Já vão mais de 50 anos quando um dia meu pai que, praticava a columbófilia me levou à sede da sociedade columbófila salvaterrense, que por não ter edificio próprio, comungava o espaço com a Legião Portuguesa, em dias alternados, na rua Machado Santos (antiga rua Direita), na vila de Salvaterra de Magos.
Foi lá que primeira vez falei com António Cadório, conhecido pelo "Mestiço", pessoa de poucas palavras, mas de uma respeitabilidade no trato que cativava qualquer um, mesmo as crianças. Era sapateiro de profissão, uns tempos antes, no inicio da sua adolcencência, sonhou ser toureiro. Daí, foi até Vila Franca de Xira, era lá num ou noutro ambiente taurino, que se sentia entre os seus pares, pois as conversas sobre toiros o deixavam em deleite.
Vinha de tempos a tempos até Salvaterra, vila onde nasceu, era solteiro e gostava da prática dos pombos-correio. Vila Franca, terra ribatejana de remotas tradições, tinha com Salvaterra, grandes afinidades taurinas e anos antes existiu um grande intercâmbio, cultural, desportivo e taurino, entre os dois povos, especialmente premutas na área do teatro, futebol e toiros.
Naquela vila, hoje cidade, lá foi vivendo o "Mestiço", mas a oportunidade de vir a ser toureiro, foi passando e então montou escola, na praça de toiros de vila Franca, não perdendo a oportunidade de dar a conhecer a arte que glorificou, Manuel dos Santos, Diamantino Viseu, idolos da tauromaquia mundial, no toureio a pé. Do seu ensino, sairam entre outros, José Júlio, que também singrou nas praças de Portugal e Espanha.
Não deixava de falar nos antigos toureiros da sua terra, os Irmãos Roberto(s), inaltecendo-os. Muitos anos depois, em 1978, já doente regressou à sua terra-natal, ao aconchego dos cuidados de sua prima Maria do Rosário Silva, casa onde fazia alguns "biscates" da sua profissão, que lhe davam algum rendimento. Era de vê-lo com vários pares de calçado já prontos, na mão, batendo de porta em porta, fazendo a sua entrega.
Sempre foi muito pobre, e no apogeu da vida, percorreu tudo quanto era sítio, onde extia uma praça de toiros, envergonhadamente solicitava uma entrada gratuita, aos empresários e toureiros amigos, conforme foi relatado pelo respeitado comentador tauromáquico - Maurício do Vale, em crónica alusiva à sua morte, nas páginas do prestigiado jornal Vida Ribatejana.
Tendo falecido em 20 de Outubro de 1979, naquele trabalho jornalistico, podemos ler: "Morreu António Cadório! Morreu um Ribatejano! Morreu um coração aficionado! Morreu um simples-grande homemdos toiros! Um homem do Ribatejo!"
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Nota: Estraído do texto do autor, publicado no JVT Nº 151 de 24.09.1998 * A sua foto está publicada no Flach Fotográfico - Algumas Figuras Públicas
JOSÉ GAMEIRO
Longe vai o tempo do Entrudo Trapalhão, os mais velhos, já aceitam os novos ritmos e danças importadas do Brasil. No entanto, lembram que na sua juventude o Carnaval além de monótono, tinha peripécias adquadas àquele tempo de vivência. Nos anos 50 do séc. passado, era com grande ansiedade que o rapazio esperava a chegada do Domingo Gordo, pois o Entrudo trazia-lhes a liberdade de enfarinhar e, de vestir-se de maneira diferente, porque em tempo diferente seria alvo de censura pública e, não só.... Além da farinha, usava-se corantes desde o vermelho, o azul até o preto e, numa correria constante lá andavam eles atrás das moças , ou vice-versa, para serem enfarinhados. Era usual os pais recomendarem aos filhos que naqueles dias vestissem roupas já em desuso por causa destes "ataques" carnavalescos. O pó de talco e o cré, vendidos em farmácias e drogarias eram os produtos mais usados e, quem não se lembra da loja do Zé Sabino, junto à torre da Igreja, já com pacotes pequenos feitos de papel, a 50 centavos cada, estavam sempre esgotados. O jogo do pote, era uma das brincadeiras que enchiam as ruas de Salvaterra, no entanto os mais desinibidos como " O Timpanas", lá faziam os seus cortejos ou colaboravam nos festivais taurinos, adquados para a época, na praça de toiros,
Uma semana antes, e de noite já muita gente se vestia utilizando disfarces, visitando as casas de familiares e amigos, fazendo vozes e gestos diferentes e, se não fossem descobertos lá pediam/recebiam uma moeda que, depois no final todas juntas dava para beberem uns copos, pois a cerveja era muito cara. Como não eram descobertos, no dia seguinte, as cenas vividas davam azo a comentários de gozo perante os visitados.
