Texto: modificado e aumentado em 3.9.2012 - 20,00 horas
Poucos anos depois da segunda guerra mundial ter acabado, a população mais “desinibida” de Salvaterra de Magos, apreciava tomar os seus banhos de verão nas refrecantes águas do Tejo, e fazer os seus petiscos, aproveitando as sombras, de algumas pinheirocas de grande porte, junto ao antigo cais da Palhota. Era ali a Praia dos Tesos!... Este local, ficava próximo da Quinta das Botelhas, onde o seu proprietário; Virgolino Torroaes, cultivava uma espécie de vinha, que lhe dava uva, para fabricar os seus famosos vinhos licorosos, entre eles o "Toiro Real".
As cheias naquele tempo continuavam ciclicas nos invernos cuja chuva durava meses. O rio Tejo, sempre revoltoso, fazendo movimentar as areias das suas margens, mostrando aqui e ali grandes areais, nos dias calmos de verão, que podiam ser aproveitadas para praia.
Na sua margem sul, ali próximo da vila, de Salvaterra de Magos, junto ao “Mouchão da Saudade”, um bom arial, convidada a ser usado como praia fluvial. Para chegar ao local, percorria-se a partir da ponte da vala real, um pedaço de estrada empedrada, descia-se a um caminho de terra, no meio do campo, que ladeava umas pequenas “boiças”, de algumas familias, onde um pequeno poço de um metro de profundidade, dava água suficiente para a sua rega, tirada através de uma picota.
O séc. XX, tinha ultrapassado a sua metade, já havia uma década, os mais abastados continuavam de abalada até à Nazaré e Figueira da Foz, em época balnear, ou para as Termas. Depressa a Palhota, foi substituída como local proferido dos salvaterrianos.
A este novo local, mesmo ali junto ao" Monchão da Saudade", os mais antigos teimavam em lhe chamar Praia dos Tesos. O povo em grande numero, podia usar a sua areia brihante, mostrando cristais, quando o sol estava a pino.
Era uma nova praia fluvial.
Muitos levavam, para além do farnel, os seus apetrechos de pesca, pois o local com alguns “fundões”, e os “Mouchões” à vista, davam uma boa pescaria de peixes do rio, que ainda tinha-os em abundância.
Sendo nós, um jovem naquela época, também lá passavamos alguns momentos de grande alegria, naquelas águas e sombras, do vasto arvoredo, tomando notas num pequeno bloco de apontamentos. Muitos anos depois, em 1975, já com uma Comissão, que chamou até si, os arranjos e a sua vigilância, o povo via e acarinhava as transformações que durou algum tempo, pois anualmente era preciso uma máquina ir até lá, e limpar aquele espaço das impurezas deixadas pelo Inverno anterior. Os membros da Comissão, muito trabalharam, e não deixaram de escolher outro nome para aquele espaço - "Praia Doce" foi o nome encontrado. Fizeram contactos com entidades oficiais, que lhes podessem dar apoio, pois contavam desde a primeira hora com o executivo camarário, na cedência de máquinas e material, para a construção de assadores, bancadas e um pequeno vestibulo para senhoras. Um novo arvoredo foi plantado no local.
Decorriam os arranjos, levados a cabo pela Comissão, em 1976, na colaboração que vinhamos dando já à alguns anos, no Jornal " Aurora do Ribatejo", com redação em Benavente, não deixamos de nos lembrar daquela Praia Fluvial, uma vintena de anos antes e publicamos o texto seguinte:
“ Manhã cedo ainda sob os primeiros raios de sol, que nos vem anunciar um dia de canicula, chegam as primeiras pessoas junto ao salgueiral, mesmo a beijar o Tejo, ainda vazio. Logo se apressam a limpar o terreno, dos pequenos paus e canas, meio apodrecidas pelas àguas de tantos vai e vem, e demais impurezas, que o rio trouxe àquele local, na maré da noite. As suas “coisas” são espalhadas em local escolhido; as cadeiras e mesas portáteis são abertas; o cobertor e talhares são postos em posição de ser servido o pequeno almoço. Muito perto, a escassos metros, algum gado movimenta-se para junto de um pequeno regato, que se aninha nas areias do rio, a fim de se sedentar, de uma noite passada ao relento. Agora, uns atrás dos outros como em fila indiana, começam a chegar os habituais banhistas com os seus amigos e familiares.
