Sexta-feira, 6 de Fevereiro de 2009

OS DIAS QUE SE SEGUIRAM AO 25 DE ABRIL DE 1974

    O país foi alertado!!

    Na rádio foram ouvidos toda a madrugada, os comunicados , que davam conta da situação, estava em curso uma revolução miltar. Estávamos no dia  25 de Abril de 1974.   Em todo o país, só de manhã quando  a população iniciava  a sua actividade começou a tomar conta da situação.  As notícias, eram para se ficar em casa!!

    Eu, então jovem de 30 anos, levava uma vida profissional e social sossegada, já com 38 meses prestados de serviço militar obrigatório, cumpridos dos 20 aos 23 anos,o país encontrava-se perante três frentes de guerra colonial, iniciada em 1961, mobilizando toda a juventude portuguesa.      Sabendo no entanto das restrições da existência de algumas das liberdades fundamentais que se sofria - A liberdade de opinião, a censura, que se alastrava da imprensa aos teatros e à vida social,  era uma esperança tão ansiosamente esperando, tinha chegado.

    O movimento dos capitãos, foi desde logo apoiado pelos mais esclarecidos politicamente e depressa se viu envolvido pelo povo que ansiava por viver num regime democrático.

    Eu, tal como o povo de todo o país dei largas  à sua imensuravel alegria nas ruas, querendo compartilhar, tal era o contentamente, mas faltava-me algo que só nos dias seguintes ou mesmo meses, me fui apercebendo do que era viver toda aquela felicidade, espelhado nos rostos, especialmente das gerações mais idosas, muitos deles pelas agruras sofridas nas prisões. Não estavam esquecidas as persiguições e prisões dos operários da Marinha Grande, e os rurais do Ribatejo e Alentejo, sofreram em 1933, após alguns dias de greve. Em Salvaterra de Magos, na década de 60, alguns activistas politicos, foram presos pela PIDE, cujos relatos da sua experiência, anos mais tarde foram editados em livro pela câmara Municipal

 

  Naqueles dias de entusiasmo após o 25 de Abril, todos os dias "choviam" pelo país inteiro comicíos de esclarecimento, sobre o que era viver em democracia, pois os partidos politicos pretendiam  levar a toda a população, o conhecimento dos seus programas politicos, que servissem Portugal, depois da estabilização social e politica a seguir ao programa do Movimento das Forças Armadas (MFA).  O 1º de Maio, seguinte foi uma comemoração que uniu todo o povo, união nunca mais alcançada até aos dias de hoje.

    Aqui em Salvaterra, desde a praça de toiros, salão da casa do povo, cinema e, em qualquer sítio onde um reboque servisse de palco, realizavam-se diáriamente sessões, onde predominavam as dos Partido Comunista Português (PCP), do Parito Socialista (PS) e do Partido Social Democrata (PSD).  Carros percorriam as ruas da vila, em publicidade paralela divulgando tais reuniões de propaganda politica de cada partido.  No concelho de Salvaterra, vingou o PS, PCP, agora na coligação CDU, nas eleições autarquicas de 1976, foram os mais votados.  Meses depois estávamos perante o PREC, com ocupações e saneamentos nas fábricas e nas terras - As nacionalizações e a reforma agraria, estavam em marcha.

    Quando do aparecimento da nova Central Sindical - UGT, os seus cartazes, foram pintados e rasgados, no muro da antiga Horta do Sopas,  frente à EN118.

 

Nota: Extraído do Livro Nº 27 da Colecção "Recordar, Também é Reconstruir!"

 

 

JOSE GAMEIRO

 

publicado por historiadesalvaterra às 22:45
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Quarta-feira, 21 de Janeiro de 2009

AS BOTICAS EM SALVATERRA!

 Nem sempre se comemora um século ! 

 Na última década do séc. XIX, existiam duas Boticas em Salvaterra de Magos - A do Albano e a do Carvalho.

 

 Albano Gonçalves, nasceu em 1848, em  Lisboa, ainda jovem já com conhecimentos das artes farmacêuticas, instalou a sua Botica, numa casa arrendada na rua de S. Paulo (rua Machado Santos), em Salvaterra de Magos, onde fabricava entre outros unguentos; os contra as InfusurasSalapismos como: os Julepos, os Confeitos e as Maçaradas, receitas muito usadas pelos médicos da época.  Para além de boticário, foi autarca e praticava o jornalismo, dando para os jornais da capital, notícias da vila (1).  Faleceu em 13 de Janeiro de 1932.