As bombas de foguetes, pelo estrondo que faziam já estavam proíbidas de serem vendidas nos estabelecimentos, pois em anos anteriores, por todo o país, muitos eram os jovens que ficavam sem mãos ou dedos, ao tentarem acendê-las.
Se recuarmos no tempo, ouvia-se aos mais velhos, outras brincadeiras, nos anos 20, a torcolência era tal e à falta de melhor, os mais audazes e brincalhões, partiam as tigelas de barro, cheias de fezes e urina humana, que estavam à porta, esperando a passagem do carro da bóia, para a sua recolha.
As terras das ruas, ainda não empedradas nem pavimentadas, ficavam com um cheiro pistolento que durava dias. Brincadeiras deste tipo, era o que se usava naquele tempo à falta de melhor, como agora se usa e, o Carnaval era tempo não desejado por muita gente.
Como é bonito, agora ver carros alegóricos, muita música e, danças frenética do samba, muitos aproveitam para criticar, o que bem entendem, especialmente os políticos mais premiáveis a este tipo de brincadeiras carnavalesca.
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Nota: Extraído do artigo publicado no JVT Nº 138 de 26.02.1998
JOSE GAMEIRO
Ainda menino de escola, fui com os meus pais viver para o Botaréu, junto à Capela da Misericórdia e, depressa o convívio com as gentes que, viviam do rio Tejo, se estabeleceu. Nos seus barcos e nas suas casas, comi das suas ementas, como também na rua e no cais da vala real, brinquei com os seus filhos.
Aquele convívio, foi para mim uma oportunidade de ouvir aos Fragateiros e Varinos/ Cagaréus, histórias das suas comunidades.
Há muitos séculos, que o rio Tejo as conhecem, os pescadores Cagaréus, desceram lá muito de cima, do norte e em Lisboa, até existe junto à ribeira, um dos seus bairros - A Mouraria, que estava povoado desta gente quando do terramoto de 1577.
Aqueles que vieram viver para Salvaterra de Magos, eram dos mesmos sítios; Aveiro. Ovar, Estarreja e Murtosa. Há muitas gerações que andavam rio abaixo, rio acima, na faina do peixe, especialmente no inverno, para depois o enviarem, em cestos de verga, para muitos lados, inclusivé o Porto.
Primeiramente era em carros puxados a animais, até que o advento do caminho-de-ferro, em Portugal, lhes facilitou mais a vida, através da estação de Muge.
Antes deles, já os Fragateiros eram "donos" do cais da vala, pois movimentavam nas suas Faluas e Fragatas, embarcações à vela, as mercadorias, com destino a Lisboa, e outros portos, rio acima, quando este era então navegável, lá para os lados de Abrantes.
Quanto aos Avieiros, uma outra comunidade, de pescadores vindos de Vieira de Leiria, cujos registos no Tejo, se notou mais tarde e, o Escaroupim, foi um sítio de aporto, como muitos outros ao longo do rio.