Alguns trazem, além dos “farnéis”, apetrechos da pesca (cana,bornal e saca-peixe), afim de se dedicarem ao seu desporto, pois no local a fataça abunda emquantidade. Num ápice toda a zona protegida pelas sombras do salgueiros, que é conhecida pela PRAIA DOS TESOS, está cheia de vozes humanas, que trazem em desassossego aq pardalada que mal tinha acordado.
Nas primeiras horas, os adultos aproveitam para fazer uma colheita de pequenos paus e canas, mesmo ali à mão, a fim de começarem a fazer lume para as suas caldeiradas. Muito perto das onze horas da manhã encontramos algumas criancinhas pelas mãos dos seus vigilantes, que vão para as areias muito brilhantes do rio, que mais parecem cristais, e onde a maré começa a movimentar-se, a fim de aprenderem a prática da natação.
No entanto os mais tímidos choraqm em altos gritos, não só pela água fria, como também pelos grandes “tufões” de água que a rapaziada maior faz com as suas brincadeiras. Quase todos os presentes que no local, se encontram, escolhem a hora do almoço, entre a uma e as duas da tarde, e assim ao som da música e das anedotas entre umas goladas de bom vinho dos campos de Salvaterra, a camaradagem é excelente e já ninguém se lembra da semana que findou.
Pela tarde dentro uns dormem a sesta, outros brincam na areia da praia com jogos de bola; outros ainda vão continuar na pesca, enquanto as moças se estendem na areia afim de bronzearem a pele num corpo a despontar para a vida.
Depois do lanche e já com a noite a fazer negaças ouvem-se os motores dos muitos automóveis, motos e motorizadas, a emprestar ao local um ambiemte, que até ali era calmo e sereno, como a lembrar o quotidiano, que os espera no dia seguinte. Os últimos a abandonar o ambiente calmo das aprazíveis àrvores, e da água transparente do rio, são aqueles que se fizeram deslocar a pé.
Na enconta do“Mouchão da Saudade”, os milhares de buracos, até ali despovoados, são dos Milharós, passáros que que vão voltando aos seus ninhos.
No rio, já com a maré em pré-mar, ainda se vêm alguns nadadores, tentando apanhar o tempoque se lhes escapa, fazendo dentro da zona balizada e em segurança, algumas palhaçadas, como que a despedirem-se até ao próximo domingo”.
Salvaterra de Magos, 8 de Junho de 1976 ****** José Gameiro
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Esta divulgação através daquele semanário, teve o condão de alargar o conhecimento da existência daquela praia, passando a ser conhecida em todo o país, e de trazer ao local, outros utilizadores, que procuravam ali um espaço de lazer e vereaneio. Em 1978, já os bombeiros com uma ambulâmcia e material de primeiros socorros, permaneciam no local, e exploravam um pequeno bar.
Os latões de lixo, eram recolhidos todas as segundas-feiras, pelos serviços municipais e os assadores eram preparados para a semana seguinte.
O pessoal de algumas firmas, dos arredores de Lisboa, vinham até à Praia Doce, para os seus convívios. Depressa o Campismo desordenado, e a presença permanente de um grupo de familias da etnia cigana, levou ao conflito dos utentes semanais, que foi deixando de frequentando a praia. Foi uma chaga, que levou a que um proprietário vizinho, tenta-se obstruir o seu acesso, vedando a passagem, chegando mesmo ao corte dos salgueiros, situação que se passou em 1983.
Os autarcas, por volta de 1995, continuaram a apostar, naquele local que o povo já tinha eleito para os seus tempos de vereaneio, tendo melhorado o local, com espaços para estacionamento, melhorando as casas de banho. E todos os inicios de época uma máquina, continuava a ir ao local, limpar os lodos, ficando as areias em condições de serem usadas.
Anos depois, em 2004, aproveitando o programa comunitário - Valtejo, outros autarcas, fizeram obras de requalificação, que segundo dados divulgados, orçou em 130 mil euros, onde apareceram umas construções em madeira e espaços para o estacionamento automóvel. desenhados no chão, em cimento.
O chamariz dos utilizadosres, em tempo de vereaneio, nunca foi feito em grande escala. Tudo foi deixado ao deus dará!... Últimanemte, quando da limpeza civica que se fez em todo o país, um grupo de individuos que estudam o eco-sistema, especialmente a fauna – especíes de aves, que habita a zona, estiveram lá dando o seu contributo na limpeza. A Praia Doce, como fim turistico, não se encontra sinalizada, nos vários pontos da vila de Salvaterra de Magos.
