-me o cinto, fez-me um afago, com umas palmadas nas costas, abriu a porta do aparelho, desci e corri loucamente não sei para onde. Estava todo urinado e borrado!.....
Realmente agora 60 anos, relembro como foi bom andar de avião!....
Nota: Foto do Conde Monte Real ( com a vestimenta de piloto que usou na prova de automobilismo; Porto - Santarém) , em 1936, a/d * Terreno da Amieira, com a casa agrícola da propriedade, ainda existe ( foto do autor)
JOSÉ GAMEIRO
Segunda-feira, 8 de Julho de 2013
Corria o ano de 1952, numa tarde de verão daqueles dias tão grandes até ao por-do-sol. Os jogadores iniciavam a partida, sem árbitros, a sua disputa, como os demais jogos nunca chegou ao fim. Havia sempre um motivo para mais uma pontapé, mais um murro, um empurrão e escaramuça estava pegada, entre os dois grupos e seus apoiantes. No dia seguinte, já todos eram amigos, apenas se discutia, o porquê de tal “guerra” ter começado e os seus autores. Quem deu mais e quem levou menos!.....
Os encontros eram combinados na escola, e tinham retorno noutro dia, nos campos do adversário. Os miúdos da vala; jogavam no cais (quando estava vazio das cargas dos barcos), na rua de trás-monturos, na estrada junto a três grandes árvores (plantadas em 1883, quando da construção daquela via, que ia da Capela real até à Palhota) e ficou assente sob estacaria, ou ainda debaixo de um conjunto de árvores/ Amoreiras (junto ao Celeiro da vala), quando os pescadores “Cagaréus”, tinham o espaço vago de bateiras e acessórios.
Outros, “famosos” jogos eram nas areias – espaço de terra, em frente ao edificio da Falcoaria. Outros ainda, jogavam-se em terreno junto à Casa do Povo, ali ao lado dos prédios novos. Havia, os que aproveitavam o Largo do Lopes, ali em frente da escola, que tinha terra e seixo. Os das Barracas, utilizava-se o terreno de areia solta, junto ao cemitério (hoje, rua Padre Cruz). Os da avenida, tinham como seu, um espaço dessa mesma avenida junto à escola, até porque o movimento era escasso naquele tempo.
Naquele dia, de verão, o jogo disputou-se no terreno junto à Fonte do Arneiro, e no final foi um fartote de banho na água frequinha daquele fontanário. A bola, por vezes (poucas), era de borracha, ou de couro. Muitas delas, eram fruto de algum sorteio de colecções de fotos de jogadores. Esta última pesava bastante – a chamada bola de catexugo, depois do seu interior estar rebentado, era substiuído por alguma bexiga de vaca ou porco, previamente seca, que depois se pedia o seu enchimento no Posto de gasolina do José Sabino, junto à Praça de toiros. Algumas vezes, lá se disponabilizavam ao seu enchimento, os donos das casas de bicicleta, o Manuel Bento Coelho (O Manuel Chumbo) e o António Nenes Henriques (O bicho-da-seda).
Eu, pertencia ao grupo da Vala, poucas vezes jogava, pois tinham mais jeito para estar na assistência, aplaudindo uma ou outra rasteira da miudagem minha vizinha e companheira de brincadeira diária.
Os que estavam na assistência, tinham uma dupla função – eram mirones, para o alerta e fuga imediata, quando na vala, o seu fiscal Julio Lino, estava por ali e já dentro da vila, se avistava o Zelador; José Miguel Borrego.
Outros tempos, de jogar a bola!....
.Nota: Rapazes descalços, onde o autor se encontra, em cima da muralha da Ponte da Vala real * Estrada do Rossio, espaço onde disputaram alguns jogos dos
“rapazes da vala” * Largo junto à Fonte do Arneiro, onde se disputaram inesquecíveis jogos de bola.
JOSÉ GAMEIRO
Quarta-feira, 3 de Julho de 2013
Hoje, quarta-feira, manhã cedo, a antever mais um dia quente de verão, lá andava eu, no meu passeio diário, que não tinha itinerário
. Depois de algum tempo em andança, algo me “empurrava” , para ir até à Ponte de pedra, lá para os lados dos acessos ao rio Tejo.
Ia em busca da construção em alvenaria, que resguarda a nascente de água, que sempre foi emblemática da vila – A nascente da Peteja. Uma construção, embutida, num decalco de terras, que matinha a água fresca. Àgua fresca, que anos antes (talvez mais de meio século), e disso me lembro bem, quando menino acompanhava minha mãe, a encher algum pote de barro, para dar de beber – matando a sede, a rancho de mulheres que ali próximo , trabalhava a terra.
Depois de ter passado a Falcoaria, lá um pouco distante, no lado esquerdo, se via grandes silvados.
Depressa me apercebi, que aquela emblemática obra, estava tapada com silvas e outro tipo de ervas de grande porte, até porque ali junto existe uma pequena vala de escoamento de águas pluviais e sangria de terras. Estas águas, vão alimentando todo aquele silvado, pois a a humidade existente., disso nos dá conta.
Depressa, recordei quanto aquele sítio nada tinha a ver, com a reportagem que ajudei a fazer para o Jornal Correio da Manhã, em 1985, e cujas fotos obtidas, nos davam conta de uma bonita construção em alvenaria, com uma grande abertura de acesso.
Salvaterra de Magos, já de si é parca em monumentos e construções de interesse público. É assim, desta maneira, que se conservam obras, que nos levam a muitos e muitos, anos atrás, e que nos podem dar a conhecer melhor, quanto era a forma de viver da sua população, em tempos de trabalhar a terra, onde as searas eram de sequeiro e ocupavam “ranchos” de centenas de homens e mulheres.
JOSÉ GAMEIRO