 

 A outra Botica, apareceu mais tarde, em 1891, pelo comerciante e pequeno lavrador em Salvaterra de Magos, António Jorge de Carvalho, na rua do Hospital (rua Dr. Gregório Fernandes), pois já tinha em exploração, um estabelecimento de drogarias e produtos alimentares.

 

 

Nos anos a seguir à implantação da República em Portugal, em 1910, a linguagem portuguesa sofreu algumas alterações e, as Boticas passaram a designarem-se por Pharmácias, um nome extraído do dicionário francês.

 

Após o terramoto de 1919, a Pharmácia Carvalho, foi remodelada, a frontaria do estabelecimento, recebeu azulejos e no interior das instalações foram criadas duas divisões; um Gabinete/Escritório e um pequeno Laboratório.

 

 Neste último e pequeno espaço era atendida a clientela, para assuntos privados. Os produtos já conhecidos, continuaram a ser ali confeccionados para além dos famosos Enfusos e os Alcooloídes.  Destes últimos, produziam-se os Alcoalatos e Alcoalaturas que, sendo umas tinturas, eram feitas com instrumentos e recipientes (alguns deles, hoje,  fazem parte do seu pequeno museu).

 

 O Albano Gonçalves, foi autarca, exerceu o jornalismo, escrevendo notícias da terra, em jornais de Lisboa e, ensinou na arte farmacêutica, o então jovem Jerónimo da Fonseca. 

 A sua Botica, fechou com a sua morte e, na mesma rua foi aberta ao público a Farmácia Martins, de Henrique José Martins, nascido em Muge.

 

Por volta de 1920, Manuel Joaquim Gomes, desde muito novo boticário, na Pharmácia Carvalho, comprou o seu trespasse e modificou a laboração do estabelecimento, dando continuidade à fabricação das famosas pílulas e hóstias, para além da cerveja medicinal, a conhecida cerveja preta.

 

Em 1991, a Pharmácia Carvalho, fez o seu primeiro centenário, a data foi comemorada, com um almoço festivo da família proprietária, estando presentes empregados e alguns amigos.

 

A que foi a Botica do Carvalho, é hoje o estabelecimento mais antigo do concelho de Salvaterra de Magos, agora gerida pela farmacêutica, Drª Joana Fernandes Gomes.

 

Espero, voltar a estar presente na comemoração do seu segundo centenário!

 

 

 

 ************
Nota: Trabalho extraído de um artigo “Recordar, Também é Reconstruir” do autor, publicado no Jornal Vale do Tejo – JVT, ano de 2000      
 (1) - Albano Gonçalves, quando autarca, organizou a recepção aos congrssistas, do Congresso Mundial, que se reuniu no Porto e, visitaram as recentes escavações, na época em Muge.
 

JOSÉ GAMEIRO

publicado por historiadesalvaterra às 16:27
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Sábado, 6 de Dezembro de 2008

OS CASAMENTOS, EM CORTEJOS DE CARROÇAS ACABARAM!


 

 

  •  No dobrar do século passado, raro era o sábado que, não havia casamento foreiro em Salvaterra de Magos. Era de ver, as longas filas de carroças, com arcos coloridos de flores, umas naturais outras de papel que, chegavam ao Largo da Igreja. Os animais, com as suas guiseiras ao pescoço tilintavam os últimos sons que, decerto se ouviram em todo o percurso, desde os Foros até à vila. A música de um acordeon, acabava quando o acordeonista contratado para animar a festa durante o dia, recebia ordens porque a noiva já estava novamente ajaezada, com o véu branco na cabeça e, as flores de laranjeira, acompanhada dos pais e padrinhos, com o cortejo de familiares e amigos. O noivo, já a esperava à porta do templo religioso, pois tinha vindo noutro cortejo, também acompanhado de um acordeonista que tocava as suas modas de viras e corridinhos. O largo da igreja e ruas vizinhas ficavam "apinhadas" de carroças, alguns animais eram amarrados às árvores que por ali existiam.  Alguns dos convidados não entravam no templo religioso, aproveitavam o espaço da cerimónia, para se dispersarem, conversando aqui e ali, dando achegas sobre o tempo que fazia, ou das colheitas da época. Outros iam até à taberna do Morais, ali ao lado e, aí bebiam e davam de beber uns copos de vinho aos clientes presentes. Muita daquela clientela, era só naquele dia, para aproveitarem a oferta que sabiam ser uma certeza. Um cigarro também era distribuído por todos !
  •  
  • Algumas mulheres, aproveitavam para comprar amêndoas e rebuçados, nas lojas de que eram clientes, com avios para a casa, feitas à quinzena e pagamentos anuais, depois das colheitas do fim do Verão. Após a cerimónia, as duas comitivas, em cortejo único logo se preparavam para o regresso e, era aí que os rapazes, andavam devolta dos carros e recebiam a oferta daquelas doçarias,tiradas de "talegos" de pano bem guarnecidos de desenhos feitos a ponto-cruz.  A oferta continuava com "remessas" para o ar, com a vozearia dos rapazes correndo atrás das carroças e, os animais já numa marcha de trote.  