A muita erva, a falta de conservação do espaço, leva ao vandalismo, afastando os banhistas daquele aprazivel lugar, não os cativando, pois está num absoluto desleixo.
JOSÉ GAMEIRO
Nota: Fotos 1 - Terreno e Praia Fluvial * Vedação do acesso à Praia e Salgueiral cortado * 2 - Construções em madeira, construídas em 2004 * Construções vandalizadas 2012
Nota: Ver o Posts Nº 14 - Recordações na Praia dos Tesos (Agora Praia Doce) - 02 de Dezembro de 2007
Soubemos hoje de manhã, que o 18 ia a enterrar. A nossa espera à porta do cemitério de Salvaterra de Magos, não foi longa, lá ao fundo avenida abaixo, lá vinha o carro funerário, com um pequeno séquito de familiares e amigos. Fomos ao seu encontro e incorporarmo-nos no cortejo fúnebre, e no sllêncio destas ocasiões, veio à nossa memória, momentos que vivemos juntos, na nossa meninice.
José António Damásio Lapa, que viveu 70 anos, acabou os seus dias, amparado a uma bengala, no Lar da Misericórdia local, depois de um AVC, que lhe tolheu os membros, por volta do ano 2000. Nesta altura, deligenciei, que o já desaparecido Jornal Vale do Tejo – JVT, publica-se uma entrevista com ele.
Nunca me esquecendo dele, voltei em 2008, a incorporar um post sobre a sua vida, cheia de agruras neste blogue, pois fazia anos que em 1979, tinha sido galardoado com uma medalha e diploma de merito, pela sua assídua oferta de sangue. Foi um altruísta!...
Aqui fica, uma lembrança e última homenagem, ao “zé António”, respingando do cartão fúnebre, que uma sua familiar me fez chegar às mãos, na hora da sua sepultura.
Foi um acto religioso singelo, mas cheio de emoção, onde os olhos dos presentes, disseram UM ÚLTIMO ADEUS!... O sacerdote, que desejou fazer as exéquias finais, era um dos nossos companheiros de brincadeiras de crianças.
“Não chorem, pois ninguém morre quando permanece vivono coração de alguém. Amigos, eu parti tão de repente que não tive tempode me despedir de vocês. Agradeço, tudo o que fizeram por mim, Deus não tem hora determinada para nos levar. Terminei a minha missão e voltei para o Senhor. Nele tenho a certeza de que encontrarei vida nova...”
Para que conste neste preito de amizade, não esquecemos o post, publicado em 8 de Novembro de 2008 “ O Dezoito, Deu Sangue!...
JOSÉ GAMEIRO
Nota: Algumas figuras públicas – Livro Nº 8 da Colecção Recordar, Também é Reconstruir.
Fotos do autor.
Portugal, ainda vivia anos conturbados, nos primeiros tempos da implantação do regime republicano. Em 1926, Salazar ainda que por poucos meses tinha estado como Ministro Finanças, a chefiar o Ministério, mas foi em 1930, que assumiu por inteiro a liderança de todo o Governo e as transformações económicas e politicas, no país começaram a ter lugar.
Corria o ano de 1931, Salvaterra de Magos, pertencia à província da Estremadura. Era um pequeno concelho classificado de 3ª classe e fiscal da mesma ordem. Estava centrado na bacia hidrica do rio Tejo, de onde recebia a sua riqueza económica, pois era uma povoação predominante rural, com seu povo mantendo as características puras do homem do campo, onde os trajes e as danças tinham parecenças com todo o povo rural da Lezíria.
Eram hábitos que vinham de séculos, desde o seu povoamento, trazidos por gente que veio de Flandres, sul da França. A Planície, insulada pelo rio, em tempos de agonia e tristeza, que também lhe trazia a fertilidade que lhe davam a riqueza em época de semeadura e colheita.
A vila, tinha cerca de 4.500 habitantes, e todo o concelho 9.500, a sua localização, estava distante 30 Kms da cidade de Santarém, que era o seu distrito, mas a religião católica pertencia ao Patriarcado de Lisboa, com S. Paulo como Orago da freguesia.
No campo do foro judicial. o Dr. Alberto F. Barreiros, tinha escritório na Praça da República, da vila, esgrimindo os conflitos da sua clientela, no tribunal de Coruche, a que pertencia o concelho de Salvaterra de Magos.