O Pinhal do Escaroupim, existe do tempo de D. Dinis, o comércio e a indústria, especialmente a naval, requeriam muita madeira e, Lisboa ficava a meia centena de km de Salvaterra e, com o curso das marés do rio Tejo, faziam deslizar nas águas grandes quantidades de toros.
A história da vala real de Salvaterra de Magos, encontra-se registada em muita documentação. Iniciou-se como Sangria, pois foi aberta, por causa das águas que se acumulavam em terrenos pantanosos nos baixios de Magos e, das nascentes da bacia da Ameixoeira, um pouco mais acima, corriam para Juzante até se juntarem ao Tejo na Boca da Goiva. As marés do rio, traziam e levavam peixes, como o barbo e fataça que, eram abundantes nas águas da vala, ainda no dobrar do século passado.
As histórias vivas, deste pequeno curso de água, que passa no sítio da ponte da madeira, são aquelas guardadas na memória por quem lá trabalhou, ou por quem com eles conviveu.
Muitas e variadas "historietas" são aventadas todos os dias, mesmo para a sua ponte de pedra, por quem visita por uns momentos aquele local, tudo sabem ou imaginam, sobre o seu passado mesmo recente. É de ouvi-los !!!!
Vivi a escassos metros do barracão onde via o mestre calafate, António Joaquim Henrique Miranda, conhecido pelo "Perguiça", construía as bateiras. Uma história dele se contava, um dia, construíu uma tão grande, quando pronta não saíu à porta, porque bebia bem, dizia-se: Talvez visse duas pequenas !
Eu, que corri corda, e vi fazê-la, tenho dificuldade em informar que isso aconteceu!
* Um casal, de Benavente, com dois filhos ainda pequenos, vinha algumas vezes durante o ano, até junto dos fragateiros venderem corda nova para ser usada, nos barcos.
Depois do negócio feito, para a quantidade de metros necessários, era iniciada a sua "feitura". Umas peças de madeira com pequenos ferros, eram colocadas junto ao muro grande, vedação da propriedade do conde, ao pé do celeiro, desde a estrada até à borda da vala, onde agora existem umas construções em madeira, com espaços calculados para suportarem o peso.
A mulher, passava o dia, movimentando uma manivela de ferro, fazendo girar uns carretos (sentido dos ponteiros de relógio), o homem e os filhos, iam metendo, o cordel de sisal, de muitos novelos. Depois de bem enrolados, davam azo a muitos metros de um novo cabo, alguns muito grossos, ao fim de alguns dias de trabalho.
De seguida, o velho Cadório, antigo pescador, "arregimentava" um grupo de rapazes (onde eu, me incluía), para passar a corda, a troca de alguns tostões para os rabuçados que depois compravamos na taberna do Camilo.
Os vários metros (bem pesados), dos novos cabos eram cozidos, num panelão, ao lume durante várias horas, com água de tinta de carrasca de pinho, feita previamente.
Depois da "cosedura", sempre ao cair da tarde (para passar a noite ao relento), os metros do cabo, eram "corridos" pelos rapazes entrelaçados entre os muitos choupos pequenos, que existiam, no terreno de trás-de-monturos (no local onde agora se faz a feira anual e algumas festividades da terra) e, ali ficavam estendidos (apertados), até secarem. ......
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Nota: Extraído do Livro Nº 11 "Cagaréus,Fragateiros e Avieiros - Gente que veio do mar" da
Colecção Recordar, Também é Reconstruir! * Foto, ao fundo o muro em direcção ao cais da vala
* Ver a colecção Vídeos: Patrimonio Monumental cultural de Salvaterra de Magos
JOSE GAMEIRO
Nem só os aficionados tauromáquicos, têm curiosidade em saber quem foram os irmãos Roberto (s). Qualquer enciclopédia faz referência a António Roberto da Fonseca e seus irmãos; Antão José da Fonseca e Luís Roberto da Fonseca, como iniciadores desta conhecida linhagem artística. Quem visita Salvaterra de Magos, encontra no largo da Igreja Matriz, um grande edificio, todo ele forrado a azulejo, de cor verde, forma de decoração muito usada no final do séc.XIX, início do séc.XX. Os lavradores locais, também receberam a influência da arquitectura motivada pelos novos-ricos, vindos de África e Brasil.