      O incitamento dos ocupantes confundiam-se com os acordes musicais e, os sons das guiseiras. A perseguição do rapazio durava até às cavalheiriças (1).  Com o decorrer dos anos, estas festas passaram a ser uma raridade, os cortejos foram substituídos com o buzinar de muitos automóveis, quanto entravam na vila. Na década de 80 do século passado, os casamentos em carroça, eram já uma recordação, até porque os Foros de Salvaterra, tinham passado a freguesia e uns vinte anos antes já tinham a sua Igreja.  Porque também eu, andei naqueles grupos dos rapazes, recordo esse tempo com saudade.

      

    Nota: Cavalheiriças = Cavalariças; Edifiçios que restavam dos anexos pertencentes ao extinto palácio real de Salvaterra

    * Fotos e Texto retirado do Livro Nº 2 Foros de Salvaterra – Uma terra que já foi coutada real (Colecção Recordar, Também é Reconstruir) *  Autor:José Gameiro

     


     JOSE GAMEIRO

     

     

     
  • publicado por historiadesalvaterra às 17:25
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    Quinta-feira, 6 de Novembro de 2008

    O DEZOITO, DEU SANGUE!

     Andámos na escola. Na rua, brincamos as mesmas brincadeiras.

    Com as suas dificuldades em aprender a leitura e escrita, alguma coisa lhe ensinei.

    Ainda criança, foi para a profissão da familia - os Lapas, aí aprendeu na construção civil a ser pedreiro.  Na adolescência, foi para bombeiro, nos voluntários de Salvaterra,onde seu irmão Eugénio já "militava" e, foi-lhe atribuído o número dezoito.  De estatura meã e, brincalhão que era, dizia a toda gente eu, sou o 18!... Depressa  a sua jornada de bem fazer se mostrou disponível, passou a dar  sangue, graciosamente a quem dele precisava.  No entanto a vida, já se lhe manifestara cruel levando-lhe duas pessoas que amava; a mãe e a mulher, deixando-o   ficar com dois filhos pequenos.  O alcool, que desde há muito o vinha corruendo, fazendo dele um "bobo" quer de gente grande, quer de pequenos.   O 18, continuava brincalhão, as bebedeiras não o largavam. Outro drama bateu-lhe à porta, o filho, morreu num acidente de viação. Ficou entregue à filha pequena.

       Os anos passaram, um dia de 1979, recebeu uma carta e, como era habitual,

    a mim se socorreu para a sua leitura. Estava nervoso, era uma carta do Estado.  O Instituto Nacional de Sangue, premiava-o, com diploma e medalha, pela benemerência, tinha dado 70 vezes, sangue. Logo gritou. Eu, recebi uma medalha!..... Todos tinham que saber!...   Em 2000, após um AVC (trombose) que lhe tolheu parte do corpo, encontra-se amparado a uma bengala, no lar da Santa Casa da Misericórdia, da sua terra natal, local onde periódicamente o vou encontrar ,esquecido de tudo e de todos.

     

    Nota: Texto extraído do Livro nº 8 da Colecção, "Recordar, Também é Reconstruir"  Foto: José António Lapa dormindo nas escadas de um edifício bancário, e Incluído no Flasch fotográfico " Algumas Figuras Públicas " - Fotos do autor

     

     

    JOSE GAMEIRO

    publicado por historiadesalvaterra às 19:00
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    Sábado, 18 de Outubro de 2008

    O VITORINO DOS CANDEEIROS

    Em 1930, sabia-se em Salvaterra de Magos, que Lisboa tinha iniciado em 1848, o seu sistema de iluminação pública, com 28 candeeiros que, foi aumentando com o decorrer dos anos e, em 1889, eram já cerca de 7000 os candeeiros acessos na cidade, recebendo gás produzido à base de carvão.