Naquela época, as vias de comunicação, faziam-se por caminhos rudimentares. Logo a seguir à Ponte da Vala Real, ainda se viam vestígios da "Estrada do Meio", caminho atravessando o campo e a ponte de madeira, lá para os lados do Paul de Magos, até à saída de Almeirim, com o alto de Santarém à vista. Uma barcaça, em tempos recuados serviu de passagem entre as duas margens.
Agora, para chegar a esta cidade usava-se o caminho de acesso à estação de Muge, e por esta vila e freguesia, passava-se Benfica do Ribatejo e Almeirim, atravessando a Ponte em ferro, construído no reinado de D. Luiz.
Para Lisboa, o caminho foi o mesmo do Convento, aproveitando-se as terras do campo, com passagem do rio através de um Cais/pontão, para Vila Franca de Xira, onde o comboio, completava a viagem até à capital do país. Agora, também se utilizava o acesso a Benavente, pelo seu lado norte, pelo Calvário, por uma ponte em madeira, depois de se atravessar a densa mata do Gaspar Ramalho, seguindo-se a caminho de Samora Correia, por último a recta do cabo, no Porto Alto, Vila Franca e o Pontão ficavam à vista, uns kns de distancia.
O caminho de ferro, também tinha no Setil, um entroncamento de vias, que recebia os passageiros e mercadorias das estações de Muge e Marinhais. A população há muito tinha passado a viajar de camioneta da carreira, da Empresa de Viação Salvaterrense, explorada pela família Torroaes, na pessoa de José de Sousa Torroaes. O transporte em diligência, era já uma recordação do passado. Os barcos fragateiros, que tinham em Salvaterra, um grande cais de movimentação de mercadorias, para no Tejo, de e para Lisboa, Barreiro e Setúbal.
Na sua navegação, também iam rio acima, depois de passarem a Ribeira de Santarém até Constância. Entre as dezenas de embarcações de grande carga, dois pequenos barcos apropriadas para carreira (transportes de pequenos volumes, servindo o comércio e a indústria), chegavam a trazer embalagens com destino ao Alentejo: Évora, por Coruche, Couço e Mora, faziam duas vezes por semana o destino de Lisboa. Nestes pequenos barcos, um da família Roberto da Fonseca, e outro de Manoel Catharino, o povo de parcos recursos económicos, pedia “boleia”.
De outras comunicações, estava Salvaterra bem provida. Uma primitiva estação de correios e telégrafos, na rua Machado Santos, sob a chefia de Celeste Filippe da Silva, com um distribuidor de cartas; João Ignácio Serra Faria e um Guarda-fios; Paulino de Oliveira.
Sendo a estação de 2ª classe, mudou mais tarde para um antigo edifício manuelino, próximo da capela real, alargando os seus serviços nas áreas das encomendas postais, valores declarados e à cobrança. No campo social, Salvaterra de Magos, tinha escolhido para feriado municipal no concelho, de acordo com os seus hábitos rurais, a Quinta-Feira de Ascensão. Era neste dia que toda a população rural e urbana, se juntava, no campo e em ambiente familiar , gozavam a passagem do dia. Os lavradores, em ambiente de grande confraternização, não deixavam de pagar os petiscos e bebidas dos seus assalariados, e no final do dia, em alegres cantorias, no regresso a casa, as moças, faziam um ramo de espigas de trigo, cevada e centeio (cereais já maduros na época) a que juntavam papoilas e outras flores que já abundavam nos campos, guardando em casa para renovação no ano seguinte. A sua Feira Anual, tinha lugar no 3º Domingo de Maio e prolongava-se até quinta-feira seguinte. Além das diversões, as bancas de quinquilharias, calçado e roupas., as fotografias de família, tiravam-se aí em barracas especializadas, pois seria uma recordação para o resto das suas vidas. Naquele tempo de transacções, aí comprava-se e vendia-se produtos agrícolas, como as cabeças de gado. O suíno, a cabra e ovelha, sendo muito procurados, pelas gentes Foreiras; de Marinhais, Glória e Foros, levou a que o executivo da camara municipal, na época chefiada pelo Administrador José Eugénio de Menezes, que tinha como chefe de secretaria e secretario; Calor Novaes Barreiros, assessorados pelos Amanuenses; Júlio Cesar da Silva e Miguel de Sousa Ramalho. A tesouraria, estava a cargo de António Emiliano Garrido da Silva e o Continuo: Joaquim Lopes. O chefe do executivo, ponderou uma exigência feita, para o início de um Mercado mensal, em Marinhais. Tal decisão, foi obtida anos mais tarde, deixando-se de realizar na sede do concelho, o negócio do gado.