Sobre os Roberto(s), especialmente os irmãos; Vicente Roberto da Fonseca, João da Fonseca e Roberto da Fonseca, já quase tudo se escreveu. Não pretendi neste pequeno apontamento, fazer a história desta dinastia artística, porque tal encheria muitas páginas de um trabalho mais responsavel.
Com a sua arte de bandarilheiros, nas arenas de Portugal e Espanha, tiveram sorte e glória, honraram o nome da família e Salvaterra de Magos, sua terra-natal.
Por mim, tive a sorte de través de D. Elvira Roberto e seu esposo Arq. Luiz Vasconcellos, ter acesso a informações e documentos, que amavelmente também me facultaram especialmente do testamento de Roberto da Fonseca, que não se esqueceu para além dos seus descendentes, dos fiéis trabalhadores e de algumas misericórdias, especialmente a da terra onde nasceu. Num edificio, na antiga rua Direita, onde vive descendência da familia, existe uma grande sala, onde vários móveis guardam coroas de flores, prémios recebidos do público aficionado, no nosso país e do país vizinho.
Na fachada da habitação de D.Elvira Roberto, existe desde 1950, uma placa de homenagem, levada a cabo pela Casa do Ribatejo, que na época tinha sede em Lisboa e, no seu interior , numa parede, um grande painel, que regista a árvore genealógica da família.
No cemitério da vila, uma alegoaria simbólica da casa agricola Roberto, com as éfinges dos irmãos toureiros, está esculpida na pedra, do jazigo da família, onde se encontram os seus corpos.
Muitos anos já passaram, sobre a morte de Roberto da Fonseca, o último dos afamados toureiros, mas os responsáveis que passaram pela autarquia local esqueceram deles - Nem o nome de uma rua ......!
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Nota: Extraído do Livro Nº 37 "Os Irmãos Roberto(s) - Uma família de Toureiros" da Colecção Recordar, Também é Reconstruir - Do Autor
JOSE GAMEIRO
O Ribatejo tem no seu povo rural as raízes de uma cultura primitiva, cuja etnografia disso nos dá conta os usos e costumes do campino e da camponeza, agora conservados pelos ranchos folclóricos. O rio Tejo, muito contribuiu para a forma de viver desta gente que nas terras de Aluvião tiravam o seu sustento e nos mouchões e alvercas a muita pastagem nascia a esmo para o gado.
Salvaterra de Magos, está situada no coração da Leziria ribatejana, que se estende desde a Chamusca até Azambuja e Vila Franca de Xira.
Nos dias que passam a actual agricultura nada tem a haver com a lavoura que se fazia por volta dos anos 40 do século passado. Quando as terras ficavam livres das águas das cheias do inverno, o trabalho agricola voltava em força às terras que dariam pão, as trolhoadas de animais bovino lavrando numa fila, muitas vezes de dez pares.
Pachorentos e com alguma melancolia, lá iam alguns toiros "cangados" como que lembrando os seus 3/4 anos de idade e, a ferocidade leal que punham nas lides nas arenas das praças. Depois de corridos, alguns eram destinados à reprodução da raça, outros, a maioria, depois de "capados e bruxados" lá iam passar o resto dos seus dias nos trabalhos da lavoura que, durava perto dos 15 anos, com um final no matadouro, terminando assim um ciclo de vida, que ia conforme a idade; mamões,anejos,bezerros,garraios/ou novilhos e toiros.
As terras da charneca, eram um espaço que alternava com as da borda-de-água, quando começavam os dias chuvosos de outono/inverno, e todo o gado tinham de abandoná-las.