    A vila de Salvaterra,  confinava-se ainda às suas 7 ruas primitivas, dando mostras de querer expandir-se lá para os lados da Praça de Toiros e, dos terrenos que viriam a ser ocupados pela Horta do Sopas.    Até aí as ruas, não tinham iluminação, as habitações continuavam à noite, a consumir velas de cera e lamparinas à base de azeite e outras gorduras.  Muitas cidades e vilas do país, já usavam o carbureto, na iluminação das suas ruas.

    O  elenco camarário de António Sousa Vinagre,deliberou colocar quatro candeeiros, com gasómetros a carbureto, nas ruas de Salvaterra de Magos, para isso deu trabalho a José Duque, que foi para Santarém, durante uma  semana, fazer aprendizagem nos serviços da câmara daquela cidade.    Em 1935, este deu lugar a filho Francisco,  o Chico Duque, que por sua vez transitou o  lugar a Albino Fróis Marques, que foi substituido por um tal  Vitorino, homem vindo de Benavente.   Este, ao entrar ao serviço da câmara foi encarregado da manutenção dos candeeiros e, do motor que fornecia água ao depósito da fonte, junto ao edifício municipal.     Pela manhã cedo, ao nascer do dia, com um pequeno carro de mão provido de uma barrica com água, lá se via o Vitorino, fazendo a limpeza, dos gasómetros instalados nos quatro candeeiros nas ruas da vila. Neste trabalho, retirava o carbureto já transformado em massa e, deixava preparado o pequeno depósito de cada gasómetro abastecido com água limpa.   A massa recolhida era para mais tarde ser utilizada pelos pedreiros da câmara, nos rebocos das paredes.   Ao cair do dia, pelo luz-fusco, lá ia de novo o Vitorino, com a pequena escada ao ombro e, uma saca noutro, com as pequenas pedras de carbureto alimentar os gasómetros.   Cada um, levava uma quantidade de cerca 500grs, para 6/7 horas de uma boa luz durante a noite.

     

     

     O gás, libertado pela acção da água com o carbureto, saía por um pequeno tubo que, o Vitorino acendia com isqueiro de pederneira.  O tempo dos Petromax, alimentados a petróleo, chegou por volta de 1940, a iluminação nocturna em Salvaterra, passou para oito pequenos candeeiros nos largos e ruas da vila.  Foram colocados candeeiros  nas paredes  das casas,; esquina da rua João Gomes, com a rua rua Direita ( Machado Santos)  na esquina da rua da Azinhaga (Gen. Humberto Delgado. com a entrada da Trav. da Azinhaguinha. Na rua Dr. Gregório Fernandes, lado da avenida, na parede também recebeu um candeeiro.; um outro foi colocado entre a rua do Pinheiro (Miguel Bombatda) e  entre o edificio da câmara e a Igreja Matriz. Foram construídos postos em cimento, com candeeiros, no cruzamento da actual rua 31 de Janeiro e rua do Calvário (Av. Dr. Roberto F.Fonseca),; no Largo dos Combatentes; Largo da República,, dentro do Jardim;  No antigo Largo S. Sebastião, junto ao Fontanário e um outro no cais da vala.  Com esta inovação, o trabalho do Vitorino, era agora de manhã apagar os candeeiros e recargá-los de petróleo e, á noite depois de alguma pressão no depósito, para gaseificar, acender o aparelho, através de uma camisa que, dava uma chama azulada, ficando protegida por um vidro cilindrico, iluminando toda a noite um grande espaço em seu redor.   Em 1948, tudo isto passou à memória do povo, pois o abastecimento de energia eléctrica a Salvaterra, foi um acontecimento, cuja inauguração teve honras de grande acontecimento público.   Há uns tempos foram feitos umas réplicas daqueles candeeiros,  que estão na zona nobre  da vila, recordando os originais.

    Porque conhecemos, o Vitorino dos Candeeiros, aqui o recordamos!...
     