A vila de Salvaterra, estava bem provida de artesãos. Havia mestres-carpinteiros com oficina para construções urbanas e feitura de carroçaria. Operários credenciados como: António Henrique Alexandre, Carlos Almeida, Manoel Cordeiro, Vicente Augusto Ferreira, eram os mais solicitados.
No aluguer de Carroças e Charretes, estas tirantadas a um ou dois animais; Augusto da Silva, Bernardino da Silva, José de Sousa Torroaes, Francisco da Thomázia, Francisco Tabaco e Victorino Miguel, alugavam estes meios de carga e transporte. Os Ferreiros, como: António Fungão, Francisco Gonçalves, João Augusto Borrego e José Sabino de Assis, encarregavam-se da construção de veículos, onde o ferro entrava, também se encarregavam na feitura de portões e de alfaias agrícolas. Foram artesãos que deixaram a sua arte, nos desenhos da ferraria, que ainda pululam nas varandas das ruas da vila antiga.
Na confecção da roupa, para além das Costureiras que vestiam o povo, no seu traje peculiar, existiam os Alfaiates; Constantino da Silva Gomes, Manoel Codima e Manuel Mendes dos Santos, para as gentes da urbe.
Os Barbeiros; sendo considerados industriais, tinham porta aberta; António de Sousa Marques, Cesar Augusto, José Miguel Borrego, Justiniano Dias Valente e Pedro de Sousa Marques. A clientela rural, era atendida à segunda-feira, pois era nesse dia que ainda estava na vila, depois do regresso do campo, após uma ausência de 15 dias ou um mês.
Os artesãos-sapateiros, fechavam portas para descanso à segunda-feira, enquanto o comércio tradicional, tinha descanso às quintas-feiras. Os lavradores da vila e Foreiros, para ferrarem os seus animais de carga, recorriam aos serviços dos Ferradores; António Marques e Manoel Caetano Doutor. Os Bancos e Seguradoras, como o Crédito Agrícola estavam bem representados, na vila de Salvaterra de Magos, assegurando à população com agências, numa constante actividade económica. O Banco Comercial do Porto: Roberto & Roberto – Banco de Portugal, Banco Borges & Irmão e Portuguez e Brasileiro; Gomes Leite * Seguros; Alliance: Roberto da Fonseca Júnior, Commercio e Industria: António Emiliano Garrido da Silva Lisbonense; Francisco Maria Gomes Leite. A Caixa de Crédito Agrícola Mutuo, satisfazendo uma necessidade constante junto da lavoura, tinha nos seus órgãos constituídos; José Eugénio de Menezes (Presidente), Roberto da Fonseca Júnior (Secretário), Henrique Avelar da Costa Freire (Tesoureiro).
Fotos: Rua do Calvário, ano 1931 * Diligência de Transportes Públicos, tirantada a dois animais * Grupo de Carroceiros * Ferrador - António Ferreira Cipriano
Nota: In – Publicação “Anuário Comercial de Portugal – Ano 1931”
Texto original para este Blogue:
JOSÉ GAMEIRO
Este espaço, o nosso espaço, tenta preocupar-se em publicar “coisas” que pertenceram/ou pertencem à história da nossa terra – Salvaterra de Magos. Nos últimos tempos, ouve-se pelas esquinas, isto cada vez está pior, são comentários de reprovação – Ná!... Isto não anda bem!... Os Jardins e outros espaços públicos não estão cuidados. Vou juntar aqui também a minha preocupação, aliás é uma obrigação de salvaterriano/eleitor.
Ná!... Isto não anda bem!...
Aqui há uns 70 anos com os recursos existentes na época, tentava-se dar beleza aos poucos recintos públicos existentes da vila. A sua principal avenida, depois de deixar de ser rua do Calvário, sofreu uma urbanização (muitas vozes criticas se ouviram, para quê uma rua tão larga!... Agora, nos dias que passam, é um “inferno de movimento automóvel – são sinais do nosso tempo Ainda bem, que tem espaço para o transito, digo eu. Os seus grandes canteiros, tinham árvores, relva e flores. Quem não se lembra disso!...
Os ciclos eleitorais, passam depressa. Novos autarcas vão chegando com novas ideias, há que pô-las em prática, é assim e será assim – as mudanças são necessárias. Logo, deixa-se de ouvir o povo, que aliás lhe dá mandato para o representar.
Ná!.... Isto não anda bem!....
