Quarta-feira, 3 de Fevereiro de 2010

ALEXANDRE CUNHA - UM FOTÓGRAFO AMADOR

  

Um dia, em 1985, andava a recolher informações sobre o Clube Desportivo Salvaterrense - CDS, fui informado que o barbeiro, Alexandre Varanda da Cunha, estabelecido na Praça da República,  em Salvaterra de Magos, em tempos tinha sido seu dirigente e, até imaginou e pintou o emblema da colectividade.
 Entusiasmou-se com a ideia, porque a recolha era para inserir no meu livro “A Origem do Clube Desportivo Salvaterrense”, logo se disponibilizou para num dia aprazado se reunirem naquele seu espaço de trabalho, vários elementos que tinham pertencido aos agrupamentos futebolísticos que existiram na terra.  Entre os que se faziam e desfaziam, ficou o Estrela que deu origem ao CDS.  De todos os presentes naquela reunião, que durou algumas horas, ainda conservo as suas “histórias” em registo de fita de cassete.
 
Sabendo do seu gosto pela fotografia, enquanto jovem, meses depois aprazei uma entrevista  sobre, esta sua paixão, pois tinha no meu álbum, uma foto de quando eu era bebé e, meus pais disseram-me, foi tirada pelo Alexandre !...
Queria fazer um artigo para o “Diário do Ribatejo”, jornal onde colaborava.
Começou por me informar, que nasceu em Salvaterra de Magos a 10 de Fevereiro de 1918, cedo fez a aprendizagem da arte de barbeiro e, quando militar esteve no laboratório do hospital militar de Lisboa, ali aprendeu a revelar fotos nos líquidos apropriados, com um outro militar já experimentado. Aí, tomou o gosto pela fotografia.
 
 
 

Em 1938, já instalado com uma barbearia, na Praça da República, dedicou-se nas horas de lazer, a fotografar vários pormenores de Salvaterra de Magos.  Algumas fotografias, muitos anos depois são uma reliquia, mostrando Salvaterra antiga. Sendo o único fotografo amador na terra, usando uma pequena máquina, que obtinha fotos de 4x6. Mais tarde, em 1941, comprou uma outra de origem francesa da marca “Voitlanjet”, com fole, lente “Voljtan”, para fotografias de 6x9 – de chapas de vidro. Estes eram adquiridos já cortados na loja do José Sabino Assis, junto à Igreja Matriz. Procurado pela população, para tirar fotos para uso oficial e também aos bebés, meninos e casamentos.  Continuando a valorizar-se no campo da fotografia, adquiriu livros e revistas da especialidade, com a ajuda dos amigos que os compravam em Lisboa. Começou a  revelar as fotos num pequeno laboratório, que construiu na sua residência, na rua D`Àgua, aí montou uma câmara escura onde à luz de uma pequena lanterna a petróleo, com vidro de cor amarela, trabalhava com o papel e, um outro vidro de cor a tirar para o encarnado, fazia relevações em chapas ortocromáticas que serviam melhor qualquer principiante, como ele. Estes princípios de cores, davam mais segurança na fixação dos tons claros e escuros das chapas.

As pancromáticas eram mais difíceis de revelar, visto serem reveladas com luz verde, quasi às escuras. Mais tarde, adaptou a máquina a um ampliador sem condensador e foi fazendo lindas imagens.   Por volta de 1946, comprou outra máquina, esta de origem alemã, marca “Zaiss Incon”, também de fole, lente novar 1,35 para películas 6x9.
Embora sempre por meios rudimentares, continuou a revelar as suas fotografias.
Primeiro num pequeno tanque em cimento, depois aproveitando umas cuvetes, usou um relógio despertador e assim se foi aperfeiçoando. Com prensas manuais fazia cópias em papel brilhante e esmaltava-as em chapa de vidro, trabalho primitivo que hoje já não se usa. Mostrou-me na altura um pequeno arquivo de negativos (alguns deles já em mau estado, mostrando os motivos fotografados, muito picados).
 Por volta de 1955, com o material fotografico muito caro, foi-se desmotivando da fotografia e acabou com a sua paixão de juventude.
 
 
A sua última fotografia, por sinal colorida, foi feita a pedido de um amigo, na reprodução de uma pintura da morte do Conde dos Arcos, estreando uma máquina de origem Japonesa. Uma Leus 38 mm. Nessa altura, era dinâmica a actividade do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos. O vereador Joaquim Mário Antão e, o funcionário João Monteiro, empenhavam-se em realizar exposições e colóquios, durante o ano.
 Em 1985, uando da passagem da escola para biblioteca municipal, o painel de azulejos instalado no seu jardim, recordando a morte do Conde dos Arcos, foi uma cópia da reprodução que Alexandre Cunha, um dia fez.
 
A ideia de homenagear o fotógrafo -amador de Salvaterra, Alexandre Varanda da Cunha, fervilhava naquele Departamento Cultural, daí me ser solicitado, pelo já falecido funcionário João Monteiro, a cedência do artigo acima descrito, para constar no cartaz de divulgação da exposição. Muitas vezes o Monteiro, me procurou e serviu-se do meu arquivo, quer de textos, quer de fotos, para enriquecer o seu desempenho no âmbito da cultura do município salvaterriano.
Alexandre Cunha, foi homenageado aos 74 anos de idade, no dia 13 de Dezembro de 1985, pelo presidente da Câmara Municial, António Moreira e, a exposição comemorativa realizou-se na Biblioteca Municipal (antigo edifício escolar). O certame realizou-se de 13 de Dezembro de 1985 a 12 de Janeiro de 1986, estando presentes fotografias do homenageado; de João Monteiro;  de José Álvaro; de Carlos Monteiro;  de Carlos Cantador; de João Hipólito;de  Joaquim Parracho e do Dr. Marçal Correia.
Alexandre Varanda da Cunha, faleceu em 1999.
 
 Nota:  Foto 1 - Alexandre Cunha, no dia da Homenagem * Foto 2- Zona do Jardim Público da Praça da República - 1940 * Foto 3 - Portão do Jardim do Largo da República, o funcionário da Câmara Municipal, José Gameiro Cantante ( pai do autor) - 1957 *  Foto 4 - José Gameiro, quando bébé de meses de vida, no dia do seu batizado.
 
JOSE GAMEIRO
 
 
 
 
 
 
 
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publicado por historiadesalvaterra às 10:52
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