      José Gameiro
     Nota: Na Foto em primeiro plano  está o Vitorino "dos Candeeiros " e o autor deste texto - ano de 1954 Na 2ª foto, o Posto com candeeiro, no local onde se fazia a Praça dos homens rurais.
    publicado por historiadesalvaterra às 18:29
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    Segunda-feira, 1 de Setembro de 2008

    A MARRETA QUE DESTRUIU O MURO DO JARDIM

       Quando criança aprendeu a trabalhar a terra, como trabalhador braçal, as cearas de sequeiro eram as mais usadas na época.    Não quis aprender a arte da campinagem e endireitar a espinhela(1), mesmo tendo em casa um professor, seu pai que chegou a campino-mor.  Nasceu, em plena primeira guerra mundial, foi o primeiro de uma prole de oito filhos. Os anos que se seguiram não foram fáceis, havia grandes dificuldades, a fome grassava, especialmente na comunidade rural.   A mãe por exemplo, quando do seu segundo filho, que por acaso foi a única menina que teve, vendia uma “mamada” de leite todos os dias, para aleitar um outro bébé vizinho, recebendo de recompensa 2 tostões.

        Ainda jovem, foi experimentar os trabalhos na construção civil, esteve na estrada nacional 118, foi de abalada até às obras do estádio nacional, no Jamor.  O espaço desta grandiosa obra, ocupava uma zona de pedreira, que era rebentada a explosivos.      

           Vários empreiteiros, davam trabalho a milhares de trabalhadores que recebiam semanalmente da ferramentaria, a peça de trabalho.  A ele, calhou-lhe uma marreta para partir pedra depois das explosões. O tempo ia passando, o cinema recrutava entre eles  muitos figurarntes para cenas do filme “A  Aldeia da Roupa Branca”.  A que mais se lembrava e contava com entusiasmo: uma  simulação de rixa à paulada, numa feira de Caneças, caiu num cesto de verga com ovos e quando se levantou muitos pintos fugiram, valeu-lhe mais alguns cobres, dizia.  Com a inauguração do estádio, no dia 10 de Junho de 1944, tinha eu, dois meses de idade, regressou de vez a casa, a pequena marreta de ferro, acompanhou-o como recordação.

       Cansado de tanto andarilhar, teve na câmara municipal de Salvaterra de Magos, sua terra-natal, um trabalho na limpeza do lixo, nas ruas da vila, função que acumulava com a de ajudante de canalizador.  Enfim, por haver só meia dúzia de funcionários, fez de tudo um pouco; distribuiu carnes, pavimentou estradas a alcatrão, foi calceteiro e por fim jardineiro. 

      Em 1956, com a decisão municipal de dar novo visual ao antigo jardim público, na praça da república, ele e um outro colega de nome André, foram incumbidos de deitarem abaixo todo o muramento.  Numa semana à força de trabalho braçal, meu pai, José Gameiro Cantante, usando a marreta, que tantos calos já lhe fizera, fez desaparecer uma obra que vinha do final do séc. XIX.  A marreta, seu precioso instrumento de trabalho, é agora uma relíquia, está na posse de um dos seus três filhos.

     

    **********

    (1)     – Endireitar a espinhela: Os campinos por vezes faziam este trabalho quando os vitelos nasciam, e o parto acontecia com as vacas em pé, os pequenos animais ao baterem no chão, ficavam com a coluna torta.  

    Nota: a Marreta, tem outra história: Era nova quando, foi distribuída ao José Gameiro Cantante, na construção do Estádio Nacional (Lisboa)  

     

     

    JOSÉ GAMEIRO

     

         

    publicado por historiadesalvaterra às 18:11
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    Quarta-feira, 13 de Agosto de 2008

    OS ORGÃOS DE TUBOS DA VILA !

    Decorria o ano 1964, um grupo de jovens aderiu à ideia da formação de um agrupamento escutista ligado à igreja.  Os meus dois  irmãos, muito entusiasmados foram da primeira leva.    A sede mesmo que provisória, foi um pequeno espaço, na antiga capela real, com soalho lavado à esfregona e paredes caiadas, aperaltado com decorações alusivas ao escutismo, passou a ser o encanto daquela juventude, pois durou dias tal empenho.