O “velho” jardim, da Praça da República, construído por volta de 1892 (existe um igual/ ou parecido, da mesma época, em Almeirim), foi destruído em 1957, só numa semana, por dois trabalhadores camarários, e ainda por cima usando a força braçal - à marreta.
Era intenção dos então autarcas, modernizar aquele espaço. Tantas voltas lhe têm dado ao longo dos anos, que não há meio de atinarem no desenho.
Ná!... Isto não anda bem!...
O povo confiou neles, os autarcas não têm sido “chamados à pedra”, mas foi de ver as bonitas Tílias, desaparecerem no Largo dos Combatentes, que pela primavera/verão perfumavam as ruas/habitações da vila, para recordação, ficaram apenas três.
Os canteiros da avenida, Dr. Roberto F. Fonseca, foram encurtando espaço, a pedra da calçada tirou-lhes o lugar. Nem os troncos/raízes das antigas árvores foram tirados. Foi uma lindeza de decoração que ficou. As novas urbanizações, tiverem direito a espaços ajardinados. Os serviços camarários, agora são poucos, o serviço de água foi extinto, deu-se primazia a uma empresa, onde se associaram vários municípios e a água passou a ser paga. Os contadores, agora são como colmeias de abelhas.
Ná!.... Isto não anda bem!...
Estamos constantemente a ler notícias, quer na comunicação social, quer nas páginas das redes sociais, o desagrado de ver canteiros sem flores, relva sem água, espaços onde a erva cresce a esmo. Não existe interesse em alindar a vila. Se estivéssemos em tempo de novas eleições autarcas, era um ver se te avias, tudo limpo e muitas promessas feitas. Este ciclo eleitoral está a chegar ao fim, um novo se aproxima. É isso mesmo, comenta-se à mesa dos cafés., a crítica é intensa, mas não passa disso mesmo.
Na altura do voto, continuamos a confiar nos mesmos!....
JOSÉ GAMEIRO
Em 1970, continuava eu, a escrever para o “Aurora do Ribatejo”, com sede em Benavente,. A quantidade de NOTICIAS publicados sobre Salvaterra de Magos, e o seu concelho, davam para encher uma página. Um dia, o diretor convidou-me para dirigir a página de fecho daquele semanário que pensava usar com o titulo Jornal de Salvaterra. Não me achando capaz de tal responsabilidade, convidei José António Teodoro Amaro, que de pronto aceitou, desde que eu não me afasta-se. Foi sol de pouca dura, uns meses depois tive de angariar um outro nome.
A escolha recaiu no Dr. José Asseiceira Cardador. Era pessoa, interessada nas actividades culturais da vila, sendo professor, tinha já sido vereador municipal e periodicamente escrevia para o jornal. Também tive azar, pois a colaboração não aparecia a tempo e horas. A página dedicada a Salvaterra, que tão importante era naquela altura, caiu de vez nos meus braços, enquanto durou. No tempo em que decorreu a direcção de José António Amaro (Tamaro), assinalava-se o 50 aniversário da inauguração da Praça de Toiros. Uns dias antes lá fomos nós, até ao Grémio da Lavoura, onde trabalhava,
José Luís das Neves, único membro ainda vivo, da Comissão, que construiu a Praça de Toiros, que nos concedeu uma entrevista para aquele semanário “Aurora do Ribatejo”. Agora, porque estamos novamente em tempo festivo, assinala-se no dia 1 de Agosto de 2012, 98 anos, da data da inauguração do tauródromo, que passou a ser um ex-libris da vila de Salvaterra de Magos. O tempo urge, porque não sei se acompanhe os festejos do seu centenário, aqui transcrevo a referida entrevista que José das Neves nos concedeu - a Tamaro e a mim. “1 de Agosto de 1920 – Um grupo de salvaterrenses viu transformado em realidade um sonho de 2 anos; uma Praça de Toiros! Justo é, na comemoração da efeméride, que o jornal de Salvaterra dê aos seus leitores alguns dados históricos da obra. Para isso, contactamos o único membro da Comissão Construtora, felizmente ainda entre nós e de boa saúde, o senhor JOSÉ LUIS DAS NEVES. Fomos encontra-lo à sua mesa de trabalho numa sala do rés-do-chão, do Grémio da Lavoura, e entre guias de entrega de sementes, dispôs-se amavelmente a transmitir as suas recordações. “ A ideia da construção da Praça surgiu no meu estabelecimento de mercearia e vinhos, situado na Rua Direita, onde mais tarde existiu uma mercearia pertencente a Manuel Xavier da Silva”. – “Pensamos na sua construção por inveja da que havia em Benavente. Quando em 1918 depois de assistir à inauguração alguns aficionados se juntaram na minha loja e mostraram “ferro” por estarmos tão atrasados em relação aos vizinhos ali mesmo foi decidido que teríamos dentro tempo uma praça melhor que a deles”. O soco na mesa que frizou as últimas palavras, deu-nos a medida certa da vibração que ainda produz no nosso entrevistado a recordação a recordação da cena passada em 1918, num estabelecimento da Rua Direita. – “E olhe que realmente ficou melhor”, continuou o sr. José das Neves que não tivemos coragem para interromper, construída em alvenaria, enquanto a de Benavente era de adobes e desapareceu pelo tremor de terra, enquanto a nossa está ali que se vêr”.
