Um dia, em 1958, desempenhava eu, as funções de Despachante de Encomendas, na Central (agora Estação de Autocarros), situada na rua Heróis de Chaves, em Salvaterra de Magos.
Ali, ia amiúdas vezes, um homem já de idade avançada, enviar um garrafão com bebida licorosa, para uma taberna de Samora Correia.
Sabia que na vila lhe chamavam António Magos, mas não conhecia o seu passado.
Fabricantes de aguardentes e vinhos licorosos, existiam o Álvaro Lopes Rosa e o Virgolino José Torroais. O primeiro era um conceituado fabricante de bebidas espirituosas, tendo iniciado a sua actividade em 1910. O segundo por ser um pequeno vitivinicultor, além do fabrico de vinho branco e tinto, engarrafava aguardentes e vinhos licorosos. Na vila existiam os irmãos Tito, que fabricavam gasosas e pirolitos e tinham a sua actividade, no espaço onde agora está a sede da casa do Sporting.
Tempos depois vim a saber, que o António Magos, aliás António Paulo Cordeiro, nos seus tempos de jovem, também quis enveredar pelo fabrico de bebidas espirituosas, chegando mesmo a ser um especialista na forma de fabricar estes licores.
Morava em prédio próprio, na rua Machado Santos, mesmo ali junto à Trav. João Gomes, tinha um filho, que desempenhava a medicina veterinária, no Estado.
Em 1987, vinte e dois anos depois do seu falecimento, a Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, não o esqueceu e homenageou-o !
O acto solene teve lugar, no dia 1 de Janeiro de 1987, com o descerrar na vila, numa rua de construção recente, uma placa toponímica com o seu nome e, foi distribuído um folheto com a informação do António Paulo Cordeiro – Músico !
Tal folheto, fiz publicá-lo, no jornal “O Ribatejo” de que era colaborador, e saiu na edição de 9 do mesmo mês.
“ HOMENAGEM POSTUMA AO MUSICO – ANTONIO PAULO CORDEIRO “
Antigo músico, maestro e compositor, António Paulo Cordeiro, salvaterrense já desaparecido, foi agora homenageado, dia 1, pela Câmara Municipal de Salvaterra de Magos e pela Banda de Música dos Bombeiros Voluntários. A homenagem a este homem que muito contribuiu para o desenvolvimento cultural de Salvaterra, foi constituída pelo descerramento de duas placas toponímicas com o seu nome, no antigo largo da Casa do Povo, a que estiveram as entidades locais; presidente da câmara e vereadores, o filho do homenageado, Dr. João Paulo Cordeiro, entre muitos outros salvaterrenses.
António Paulo Cordeiro, nasceu em 1876, como muitos outros músicos a aprender solfejo na escola de música da banda. O seu instrumento favorito era o Cornetim. Entre as muitas “histórias” de que foi protagonista, conta-se que, num concerto de bandas civis em Santarém, em que participou a Banda dos Bombeiros de Salvaterra, António Cordeiro tocava uma peça de difícil execução, as variações do Carnaval de Veneza. O vento forte que se fazia sentir no local do concerto, levou-lhe as partituras. O maestro ficou atrapalhado, mas o exímio musico continuou pávido e sereno a executar a solo, que lhe valeu uma ovação da assistência.
Esteve à frente de várias bandas da região e da própria banda de Salvaterra como maestro. Ensinou a arte da música a muitos jovens e conseguiu apresentar crianças em concertos a tocar áreas de música clássica. Entre as várias peças que criou como compositor, destacam-se a marcha fúnebre “Coroa de Espinhos” e o “Passe Doble Faculdades”, em homenagem ao toureiro do primeiro quartel do séc. XX, de nome Faculdades.
Nota: Para descerrar as bandeiras que tapavam as placas, foi o jovem músico da banda de Salvaterra, Luís Travessa Morais Andrade, que esteve ao colo do Presidente da Câmara, António Moreira.
JOSE GAMEIRO