    Um grande senão deixou marcas irreparáveis, no local existia um pequeno armário, há muitos anos fechado e, com o decorrer dos dias a curiosidade foi–se instalando em alguns espíritos.   Na falta de chave, a porta foi aberta de uma forma pouco delicada e, o início de uma destruição estava latente.   Dentro daquele velho móvel, estavam muitos tubos, que aguçaram o desejo de neles fazerem sons (1).

    Eram os tubos de um órgão, foram arrancados, andaram em bolandas de mão em mão, até que desaparecem. 

    O tempo passou, tudo caiu no esquecimento !

    A paróquia de Salvaterra, 33 anos depois foi enriquecida com um grupo de jovens padres, entre eles, o padre António José Ferreira, que sendo um entusiasta por este tipo de música -órgão de tubos, fez uma pesquisa e diversos contactos, tendo levando à reparação do velho órgão da Igreja Matriz da vila.

     É um móvel, de grande beleza, construído em 1825, por António Xavier Machado e Cerveira, afamado organeiro da época, tem um teclado manual único, 53 notas e 594 tubos.    O dia 11 de Junho de 2000, foi uma data memorável, na sua nova apresentação pública, com um vasto programa, onde actuaram, Organeiros, nacionais e estrangeiros, Flauta transversal e Coros, a Igreja Matriz,  esgotou com um público que muito aplaudiu as actuações.

    Para a reparação de tão belo instrumento, contribuíram muitas entidades e organismos públicos e privados. 

    Quanto ao órgão da capela real, lá vai aguardando por melhores dias, a um canto do espaço que um dia, foi o do Coro, quando a realeza visitava o palácio da vila.

     

    *********

     (1) - Extraído do Livro Nº 42 da Colecção "Recordar, Também é Reconstruir"

     

     

     José Gameiro

     

     

     

     

     

     

     

       
    publicado por historiadesalvaterra às 23:11
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    Terça-feira, 12 de Agosto de 2008

    OS MOINHOS EM SALVATERRA !

     

    No Verão de 1955, vivendo eu, junto à capela da misericórdia, séculos atrás conhecida por capela de santo António, passei muitos dos seus dias, como o fazia todos os anos anteriores, com o rapazio da minha idade, na caça aos pássaros no salgueiral dos valados da vala real, ali mesmo junto da sua ponte.
     O chamar constante das crias de pardais, pelos pais, davam-nos a indicação da sua presença.   Entre nós, havia daqueles pequenos caçadores de fisga, alguns com uma apontaria e perícia tal, que cada pedrada, era um pássaro morto no chão.
     Ali, no lado direito da jusante das águas da vala real, subindo o valado existiam já muito tapadas, pelas árvores e lodo, algumas pedras de lioz, de configuração mais para o rectangular e bem compridas, juntas umas às outras faziam uma escadaria.
     A população mais antiga, ainda falava no Moinho de Arroz, que tinha existido, tal como minha mãe, que dizia-me quando menina, muitas vezes naquela escadaria lavou roupa, e dava conta da existência de um pequeno túnel no valado, onde a água passava com as marés, com destino a um pequeno bafordo, espaço onde há pouco foi construído um local para treino de cavalos.
     Vestigios de outros moínhos existiram,  por volta de 1919, quando da construção da praça de toiros da vila, no espaço destinado  à arena, o trabalhador, António Remundo, destruiu à marreta, uma construção de um antigo moinho (1) de vento, já inactivo que fazia companhia a outros dois, ali perto e nas mesmas condições.
    No dobrar do séc. passado, no sitio da Coutadinha, onde mais tarde se construíram habitações da Chesal, ainda vi uma construção redonda, com portal aberto, sem janela e telhado, mostrando o sitio em cima onde poderia ter assentado o mastro das velas.
    Em tempos recuados, por volta de 1773, quando da nova demarcação do concelho de Salvaterra, existia um moinho de água, conhecido por “Moinho de Magos” pertença de Simão Aranha, devido à sua localização no sítio de Magos, sabe-se que deu origem a protestos e contra protestos, entre as câmaras de Muge e Salvaterra.
     
     ______
     * (1) - Testemunho recolhido pelo autor ao próprio A.R., quando da reportagem dos 50 anos (1970), da inauguração da praça de toiros, que foi publicada no Jornal “Aurora do Ribatejo” e faz parte dotexto do Livro Nº 3 da Colecção "Recordar, Também é Reconstruir!"
     
    JOSE GAMEIRO
    publicado por historiadesalvaterra às 22:59
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