– “O grande problema como deve calcular”, foi o arranjar dinheiro”. - “ Depois de se conseguir por intermédio do então Ministro do Comércio, Jorge Nunes, que a madeira necessária fossa oferecida pelo Estado e cortada no Escaropim, o dinheiro para o resto foi conseguido com ofertas: dois tostões deste, três tostões daquele, um cruzado do outro, foram as migalhas que juntas a ofertas maiores formaram74 contos de réis e picos que custou a nossa praça”. – Quais foram as maiores e menor oferta em dinheiro que conseguiram para a construção? Perguntamos. - “ Olhe, se não me falha a memória, a maior foi do sr. Porfírio Neves da Silva, que ofereceu um conto de réis, que na altura era uma quantia choruda e a menor… – “O sorriso do nosso entrevistado faz-nos antever uma revelação sensacional – “foi do sr.José de Menezes que ofereceu 500 mil réis para não pensarem mais nisso”. - Pessoa amiga fez-nos chegar às mães meia dúzia de fotografias que sopunha serem da inauguração da praça e pedimos ao sr. José das Neves que as identificasse: Eram realmente da corrida inaugural e com uma lágrima teimosa a querer fazer das suas, lá nos indicou o sr. Roberto Jacob da Fonseca, inteligente da corrida; os srs. Henrique Avelar da Costa Freire; Porfírio Neves da Silva, João Oliveira e Sousa; João Vasco, Silvio Moiro, Administrador; Manuel Doutor, corneteiro da corrida; Henrique José Martins, farmacêutico e animador do “Grupo do Ti Martins” que se dedicava a patuscadas. Fernando Luís das Neves, pai do entrevistado, enfim um nunca mais acabar de recordações.
– “Olhe, este aqui de chapéu sou eu”. José das Neves, mais à vontade e visivelmente emocionado abre por sua vez o seu armário de recordações e mostra-nos jornais da época, programas das corridas e como curiosidade uma folha de férias: - “Os pedreiros ganhavam entre 15 e 17 tostões e os serventes entre cruzado e oito tostões, e nessa semana 36 operários trabalhando 7 dias receberam 234.710 réis (dois dias de ordenado dum pedreiro de 1970). – “Um exemplar do jornal “A Elite” chama-nos a atenção por na página 2, numa lista de 11 nomes, 10 terem à sua frente uma cruz “É que todos esses já morreram, só eu ainda cá estou”, explica o nosso entrevistado, dizendo seremos componentes da Comissão Construtora da Praça. “ Neste aqui já não serei eu, a por a cruz, disse apontando para o nome.” Eram o Pedro Sousa Marques, Luiz Gonçalves da Luz, Augusto da Luz, Carlos Alberto Rebelo, Francisco Maria Gonçalves, Augusto da Silva, Manuel Lopes Gonçalves, Francisco Morais, António Henriques Alexandre, Augusto de Almeida, José Luiz das Neves, um grupo de 5 operários, 4 comerciantes, 1proprietário e 1 industrial de barbearia. -“ A Comissão organizadora das corridas eram composta por: António de Sousa Vinagre, Dr. Armando de Sousa Calado, Dr. Roberto Ferreira ad Fonseca, José Rebelo Andrade, Henrique Costa Freire. - Mostrando-nos o cartaz disse: Actuaram nesta 1ª corrida: Cavaleiros; José Casimiro e Adolfo Macebeiro Tomé, Vital Mendes Francisco Rocha, Mateus Falcão e Manuel dos Santos, da Golegã. – Forcados; comandados por Manuel Burrico. Os 10 touros foram generosamente oferecidos pela ganadaria Roberto & Roberto. - “Não, não entregamos logo a praça à Misericórdia”, afirma em resposta a nova pergunta. “ Durante um ano e tal organizamos toiradas e vacadas para arranjar dinheiro para pagar as dívidas que ainda havia”. – Nesse tempo era tão fácil organizar corridas como fumar um cigarro… Não havia tantos papeis e tantas coisas a tratar e quando pensávamos fazer, fazíamos”. - “ Além do mais, não queríamos que aparecessem no Hospital contas a pagar por despesas que nós fizemos. A praça foi entregue livre de todos os encargos”. - “Sabendo o que lhe custou na obra, se voltássemos a 1918, faria parte da Comissão Construtora da Praça?
