Sexta-feira, 23 de Dezembro de 2011
Há muito que vínhamos escrevendo que ele existiu!....
Vem de há séculos, o registo da existência do Fontanário Santo António. Era uma Fonte que recebia água através de um longo subterrâneo, de uma nascente, que tinha a máe-de-água, mesmo por debaixo onde foi construído, por volta de 1987, o prédio que veio albergar uma instituição bancária, confinando com a actual Av. Dr. Roberto Ferreira da Fonseca.
O antigo Fontanário, um dia por volta de 1957, foi destruído ficando “emparedado” com o muro do atual Jardim, na Praça da República. Também nunca deixámos passar em claro, a existência de um grande tanque que recebia o excesso da sua água. Nada se perdia.
A água corria a céu aberto pela Trav. do Secretário, para encher aquela construção em pedra de lioz. Era uma construção normal, a tirar para o cumprido, com uma altura por volta de um metro, as lages que faziam as suas paredes,mostravam uma espessura, que suportava uns milhares de litros de água, e quando cheio, deitava o seu excedente para uma pequena vala, que a transportava até à vala real. Era ali, que o gado em manadas, ladeando a vila, pelos terrenos de trás-de-monturos, se sedentavam da canseira de muitas horas percorridas nas suas idas e vindas através dos campos de Salvaterra. O próprio gado leiteiro que tinha estábulo, na vila, ali vinha beber ao cair da tarde. A sua limpeza interior, do verdete que ia aparecendo, era feita numa média de três vezes por ano.
Por volta, de 1957, meu pai e um outro funcionário camarário, ainda se encarregavam daquele trabalho, usando muitas vezes arreia do Tejo, com uns restos de pano retirados de velhas camisas. O rapazio, não se atrevia, talvez por medo ou respeito, a atirar um pequena pedra lá dentro, o mesmo acontecia ao regato que lhe transportava a água, pois sabiam da sua importância, pra a vida da comunidade local. Um dia, talvez em 1985, o executivo camarário, construiu naquele terreno umas instalações oficinais, e vai daí como o tanque à muito não servia, entulhou-o. Desapareceu, assim mais mais um vestígio de outros tempos, de outros modos de vida do povo de Salvaterra. Alguns centenários eucaliptos foram resguardados da destruição, continuando nas suas altas copas ciclicamente,ano após ano, as muitas cegonhas a nidificar nos seus grandes ninhos. Uma cabine transformadora de electricidade, para reforço do abastecimento público à vila, foi ali construída.
Há dias, numa limpeza ao terreno que circunda, as precárias instalações oficinais municipais, e o canil municipal, foi posto a descoberto a base do grande Tanque,sem vestígios das suas grandes lages que lhe tinham servido de paredes.Estas talvez, estejam misturadas com o muito entulho removido. O Tanque, decerto para muitos, especialmente as gerações mais novas nada lhes diz, no entanto era emblemático, fazia parte das memórias da história de Salvaterra de Magos, que tão parco está,do que nos possa mostrar do seu passado.
Nota: No caderno de Apontamentos Nº 36, “ O Abastecimento de água a Salvaterra, através dos séculos” incluído no II Volume da Coleção “Recordar, Também é Reconstruir” - editado no Blogue: www.históriadesalvaterra.blogs.sapo.pt
Fotos: 1 – Fonte de Santo António, quando da sua destruição (1957) * 2 – Os Eucaliptos, ladeados de água, quando as águas das cheias ali chegavam (1960) * A base do grande Tanque de água, agora posto a descoberto* Fotos do Autor
JOSÉ GAMEIRO
Segunda-feira, 12 de Dezembro de 2011
Já passaram alguns dias, do falecimento do Pe João António da Costa Ferreira. Certo é, que só agora tomei conhecimento do acontecido. Foi sepultado, no cemitério da sua freguesia natal. A notícia, consternou-me!... O Pe João Ferreira, ainda tinha muito para dar à sua Igreja. Era um devotado servidor, da sua fé cristã. Fé, que desde menino, lhe foi abrindo os horizontes, percorrendo os caminhos de Deus de modo que pudesse responder ao Senhor, num diálogo pessoal, livre e responsável.
Este sentimento de grandeza, foi desenvolvido numa carta, que dirigiu aos Cristãos da Igreja de Santarém, nos dias que antecederam ao iniciar o seu apostolado, pois queria informar a comunidade – paroquial e seminário de Santarém, foi lá que se preparou e recebeu os ensinamentos para a alegria de servir o seu Deus.
Como sempre que nos encontrávamos, ia –me dando conta da sua caminhada, mas naquele dia pediu-me que desse à estampa no jornal “Aurora do Ribatejo”, pois eu, na época era um colaborador assíduo daquele semanário.
O Pe João Ferreira, nasceu em Salvaterra de Magos, quando se sentiu preparado foi ordenado presbítero,no dia 22 de Julho de 1979, passando a Diácono, testemunho que recebeu das mãos do então Bispo, da capital do seu distrito, invocando sobre ele a acção do Espirito Santo. Uns dias depois, a 29 daquele mês na Igreja Matriz, onde tinha sido baptizado, celebrou a sua “Missa Nova”, estando presentes o Bispo Auxiliar de Lisboa; D. José Policarpo em representação do Bispo de Santarém. Na homilia, o jovem padre João da Costa Ferreira, agradeceu a presença daquele representante da sua Igreja, a todos os sacerdotes e seminaristas que com ele conviveram durante anos no seminário de Santarém, fez sentido destaque da amizade deles recebida.
A Igreja, encontrava-se repleta de fiéis, seus conterrâneos, que auguraram-lhe boa caminhada, nas veredas da tarefa que tinha escolhido, ser cumpridor do Evangelho, pois como dizia na sua missiva; Deus, apanhou o seu coração!....