Os toiros de lide, não deixavam de serem postos à prova dos campinos, pois tinham de "dar o litro"numa estafa de um dia por semana, com um treino em correria, para estarem musculados e, em condições de serem corridos nas praças de Portugal e Espanha, a partir do domingo de Páscoa.
Quando um curro se deslocava emcabrestado, muitos dias antes para uma praça distante, era um acontecimento de grande relevo social, nas povoações de passagem. No destino, com a chegada às praças, as entradas dos toiros eram quase sempre de madrugada, então aí era o delírio das populações, os jovens mais audazes tentavam tirá-los dos cabrestos/ou chocas, com alguma varada de permeio, pois todo o trabalho de condução pertencia aos campinos.
Muitos encontravam nestas esperas, as suas aptidões para virem a ser moços de forcado e bandarilheiros, tal era a coragem de pegar de cernelha, ou capeando, muitas vezes com o casaco.
No inicio do século passado (1900), a praça de toiros existente em Salvaterra, era de madeira, com lotação de 5 mil lugares e pertencia ao hospital de Portalegre.
Quando era menino, ouvi do meu avô paterno e dos seus irmãos, já velhotes e retirados das lides, maravilhosas histórias da campinagem, do seu tempo, pois chegaram a campinos-mor, trabalhando com ganadarias da terra e da região.
Mesmo assim, o encanto e o divertimento que ainda excita os nervos, arrastando multidões, nas praças de toiros, não me seduziu. Ao longo dos anos, fui guardando documentação que agora não deixa de ser importante para deixar algo escrito "A Propósito de Toiros em Salvaterra!"
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Nota: Extraído do livro Nº 2 da Colecção "Recordar, Também é Reconstruir!"
JOSE GAMEIRO
O tempo passa, o ser humano vive de tudo, até de recordações!
As gerações nascidas depois daquele dia maravilhoso que, foi o 25 de Abril de 1974, vieram encontrar um tempo de liberdade, onde cada um pode exprimir os seus sentimentos sem repressão, desde que os mesmos não colidam com a liberdade dos outros.
Decerto quererão saber quem foram os obreiros dos famosos "Parodiantes de Lisboa", uma equipa radiofónica, que sabia desafiar o regime com o seu humor, fazendo os portugueses "encostarem o ouvido" à rádio portuguesa, durante mais de 50 anos.
Em Salvaterra de Magos, no início do século XX, existiam várias famílias com o nome de Andrade. Numa dessas famílias um ramo genealógico tinha a alcunha dos "Charutos" e nele nasceram três irmãos, sendo um o Fernando Filipe Andrade que, veio a casar com Zulmira Fernandes. Do casal, vieram à luz quatro rapazes e duas raparigas. José Andrade (1920-2002) e Ruy Andrade (1921-2006), eram os mais velhos da prole. O pai Fernando Filipe Andrade, por volta de 1936/37, um dia estabeleceu-se na vila, na rua Machado Santos (antiga rua Direita), com uma pastelaria.
Uns meses depois, o espaço foi dividido e, nele se instalou-se o filho José Andrade que, entretanto já tinha aprendido o ofício de barbeiro. O Ruy Andrade, ainda jovem foi de abalada até Lisboa, onde começou uma vida nos balcões das Lojas do Grandela e, o José tempos depois também foi até á capital e, juntos começaram a fazer teatro amador.
Os Parodiantes de Lisboa, nasceram em 18 de Março de 1947, depois do desaparecimento do periódio "A Bomba". Nos Parodiantes, deram colaboração desde a primeira hora, Eduardo Ferro Rodrigues,Santos Fernando, Mário de Meneses Santos, Mário Ceia, Manuel Puga, José Andrade, Ruy Andrade, entre outros. Mais tarde, na Parada da Paródia, deram voz, Mary, Pouzal Domingues, Diamantino Faria, Pedro Moutinho etc.
Para além da rádio, José e Ruy Andrade, em 1974, transformaram a pastelaria "Sol da Leziria", que foi dos pais e onde estes fabricavam e vendiam um apetitoso pastel.
