Era um vasto terreno, já tinha albergado os bonitos jardins do paço real de Salvaterra de Magos, conforme consta em diversas narrativas. Além de florido, também entre as suas árvores as Tílias, perfumavam os ares da vila, em dias de Primavera. Por volta de 1892, há muito que o edifício real e seu jardim, faziam parte das recordações, apenas por ali algumas árvores se mantinham de pé. Naquele ano os autarcas, remodelaram aquele espaço. Foi feita a construção da estrada para o Escaroupim, através de Trás-de-Monturos, que recebeu estacaria, e os lados - da capela e do câmara, as escadarias então existentes, deram lugar a vias para circulação de carros.
O Largo, com algum arranjo deu lugar a um mercado diário e um espaço ajardinado, devidamente murado a meia altura e gradeamento em ferro, continuando ao fundo com as escadas de acesso à fonte. Àquela nova urbanização, foi dado o nome “Dr. Oliveira Feijão” O novo regime republicano de 1910, depressa limpou da vila, muita da sua antiga toponímia. Oliveira Feijão, deu lugar a Praça da República.
Sempre tive curiosidade em saber, quem foi Oliveira Feijão. Um ou outro documento, levava-me a que tinha sido condiscípulo de Gregório Fernandes, natural desta terra, juntos estiveram nos estudos de medicina. O nome também aparecia, em registos de convidados, nas ferras de gado bravo das casas agrícolas; Roquette e Roberto(s).
Recentemente foi-me oferecido um livro, “A Freguesia da Várzea” (concelho de Santarém), pelo autor, por António Miguel Ascensão Nunes (José Varzeano), nele encontrei outras importantes revelações. Com a respeitosa autorização de (José Varzeano), muitos dados sobre Oliveira Feijão, aqui registo.
• Francisco de Oliveira Feijão, nasceu em Almada, em 24 de Novembro de 1850, faleceu na Quinta da Mafarra, em 11 de Novembro de 1918. Completou o curso de medicina, em 1873, foi nomeado para o Banco do Hospital de S. José, em 1874, sendo director de enfermaria, no ano seguinte. Em Portugal, foi primeiro a fazer uma ovaritomia (um tumor no ovário), fez também operação da tiroidectomia.
• Por Decreto de 1881, foi promovido a Lente, regeu as cadeiras de obstetrícia, de patologia e de clinica cirúrgica. Acompanhou os reis D. Carlos e D. Amélia, na viagem, que estes fizeram aos Açores, pois já era médico da Real Câmara.
• Com a implantação do regime republicano, deixou de exercer a medicina e dedicou-se exclusivamente ao ensino e à agricultura. Como lavrador, foi na Quinta de Mafarra (Várzea de Santarém), que desenvolveu novas técnicas agrícolas, e com entusiasmo as ensinava às gentes do campo. Como político, foi deputado independente, defendendo a causa dos agricultores. No Congresso Vinícola, realizado em 1900, esteve presente em representação do Sindicato Agrícola do Distrito de Santarém. Em 1905, participou, noutros congressos, onde apresentou muitos estudos que fez sobre a Azeitona. Aproveitou a sua Quinta da Mafarra, para desenvolver estudos, especialmente nos ovinos, tendo esta espécie dado-lhe fama além fronteira. Sendo um poliglota, era no Francês e no Latim, que se sentia mais à vontade, para além da sua língua - a de Camões. Os jornais da época, não deixavam de acolher os seus abalizados escritos, tocando diversos temas na área da medicina, disso nos lembrou Virgílio Arruda.
• Oliveira Feijão, sendo bom cavaleiro, não olvidava convite para uma ferra de gado bravo, de gente amiga do “seu” Ribatejo. Festejos empolgantes, que lhe faziam esquecer presenças vividas nos grandes salões, antes do Regicídio.
Francisco de Oliveira Feijão, no seu tempo, não deixou de ter no campo da medicina, um espírito humanista, nunca recusando uma consulta graciosa, às gentes da Várzea, como consta nos arquivos antigos de uma farmácia da Vilgateira.
Nota: Com tantos dados agora reunidos, faço pressunção que seja a mesma pessoa, caso contrário em devida altura, farei a devida retificação.
JOSÉ GAMEIRO