Cada geração tem destas coisas. Na minha meninice, as crianças de Salvaterra de Magos, não conheciam o que era uma creche, nem sonhavam com a pré-primária. A rua éra nossa !!!
Os pequenos jornais de banda desenhada, "Mosquito" e o "Mundo de Aventuras", serviam de inspiração às nossas brincadeiras. Custavam 1$50 cada um, agrupavamo-nos e assim era custeado a sua compra.
Os cromos de jogadores da bola, cujo papel vinham a enrolar rabuçados eram colados em cadernetas, ocupavam-nos os recreios da escola, na troca dos que faltavam e, quando lá se conseguia encher uma, saía uma bola de couro, que era usada, nos jogos do rapazio, das várias zonas da vila.
As raparigas não saiam de casa depois do luz fosco, os rapazes tinham a GNR, à perna, interrompendo as brincadeiras nocturnas que, duravam até por volta das 10 horas da noite em dias de Verão. Aquele que fosse apanhado, era levado ao posto, instalado no r/chão da câmara municipal, o pai pagava uma multa.
Com os meus 4/5 anos de idade, comecei a conviver com o António Lopes, primeiro nas instalações da família, onde se encontravam as chaminés das cozinhas do antigo paço real da vila. Foi o início de uma longa amizade !
Na época, a família Lopes estava iniciando a exploração de um café com pensão, deixando a antiga taberna do "Manel Lopes", seu avô paterno, cujo espaço em frente ao vasto largo de pedra de seixo e saibro que, já era conhecido pela população, como: O Largo do Lopes,.
Éra aí onde à noite brincávamos o jogo da rôlha, alguns os que já andavam calçados, para não estragarem as botas com sola cardada, descalçavam-se e as penduravam nas pequenas tílias(1), árvores jovens acabadas de ornamentar o largo.
Com o António Lopes, também estive na escola primária, onde a nossa amizade forteleceu-se. Aos 13 anos de idade, entrei no mundo do trabalho, enquanto ele, cuja familia já económicamente desafogada, o mandou estudar para o liceu de Santarém, tornando assim o nosso convívio mais escasso.
A sua evolução na vida académica levou-o, a entrar no Instituto Superior Técnico, com o fito num curso de engenharia. Na época, existiam três frentes de guerra, na chamada "guerra ultramarina" que nos apanhou na idade das "sortes". O António Lopes, esteve numa dessas frentes, com o posto de Alferes Miliciano. De regresso à vida civil, volta ao IST, agora num curso de Educação Física, que completa. O Desporto, era uma actividade que o atraía e, pensa ensinar uma dessas disciplinas, nas escolas de Salvaterra, sua terra natal.
Contraíu matrimónio, com a professora; Maria Elisa Lázaro Ferreira (Lopes), do qual nasceram os filhos, Pedro Jorge e o António Miguel Ferreira Lopes. Como era pessoa dotada de grande espírito de colaboração, no ano de 1976, quando das primeiras eleições autárquicas, foi eleito vereador, pelo PS, no municipio de Salvaterra de Magos.
No desempenho do cargo, mostrou grande interesse em dotar a vila, com novos edíficios escolares e, em 15 de Outubro de 1983, lá estava na inauguração da Escola Secundária, de Salvaterra de Magos, que recebeu o nome de um outro salvaterrense "Dr. Gregório Fernandes", de cujos dados biográficos recolhi, a pedido de José Teodoro Amaro.
António Lopes, passou a pertencer aos cargos directivos, daquela escola e teve uma outra grande experiência, com um grupo instalou, na rua Luis de Camões, um ginásio com várias actividades de manutenção, destacando-se um método que aplicou para os doentes com problemas respiratórios. A experiência dorou pouco tempo, foi novamente "chamado" à guerra, agora com o posto de capitão, sendo surpreendido, quando visitava com a família a Feira de Sevilha (Espanha).
Regressa de Moçambique após 6 meses de mobilização e, em 9 de Julho de 1990, com 47 anos de idade, veio a falecer acometido de doença grave.
Desde então a sua saudade, tem sido sentida pela família e pelos muitos amigos.
Em 1991, foi-lhe feita homenagem póstuma, o novo edificífio escolar do ciclo preparatório de Salvaterra, passou a ter o seu nome.
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(1) - Dessas Tílias, agora apenas resta uma que se encontra junto a uma cabine telefónica
Nota: Artigo original, publicado no JVT Nº 147 de 98.07.02
JOSÉ GAMEIRO
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