Perguntamos pela última pergunta. “Apesar das muitas canseiras e do trabalho que tive, se voltasse atrás fazia exactamente o mesmo, juntava-me às mesmas pessoas e construíamos a Praça que está ao cimo da avenida. Não dou por mal empregado o tempo que me ocupou”. - O nosso entrevistado é interrompido e chamado à realidade pelo “interfone” (tubo com 2 bocais – um para ouvir outro para falar, metido na parede que liga a sala onde estamos com o 1º andar), perguntam-lhe assuntos de serviço, fazendo-o voltar a 1970. Já na mesa observa mais uma vez que lhe trouxemos. Abre a gaveta e pega numa lupa; “Este esteve muitos anos em Lisboa…. Estoutro foi para Muge… A mulher do Luiz Caleiro tem ainda a mesma cara….” Dizia em última análise, revivendo os 27 anos que tinha em 1920.
JOSÉ GAMEIRO
Nota:Fato histórico, descrito no Apontamento Nº 05 – Misericórdia de Salvaterra de Magos e no Nº 18 – Inaugurações e Homenagens da Colecção “Recordar, Também é Reconstruir” - Livro: Subsídios para a História da Tauromaquia em Salvaterra de Magos – publicado em PDF no Blogue: “www.historiadesalvaterra.blogs.sapo.pt” * Cópias dos Cartazes (1º e 2º dia) da inauguração encontram-se expostos na sala de reliquias taurinas, do Rest. João da Quinta - uma oferta do autor
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. SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DOS FOROS DE SALVATERRA
. SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DA TAUROMAQUIA EM SALVATERRA DE MAGOS - SÉC XIX, XX, XXI
. HOMO TAGANUS (AFRICANOS EM PORTUGAL) - CONCHEIROS DE MUGE
. SALVATERRA DE MAGOS - VILA HISTÓRICA NO CORAÇÃO DO RIBATEJO
. CLUBE ORNITOLÓGICO DE SALVATERRA DE MAGOS - A SUA HISTÓRIA
. A TRANSPORTADORA SETUBALENSE
. ÁRVORE GENEALÓGICA DAS FAMÍLIAS BASTOS FERREIRINHA E LOPES (materno)
. ÁRVORE GENEALÓGICA DAS FAMÍLIAS CANTANTE, SILVA, NEVES, TRAVESSA E GAMEIRO (paterno)
. SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA HISTÓRIA DA MISERICÓRDIA DE SALVATERRA DE MAGOS
. SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA - BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE SALVATERRA DE MAGOS - 2ª EDIÇÃO
. PALÁCIO DA FALCOARIA - FALCOARIA REAL DE SALVATERRA - 2ª EDIÇÃO
. A VILA DE SALVATERRA DE MAGOS - 2ª EDIÇÃO
. OS DIAS QUE SE SEGUIRAM AO 25 DE ABRIL DE 1974 - 2ª EDIÇÃO
. RESENHA GENEALÓGICA DESCRITIVA - FAMÍLIAS FERREIRA ROQUETTE & BRITO SEABRA
. OS IRMÃOS ROBERTO(S) - UMA DINASTIA DE TOUREIROS - 2ª EDIÇÃO
. GREGÓRIO FERNANDES E SEUS FILHOS, REFERÊNCIAS NA HISTÓRIA DA MEDICINA PORTUGUESA DOS SÉC. XIX E XX
. SALVATERRA DE MAGOS, CRÓNICAS DO NOSSO TEMPO - I VOLUME
. CADERNOS DE APONTAMENTOS Nº 0 - 6 (VOLUME I)
. CADERNO DE APONTAMENTOS – Nº 7 - 13 (VOLUME II)
. CADERNO DE APONTAMENTOS – Nº 14 - 22 (VOLUME III)
. CADERNOS DE APONTAMENTOS Nº 23 – 29 (Volume IV)