Nasceu a "Cabana dos Parodiantes", os bolos passaram a ser comercializados com o nome "Barretes" e depressa ficaram famosos.
Um outro descendente da família, Fernando Andrade, continua à frente da Cabana e, os "Barretes", são agora uma especialidade de Salvaterra de Magos.
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Nota: Texto extraído do Livro Nº 38 da Colecção " Recordar, Também é Reconstruir!" * As suas fotos, estão no Flach fotográfico "Algumas Figuras Públicas - Do Autor.
JOSE GAMEIRO
O país foi alertado!!
Na rádio foram ouvidos toda a madrugada, os comunicados , que davam conta da situação, estava em curso uma revolução miltar. Estávamos no dia 25 de Abril de 1974. Em todo o país, só de manhã quando a população iniciava a sua actividade começou a tomar conta da situação. As notícias, eram para se ficar em casa!!
Eu, então jovem de 30 anos, levava uma vida profissional e social sossegada, já com 38 meses prestados de serviço militar obrigatório, cumpridos dos 20 aos 23 anos,o país encontrava-se perante três frentes de guerra colonial, iniciada em 1961, mobilizando toda a juventude portuguesa. Sabendo no entanto das restrições da existência de algumas das liberdades fundamentais que se sofria - A liberdade de opinião, a censura, que se alastrava da imprensa aos teatros e à vida social, era uma esperança tão ansiosamente esperando, tinha chegado.
O movimento dos capitãos, foi desde logo apoiado pelos mais esclarecidos politicamente e depressa se viu envolvido pelo povo que ansiava por viver num regime democrático.
Eu, tal como o povo de todo o país dei largas à sua imensuravel alegria nas ruas, querendo compartilhar, tal era o contentamente, mas faltava-me algo que só nos dias seguintes ou mesmo meses, me fui apercebendo do que era viver toda aquela felicidade, espelhado nos rostos, especialmente das gerações mais idosas, muitos deles pelas agruras sofridas nas prisões. Não estavam esquecidas as persiguições e prisões dos operários da Marinha Grande, e os rurais do Ribatejo e Alentejo, sofreram em 1933, após alguns dias de greve. Em Salvaterra de Magos, na década de 60, alguns activistas politicos, foram presos pela PIDE, cujos relatos da sua experiência, anos mais tarde foram editados em livro pela câmara Municipal
Naqueles dias de entusiasmo após o 25 de Abril, todos os dias "choviam" pelo país inteiro comicíos de esclarecimento, sobre o que era viver em democracia, pois os partidos politicos pretendiam levar a toda a população, o conhecimento dos seus programas politicos, que servissem Portugal, depois da estabilização social e politica a seguir ao programa do Movimento das Forças Armadas (MFA). O 1º de Maio, seguinte foi uma comemoração que uniu todo o povo, união nunca mais alcançada até aos dias de hoje.
Aqui em Salvaterra, desde a praça de toiros, salão da casa do povo, cinema e, em qualquer sítio onde um reboque servisse de palco, realizavam-se diáriamente sessões, onde predominavam as dos Partido Comunista Português (PCP), do Parito Socialista (PS) e do Partido Social Democrata (PSD). Carros percorriam as ruas da vila, em publicidade paralela divulgando tais reuniões de propaganda politica de cada partido. No concelho de Salvaterra, vingou o PS, PCP, agora na coligação CDU, nas eleições autarquicas de 1976, foram os mais votados. Meses depois estávamos perante o PREC, com ocupações e saneamentos nas fábricas e nas terras - As nacionalizações e a reforma agraria, estavam em marcha.
Quando do aparecimento da nova Central Sindical - UGT, os seus cartazes, foram pintados e rasgados, no muro da antiga Horta do Sopas, frente à EN118.
Nota: Extraído do Livro Nº 27 da Colecção "Recordar, Também é Reconstruir!"
JOSE GAMEIRO
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