Às suas irmãs, também minhas amigas, as minhas condolências.
JOSÉ GAMEIRO
Quinta-feira, 1 de Dezembro de 2011
Nos dias que correm as pessoas de terceira idade, agora “pomposamente” chamadas de seniores, tem dado assunto para páginas e páginas de literatura, horas de conferências, especialmente nos debates televisivos, onde ficam registadas sábias lições sobre gerontologia. Corria o ano de 1985, muito pouco se tinha feito em Portugal, em benefício dos que um dia tinham chegada ao “fim da linha” e se encontravam agora desamparados, pois seus familiares passaram a ter outros modos de vida e tempo, para os aconchegar no seu lar. No entanto era uma prática que se vinha implementando
no país, na década anterior. Naquele ano, em Maio, fiz publicar no semanário “Aurora do Ribatejo”, uma notícia onde destacava a iniciativa de um grupo de “amigos de boa vontade” da Misericórdia de Salvaterra de Magos, em construir um Centro de Dia para Idosos, com o apoio ao domicílio, o que era raro no país. Aquele original, teve eco noutros meios de comunicação, que a reproduziram e foi assunto da semana. Um deles, foi a rádio comercial no seu
programa “As Cidades e as Serras”, que o reproduziu em diversos serviços noticiosos. Desde o dobrar do século, que se aventava a necessidade, da criação de uma casa daquele tipo, na vila, sede do concelho. O momento chegou! O grupo reuniu-se num sábado, e levou a cabo um peditório, pelas ruas de Salvaterra. A população da vila, estava previamente informada, mas não deu o apoio esperado à iniciativa. No final, os elemento do grupo, abriram os sacos de plástico, e o resultado de algumas horas de forte empenho, era insignificante, resumia-se a um punhado de notas de 20 escudos cada um. Os promotores da iniciativa, não desanimaram!... Voltaram à rua, e batendo nas portas, no final acabaram por verificar, que eram parcos os resultados. A população, continuava a não colaborar. Persistindo no “sonho”
receberam o apoio da câmara municipal, através de António Moreira e Joaquim Mário Antão; Presidente e Vereador da Câmara Municipal, que além de um subsídio, foi colocado ao dispor um espaço, no antigo edifício pombalino, próximo da trav. do Secretário. O Governo Civil de Santarém e outras entidades oficiais, acarinhando a iniciativa, ofertaram algumas dádivas. O Centro de Dia, foi finalmente inaugurado em 21 de Junho de 1985, acolhendo grande número de idosos, que ali passaram a ficar instalados todo o dia, libertando as suas famílias, para as suas
actividades profissionais. Agora, as inscrições “choviam” todos os dias!.... Os doentes, e idosos acamados nas suas residências, passaram diariamente a ser visitados e tratados, o que era uma novidade, uma viatura foi adquirida para tal fim. Os seus promotores, que não desistiram, e continuaram a “sonhar” por um espaço novo e moderno. Tinha que ser emblemático, no campo da solidariedade social. A Misericórdia local, estava no bom caminho. O grupo, inicialmente composto por: José Teodoro Amaro , José Luís Serra Borrego, Armando Rafael Oliveira, António José da Silva, José Rodrigues Gameiro(José Gameiro), João Castanheira, Eurico Norberto Santos Borrego e João António Nunes Silva. LAR E CENTRO DE DIA PARA IDOSOS O grupo inicial, que desde 1977, esperava a aprovação no Departamento e Equipamento Social, do Ministério da Segurança Social, o apoio para a construção de um novo edifício, viu luz ao fundo do túnel, tinham desbloqueado o necessário apoio. Na sua edição de 15 de Abril de 1992, o Jornal Vale do Tejo-JVT, saiu a reportagem, que fiz, da inauguração do edifício do Lar para Idosos, pela Misericórdia de Salvaterra de Magos, construído nos seus terrenos, no antigo Pinhal da Vila. “Ao acto solene, esteve presente o secretário de estado da segurança social, Dr. Vieira de Castro. Entre outros convidados oficiais, encontrava-se o Bispo da Diocese
de Santarém, D. Manuel Pelino e o presidente da câmara municipal; Dr. José Gameiro dos Santos. Entre a multidão presente, encontravam-se (numa posição de anonimato), aqueles que um dia levaram a cabo a iniciativa da construção da obra. Na altura, o Provedor, da Santa Casa da Misericórdia de Salvaterra de Magos, Armando Oliveira, numa alocução que interpretou o quanto ia na alma de todos aqueles seus companheiros, que tanto se tinham esforçado, para a concretização de tão benemérita iniciativa. “ Para que a velhice não seja um peso, mas sim um continuar da vida, onde o amor e fraternidade do ser humano, são postos ao serviço do seu semelhante – Seja tudo isto o que damos aos outros, faz-nos mais humildes e felizes”. No rosto de alguns amigos daquela obra, uma lágrima de emoção rolou, não estava ali presente o José Teodoro Amaro, a morte tinha-o levado alguns dias antes. Não viveu estes momentos felizes enquanto viveu, era um homem que, sempre se dedicou com empenho e espírito de solidariedade às instituições da sua terra. Anos mais tarde, uma outra iniciativa foi levada a cabo pela Misericórdia, aproveitando as antigas instalações hospitalares, no centro da vila, ali foi instalado um outro serviço de apoio a idosos e deficientes – O CATAI. Nota: Fotos e Texto, com base no Caderno de Apontamentos Nº 5 “Colecção-Recordar, Também é Reconstruir” – do autor JOSÉ GAMEIRO