Por volta de 1950, em casa dos meus pais muito se falava nos “plasmas” e “xaropes”, do sr. Albano, que tomavam quando jovens, naqueles dias de inverno, quando o frio fazia chegar as gripes e constipações, ou quando as dores apertavam, fruto do trabalho braçal na vida do campo. Anos depois, quando escrevia no já desaparecido “Aurora do Ribatejo”, quiz saber quem era realmente aquele Albano, boticário. Tinham-me acabado de oferecer o livro “ Anais de Salvaterra de Magos”, e numa das suas páginas, trancreviam um “pedaço” do artigo escrito, no Almanaque Luso-Brasilero, em 1882, por Alberto Calderon, sobre a Excursão dos Congressistas de Arqueologista, à estação Pré-histórica, de Muge. Com aquela curiosidade que sempre tive em saber algo mais sobre Salvaterra de Magos, lancei um apelo nas páginas daquele semanário. Andei junto de pessoas idosas, indagando quem seria a pessoa, que nos jornais usava o pseudónimo “Alberto Calderon”, e informação daqui e dali, lá me facultaram um retrato, do sr. Albano. Também recebi um bem elaborado escrito, de Jerónimo Duarte da Fonseca, que em menino, tinha sido apendiz daquele boticário de Salvaterra. De posse de algum “material informativo” lá me decidi a publicá-lo naquele semanário de benavente.
“ Ao ler no Aurora, de 21 de Março p.p. a local encimada com a pergunta “Quem nos identifica F.G.Albano Gonçalves”?. Senti-me transportado à minha infância, e recordei com saudade, a figura extraordinária deste homem de estrema bondade que para sempre ficou gravada no meu espírito. Esperei, que qualquer salvaterrense mais conhecedor do que eu, da sua personalidade, nos viessa dizer algo acerca do homem bom que se chamou Francisco Porfírio Albano Gonçalves (senhor Albano, como por todos era conhecido).
Verificando, porém, que o apelo deste jornal continuava sem eco, decidi-me hoje dar aos seus leitores alguns ligeiros traços bibliográficos deste homem, que conheci nos anos 20. Sei, que nasceu em Lisboa, na freguesia de S. Miguel (Alfama) nodia 12 de Fevereiro de 1845, e viera para Salvaterra onde ainda bastante novo, depressa conquistara gerais simpatias. Cursou farmácia e estabeleceu “Botica” na rua de Baixo (Rua Candido dos Reis), tendo-se transferido mais tarde para a rua de S. Paulo (Rua Machado Santos), onde sempre o conheci, no local hoje ocupado mais ou menois, pelo consultório do sr. Dr. Marçal Correia. Ao lado ficava o Correio, e era sempre com carinho e palavras amigas que o sr. Albano nos cedia um pequeno escadote com o qual nos possibilitava a colocação da correspondência, na caixa do correio, suspensa no da porta, onde a nossa altura e idade ainda nos não permitia chegar doutra maneira. A “Botica” nesta época, era um local de reunião para as pessoas gradas da nossa terra, que o sr. Albano recebia sempre com muito agrado e afabilidade. Fino no trato, recto em todas as suas acções, irradiava confiança e simpatia em todos com quem comunicava. Católico ferveroso, procurava pôr sempre em pràtica a verdadeira doutrina cristã: o amor do próximo e e aceitação do dever.
Na sua “Botica” não só minorava as dores físicas, com os seus xaropes, pilulas e hóstias, que ele magistralmente manipulava, pois ainda então não havia especialidades farmacêuticas, como mitigava os males do espírito com as suas sábias e boas palavras. Era rara a pessoa que lhe não pedia conselho, chegando por vezes a ser juiz em questiúcuas familiares, pois as suas palavras eram aceites, pelas partes, sem qiualquer contestação. É que todos sabiam que a sua bondade era incomparavel com qualquer injustiça. Contaram-me um dia, que um casal, numa das suas altercações familiares, tanto o marido como a mulher, sem saberem um do outro, o tinham procurado a pedir conselho. Em casa a mulher, nas suas recriminações, afirmara ao marido: - Olha, que até o sr. Albano me deu razão: - Também a mim, retorquiu logo o marido, admirado... Eapós breve silêncio, ambos os conjuges caíram nos braços um do outro!
Tinham reconhecido a boa intenção do sr. Albano em restituir a paz ao seu lar. Homem bom e culto, a toda a gente tributava respeito e estima. Ricos e Pobres, novos e velhos, lhe retribuiam a sua grande amizade, com muito respeito. E quando a lei da morte “roubava a vida” a qualquer salvaterrense – homem ou mulher, a sua presença lá se encontrava nunca deixando de acompanhar, com fato de cerimónia, o falecido/a, até à sua última morada.Quantas vezes o vi, envergando fraque, o chapéu de coco e de bengala, em passo resguardado, em sinal de respeito por quem tinha deixado este mundo dos vivos. Um tempo antes do enterro, inteirava-se do viver da pessoa, e no cemitério, após as encomendações do padre, o sr. Albano usada da palvra, fazendo um elogio funebre do morto. Era um hábito, que nos tempos que correm desapareceu!.
À palavra escrita dedicou muito do seu tempo e saber, colaborando em diversas revistas e jornais da época, com o pseudónimo de “Alberto Caldeiron”, assim o fez quando da visita que arqueólogos mundiais, fizeram a Muge. Escreveu um livro “O Homem Fóssil”.Foi um dos fundadores do Montepio Salvaterrense, e por mais de uma vez fez parte da câmara como vereador, cujos interesses defendeu com raro zelo e imparcialidade perante os cidadãos.Enviuvou de D. Amália Augusta Wirtho Gonçalves, e faleceu a 13 de Janeiro de 1932, sem deixar descendência, pobre de bens materiais, mas rico de bens e virtudes de espirito, que por todos distribuiu com generosidade. Por isso o seu funeral traduziu uma verdadeira e grande manifestação de pesar de toda a população de Salvaterra de Magos e arredores. Os campos, nesse vida não tiveram trabalhadores. Nem a distância do tempo, deixam de guardar na memória daqueles que viveram e conheceram aquele bom homem.
À margem daqueles que, por vezes caminham à margem dos princípios da moral e da justiça, e do amor do próximo, e só fazem alguma coisa (quando fazem) para satisfação de caprichos ou vaidade – aqui deixo esculpida, no mármore branco e frio que cobre a sua sepultura no cemitério de Salvaterra de Magos, o epitáfio seguinte:
“Aqui, Repousa um Justo! Honrai a sua memória, imitando as suas virtudes”
Nota: O Artigo agora transcrito, bem como a foto encontram-se originalmente nas páginas do Jornal “Aurora do Ribatejo” – edições, que depois de encadernadas, ofereci à Biblioteca Municipal de Salvaterra de Magos
JOSÉ GAMEIRO
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